O método BLW ou Baby-led Weaning vem se tornando muito popular ultimamente. Baby-led weaning significa “desmame guiado pelo bebê”. Desmame porque a partir do momento que ele coloca uma maçã na boca, tem início o desmame. Mas esse processo pode e deve ser gradual. Em outras palavras, o BLW é uma forma um pouco diferente da tradicional papinha de introduzir alimentos sólidos aos bebês. Muitos o consideram um modismo ou um método acessível apenas para a elite. Mas será mesmo? Qual é a ideia central do BLW? No post de hoje vou contar um pouco da minha experiência com o método e por que ele transformou a introdução alimentar (IA) em um processo muito agradável para todos aqui em casa.

O bebê comanda o processo  Esse é o alicerce principal do BLW. É necessário esperar que o bebê esteja pronto para iniciar a IA. E os principais sinais externos disso são sentar sozinho sem apoio e levar objetos à boca, o que geralmente acontece por volta do sexto mês. Além disso, é o bebê que escolhe o que, quanto e como comer. O papel do cuidador é oferecer alimentos saudáveis, variados, de modo seguro e respeitar o que o bebê deseja fazer com ele, seja amassar, jogar no chão ou eventualmente comer – a quantidade que quiser – e essa parte é especialmente difícil, porque tendemos a determinar o quanto achamos que é razoável pra um bebê comer. Então BLW envolve um certo exercício de desapego em relação ao controle da IA.

Expectativa mínima sobre quantidade  A recomendação atual da Organização Mundial da Saúde é que o leite materno ou fórmula seja o único alimento do bebê até os 6 meses de idade. Além disso, a primeira coisa a se ter em mente na IA, seja pelo método tradicional da papinha, IA participativa ou BLW, é que entre 6 meses e 1 ano, o leite continua sendo o principal alimento. Os sólidos é que são complementares. Isso mudou totalmente minha expectativa de que em poucas semanas meu filho estaria comendo feliz da vida batata, chuchu e cenoura. Pode ser o caso, mas pode não ser. Muitos bebês levam meses pra aceitar algum tipo de alimento que não o leite. Então eu relaxei bastante nesse sentido. A leitura do livro Meu filho não come, do Carlos Gonzalez, me ajudou muito nesse sentido. O bebê não entende que, a partir do dia 1 da introdução alimentar, aquela abóbora que você oferece é comida e que mata a fome. Ele simplesmente vai olhar praquilo com os olhos curiosos com os quais olha pra tudo no mundo. Sim, ele vai achar que comida é brinquedo! E faz parte! Com o tempo (muito pra uns bebês, menos pra outros) ele vai começar a entender que aquilo é gostoso e enche a barriga. Então eu sempre permiti que o Guto amassasse, estraçalhasse, rasgasse e atirasse a comida no chão se fosse o caso. Se ele engolisse algo também, maravilha!

O bebê vai comer a comida da família  Não ter que fazer grandes preparações para oferecer ao meu filho certamente facilitou muito nossa vida. Claro que se ele vai comer a comida da família, essa tem que ser saudável, mas isso nunca foi um problema pra nós. O que mudou um pouco com a IA do Guto foi o ponto de cozimento dos alimentos. No início, tudo tinha que ser bem macio, pra ele poder amassar com a gengiva, já que mal tinha dentes. E até perto de um ano, eu não colocava sal. Então tirava a parte dele da panela e aí temperava pra gente. A questão de oferecer grãos como arroz e feijão deu sim um pouquinho de trabalho. Eu fazia bolinhos na forma de croquete para que ele conseguisse pegá-los, mas, novamente, comia com ele a mesma comida. Nada impede de dar sopa ou purê com a colher se for isso que a família estiver comendo naquele dia. Pro BLW, comer é um ato social, que todos os membros da família (quando é possível, claro) deveriam fazer juntos, ao redor da mesa – incluindo o bebê. Então ele senta com todos e come a mesma comida. Porque logo logo ele vai ver papai ou mamãe comendo algo novo e vai querer, né? Nada mais justo para um pequeno explorador!

O bebê vai comer com as mãos Esse é o aspecto mais visível do BLW. Isso porque o método sugere que a gente ofereça os alimentos em pedaços e não na forma de papinha. Gill Rapley, a pesquisadora inglesa que deu nome ao método, explica que, até alguns anos atrás, era comum que a introdução alimentar começasse aos 3 ou 4 meses de idade do bebê. Nessa fase, ele mal senta sozinho ou leva objetos à boca. Então, a única forma de alimentar um bebê desta idade é por meio de alimentos pastosos em uma colher. Só que atualmente a recomendação da OMS é que a alimentação complementar (leia-se alimentos sólidos) comece por volta dos 6 meses, já que as pesquisas mais recentes indicam que não há benefícios comprovados de uma introdução alimentar anterior a esse período. E nessa idade o bebê já senta e já leva objetos à boca. Portanto, faz sentido oferecer alimentos em pedaços para que ele os coloque na boca, se, quando e quanto quiser. Na verdade, oferecer desta forma dá a oportunidade para que o bebê desenvolva a mastigação e os músculos da face, o que favorece a fala lá na frente. Essa forma de oferecer os alimentos facilitou nossa vida porque eliminou uma etapa no preparo – o amassar ou bater os alimentos e também porque não precisávamos “dar comida” pro Guto, afinal ele comandava o processo praticamente sozinho.

