Querida mãe,

Não sei bem como começar esta carta, e a única coisa que me vem à cabeça é: agora, eu entendo.

Agora, eu entendo de onde vieram aquelas palavras de cansaço e frustrações.

Agora, eu entendo o apego às amigas, mesmo as inconvenientes – entendo a sua solidão, ainda que rodeada de pessoinhas. Agora, eu entendo as discussões com meu pai, os pedidos de que ele fosse mais presente pra nós, ainda que eu não sentisse tanto essa falta. Agora, eu entendo.

Agora, também entendo de onde vem esse amor por alguém que nem faz muito por você. Amor por alguém que você visitaria religiosamente toda semana numa penitenciária ou clínica psiquiátrica, levando uma marmita quentinha e um pedaço de bolo congelado, daquele aniversário que ele não pôde ir.

Amor que não permite deixar sofrer, mesmo que isso seja benéfico; não na sua frente, por favor. Amor que, no fundo, não quer vê-los longe, mas quer vê-los feliz, então deixa ir… esperando que voltem todo feriado…

Você foi ainda mais mãe quando eu me tornei mãe. E entre compreender meu novo papel de mãe e reavaliar o antigo de filha, tudo o que eu consigo pensar é: agora, eu te entendo!

Obrigada, mãe. Te amo como mãe e como avó, e te amo através do amor que sinto pela minha filha.

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