Nunca pensei em escrever meu relato de amamentação. Mas vamos lá. Espero que ajude alguém. Engravidei do meu filho cedo, tive ele aos vinte e três anos. Tudo era lindo e novo. Fiz vários cursos de como cuidar, de como amamentar. Comprei todos os aparatos disponíveis no mercado na época. Bomba elétrica e manual, concha, absorvente, pomadas… Fazia tudo que mandavam, esfoliação com bucha, tomar sol pelada, até usar roupas mais crespas para a pele do peito “engrossar”…

Chegou o dia! Quando ele veio louco de fome eu esqueci de tudo que havia aprendido, coloquei ele no peito, que desesperado pegou de qualquer jeito. Uma dor louca! A enfermeira, que era cunhada de uma amiga e estava ao lado, sem pestanejar, arrancou ele, espremeu meu peito e meteu o dedo na boca dele. Logo estava mandando corretamente e bem. Na hora a achei uma grossa, depois vi que se não fosse ela, talvez eu não tivesse conseguido.

Dudu era um mamador nato. Eu optei por livre demanda, então era peito o dia todo. Dudu não passava mais de duas horas sem mamar. Minha produção era enorme, meus peitos cresceram uns três números. O leite jorrava. Ele não dava conta. Então comecei a ter mastite de repetição. Muita febre, calafrios, dores… A bombinha elétrica ou a manual me matavam de dor, a concha e o absorvente não davam conta do fluxo, o peito rachava, fissurava. De nada adiantaram tantos cursos e aparatos. Pensei várias vezes em parar.

Aí fui buscar um banco de leite pra doar o excesso. Confesso que quase desisti por conta da burocracia. Hoje entendo melhor o porquê. Eles mandavam os potinhos, eu ordenhava, congelava e eles vinham em casa pegar. Tudo muito cuidadoso. Logo chegaram os seis meses, a introdução alimentar. Dudu não comia, só queria peito, e também não dormia. Tive muitas mastites, até perdi a conta. Os dentes vieram e ele começou a me morder. Quanto mais eu brigava, mais ele achava divertido. Pensava que era uma brincadeira. Fui até parar no hospital uma vez com muita for e febre. Acordava quase que de hora em hora. Eu estava exausta! Ainda assim continuamos até um ano e quatro meses. Muitas noites sem dormir, papinhas e sopinhas jogadas inteirinhas no lixo, choros, e muita conversa.

Resolvi fazer o desmame total. Viajei com meu esposo e deixei ele na casa dos meus pais. Claro que não aguentei e voltei dois dias depois! Ele estava louco pelo peito, morrendo de saudades. Lá no hotel, conhecemos um casal de obstetras que me ajudou. Eu estava firme na minha decisão. Amarramos meu peito com ataduras, tomei remédio pra secar o leite. Foram noites de muitas lágrimas. Dele e minhas. Três pra ser precisa. De dia conseguia distrair ele, mas à noite, era terrível.

Fizemos daquela maneira horrorosa e abrupta o desmame total. Quase que por milagre, Dudu começou a comer tudo e dormir a noite toda. Hoje, me arrependo muito da forma que conduzi tudo. Não que ele tenha qualquer trauma (eu acho) mas pela forma abrupta e pouco gentil com aquele pequeno ser. Me emociono profundamente (pausa pra lágrimas) com toda essa confusão. Eu amava amamentar. Demais, com todo meu amor. Acho apenas que eu era muito jovem, egoísta, desinformada…

Vivian amamentando Dudu

Dez anos depois engravidei de novo, mais madura, experiente, esclarecida. Não fiz planos, não criei expectativas. Apenas vivi, e quando Gui chegou, peguei ele nos meus braços. Naturalmente, como num passe de mágica, ele encaixou no meu peito e mamou, mamou e mamou. Lindamente! Se eu tirasse ele por um do segundo naquela madrugada, ele abria um berreiro sem fim. Lá pelas tantas chegou a enfermeira com uma mamadeira na mão. “Trouxe um complemento, tá na cara que você não tá dando conta e ele tá com fome”.  “Oi????” Respondi. “Vou te pedir uma vez só e que não se repita porque da próxima não vou ser delicada. O meu peito é mais do que suficiente, você deveria me incentivar a amamentar. Saia do meu quarto!” Detalhe que ela era chefe da lactação!

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Vivian amamentando seu segundo filho, Guilherme

Voltamos pra casa, livre demanda novamente e se eu achava Dudu um mamador, era porque não conhecia o Gui! Mamava o dia todo, a noite toda. Acordava uma média de quinze vezes por noite. Não fiz grandes restrições na minha dieta, ele teve um pouco de cólica, mas deve ter durado uma semana. O sling me ajudou horrores. Seguimos na exclusividade até seis meses, alguns episódios de mastite, nenhum banco pra doar a produção que mais uma vez é absurda. Não consegui usar bombinhas dessa vez, os absorventes me acompanharam até um ano e meio. Roupas molhadas, muita ordenha no chuveiro, lágrimas por tanto ouro líquido desperdiçado… Com oito meses, Gui teve uma pneumonia grave, por conta de um diagnóstico equivocado. Quatro dias de UTI. Sling e peito 24 horas por dia. Não comia nada. E mesmo assim, nem um quilo perdido! Meu peito e eu demos conta, senhora enfermeira!!!

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Vivian e Gui

Gui come pouco, dorme menos ainda e hoje com um ano e dez meses ainda me acorda umas cinco vezes de madrugada pra mamar. Nunca mordeu o peito, pelo contrário, mama fazendo carinho no outro, não pode me ver pelada que quer dar beijo no peito, se eu sentar ou deitar, lá vem ele… E a mamãe? Claro que tem dias que surta! Chora e quer desistir… Mas no geral nem as mamadas noturnas me incomodam, amamento com um prazer louco. Amo ver meu bebê feliz, sentir todo esse amor e aconchego que traz pra ele. E, sinceramente, não me sinto preparada pra desmamar apesar da pediatra achar que já é hora de fazer pelo menos o desmame noturno. Seguimos firmes e felizes! Eu, ele e pepeito como é chamado por aqui!

Enfim, acho que não existe receita, tive dois filhos e amamentei os dois, mesma mãe, mesmos peitos, duas histórias… Nada é igual, cada ser é único. O que é certo com um é errado com o outro. Naquela época, estava convicta da minha decisão, hoje já penso diferente. Quero curtir cada segundo, porque sei que vai passar e vou sentir saudades até dos momentos mais difíceis. Suspiro… Gui vai seguir mamando durante muitos meses ainda, se isso for da vontade dele. Estou feliz e preparada pra isso!!!!! Amo amamentar!!!!

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