Dar oportunidade ao bebê   O fato de o bebê comer, inicialmente, com as mãos, assusta muitos pais e mães. Ele vai comer assim pra sempre? Os defensores do método explicam que, ao comer desta forma, os bebês têm a oportunidade de desenvolver a coordenação motora fina das mãos. E essa evolução é visível. O processo todo de introdução alimentar é incrível, na minha opinião. Com o passar das semanas, a gente foi percebendo que o Guto foi dominando certos aspectos do processo de comer. Então, lé pelos 9 meses, começamos a oferecer um garfo ou uma colher na hora de comer. Assim como a comida, ele não entendia direito pra quê aquilo servia (assim como o copo de água nas primeiras vezes). Mas, aos poucos, ele foi entendendo que a colher podia ajudar a levar o alimento à boca. Eu deixava a colher abastecida e ele só levava à boca. E, assim, de forma respeitosa e paciente, fomos dando oportunidades para que ele se entendesse com os talheres.

Medo do engasgo  Muitas famílias desistem do BLW por medo do engasgo. Na verdade, o que costuma acontecer com certa frequeência no início da IA dos bebês é o chamado reflexo de GAG. É um tipo de ânsia, quando a comida que tava lá no fundo da boca volta pra frente. Só que isso é um reflexo de proteção dos bebês e é excelente que aconteça. O GAG ocorre quando o bebê empurra muita comida pro fundo da garganta, daí o corpo responde: peralá, volta, volta! E joga a comida de volta pra frente. Isso faz parte do aprendizado sobre quanto de comida devemos pegar de cada vez. E isso não é engasgo e também não é exclusivo do BLW. Engasgo é uma coisa grave, quando a via aérea da criança fica obstruída e não permite a passagem do ar. A criança vai tentar tossir, pode ficar vermelha ou roxa e aí os cuidadores precisam intervir. Só que, novamente, engasgo não é exclusividade do BLW. Pode ocorrer quando uma colherada de papinha é enfiada na boca de um bebê distraído, por exemplo, que não está pronto pra receber a comida ainda. Bebês também esgasgam com leite ou água. Saiba como evitar o engasgo aqui. Há quem defenda que o risco de engasgo pode inclusive ser menor com o método BLW porque como é o bebê que coloca o alimento na boca, existe toda uma prontidão da boca, mastigação, etc., do que quando ele é alimentado por alguém. De qualquer modo, penso que todos os pais e cuidadores devem saber sobre a manobra de desengasgo ensinada pelos bombeiros, não só pra quem faz BLW.

E a sujeira? Certamente a sujeira é o aspecto mais chato do método. Sim, o bebê vai jogar muita comida no chão (veja aqui esse e outros desafios. Tem dias que você vai estar de saco cheio de limpar – de novo. Mas dar papinha também envolve sujeira. Existem várias ideias e produtos no mercado pra facilitar nossa vida – desde babeiro de manga longa, jornal ou plástico no chão até cachorro que vira aspirador de pó – como a nossa lá em casa! Outro ponto que intriga pais que têm interesse no método é como comer na rua. Eu levava potinhos com as comidinhas em pedaços (sempre um pouco mais do que achava que ele ia comer, porque poderia cair no chão), colocava um jogo americano de plástico que eu tinha, babeiro e bom apetite! No final, eu sempre dava uma limpadinha no chão com lencinho e tudo certo. Nenhum garçom me olhou com cara feia por isso, pelo contrário, a maioria achava graça no Guto comendo sozinho!

 

BLW é pra todas as famílias? Certamente não. Por volta dos 6 meses muitas mães estão voltando ao trabalho, então muitas vezes fica complicado introduzir alimentos de um modo não convencional, especialmente se há outros cuidadores envolvidos, como avós, babás, escola. Abrindo um parênteses, licença-maternidade de 6 meses  é curta demais né gente? Se o leite ainda é o principal alimento pro bebê, como essa mãe vai voltar tranquila ao trabalho? Claro que há opções, como ordenha, leite artificial, sair pra amamentar, etc., mas sabemos que na prática é muito difícil. Começar a comer alimentos sólidos é um momento muito sensível pra mãe e pro bebê porque é uma primeira separação entre eles, então não deveria coincidir com a volta ao trabalho. Que tal uma licença-maternidade de um ano?

Existe algum problema em oferecer papinha? Claro que não. Minha intenção com esse post foi esclarecer alguns pontos sobre o BLW e dizer porque funcionou com a gente. As pesquisas sobre o método ainda estão em andamento, mas creio que ele será mais e mais popular no futuro, pois é muito lógico do ponto de vista do bebê e oferece muitas oportunidades de desenvolvimento pra ele. No blog Tá na Hora do Papá você encontra muitas informações de qualidade, assim como um curso on line sobre BLW, que eu fiz e recomendo. Clique na foto ao lado para baixar um guia prático sobre o assunto. Tem também o livro da pesquisadora Gill Rapley que sairá em português em novembro pela Editora Timo. E separei alguns depoimentos de famílias que colocaram o método em prática aqui e aqui.

Bom apetite!

 

 

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