Começo este relato dizendo que o nascimento da Alice foi uma experiência maravilhosa para mim, inesquecível. Descobri que tinha uma força dentro de mim que não sabia que existia, consegui uma maior conexão com meu corpo e com certeza, me senti muito mais mulher depois disso. Além da emoção indescritível que foi vê-la pela primeira vez depois de uma descarga enorme de ocitocina!

Só sentindo para saber… Saí de lá já com gostinho de quero mais! Foi um parto lindo, muito tranquilo, sem nenhuma intercorrência.

Porém, foi cheio de intervenções desnecessárias e indesejadas, algumas sem maiores consequências e outras que dificultaram minha recuperação no pós-parto. Mas pior que isso, ocorreram algumas situações de real desrespeito durante esse processo. Vou contar um pouco de como foi essa trajetória.

Gravidez

Quando engravidei tinha a certeza de que queria um parto normal. É claro que uma cesárea também seria muito bem-vinda, caso ela fosse necessária. O que eu não queria de jeito nenhum era cair em uma sem haver real necessidade, como via acontecendo com a maioria das minhas amigas, sendo que quase sempre era por indicação do próprio médico. Então, a primeira coisa que procurei fazer foi encontrar um médico que fosse a favor do parto normal e me preparar para isso. Nessa época não sabia nada sobre intervenções no parto normal, parto humanizado etc. Também não tinha ideia de como o trabalho de parto, essa passagem, era importante para o emocional da mulher. Sempre pensei apenas no fisiológico, de que o parto normal era melhor apenas por ser a hora que o bebê estava pronto, pela melhor recuperação no pós-parto, pelo favorecimento da amamentação, estas coisas. E assim segui com a gravidez, que foi muito tranquila. Trabalhei normalmente, tentei manter uma alimentação saudável, controlei o peso, me mantive ativa, fazia caminhada sempre e fiz aulas de yoga para gestante até a semana dela nascer, o que foi ótimo para a postura, respiração e era uma delícia me conectar com ela durante as aulas! No entanto, como não tinha ideia de como seria o processo real do parto, fui buscar informações. Tinha medo da dor, que tantos diziam horrores (e francamente sou super fraca para dor…), não sabia o que poderia acontecer, quando teria que fazer força, quando ir para o hospital, o que realmente caracterizava indicativo para cesárea, enfim, estava cheia de dúvidas, principalmente do que teria que fazer e de como me preparar para “dar conta” quando chegasse a hora.

Foi aí que descobri o “Despertar do Parto”, que eles tinham um curso preparatório para o parto.

Achei maravilhoso e queria muito fazer, mas no final de semana do curso nem eu nem o meu marido poderíamos (estava de 6 meses na época). Fiquei bem chateada, mas no mês seguinte quando fui lá ver se haveria outro curso antes da Alice nascer, eles disseram que não, mas que poderiam fazer um individual, mais curto, para mim e meu marido. A Helena nos deu o curso, que foi fundamental para que eu me sentisse mais calma, segura e confiante para o parto em si. O problema foi que já estava de 8 meses quando descobri um monte de coisas que não tinha nem ideia que existiam… E pior, quando fui falar com meu médico, percebi que ele realmente era a favor do parto normal, mas cheio de intervenções, bem longe do que seria o humanizado. Ficou claro para mim que as intervenções que ele faria seriam aquelas que ele realmente acreditava que eram necessárias, pois ele é da linha que acredita que é preciso a ajuda do médico para que o parto ocorra bem, ou seja, ele não acredita na fisiologia do parto, que a mulher sabe parir naturalmente. Saí do consultório arrasada, totalmente insegura e na dúvida do que deveria fazer. Eu queria o parto humanizado, mas não sabia se queria mudar de médico. Cheguei a consultar outro médico e fiquei uma semana com uma dúvida cruel se mudaria ou não. Meu marido foi bem companheiro nessa hora, me deu total apoio para qualquer decisão que eu tomasse, inclusive disse que se eu quisesse mudar de médico, ele iria falar com o anterior explicando nossa decisão (o médico era amigo da família e confesso que estava morrendo de vergonha de chegar para ele e dizer que iria fazer o parto com outro, depois de ter feito o pré-natal inteiro e combinado tudo sobre como seria o parto). A essa altura, já estava com 36 semanas, era véspera de Natal e os médicos estavam entrando de férias. Havia dois médicos que faziam esse tipo de parto (conforme me indicaram na época): uma era a Dra. Flávia Maciel que também estava na reta final de gravidez (a Bianca nasceu uma semana antes da Alice, então impossível!!) e o outro médico estava de férias do consultório, mas disse que se no dia estivesse aqui faria meu parto. Enfim, acabei decidindo continuar com meu médico mesmo por várias razões: insegurança, um pouco de pressão familiar e questões financeiras, pois o parto humanizado ficaria bem mais caro e não havíamos nos preparado para isso, principalmente porque tínhamos acabado de mudar de casa e estávamos cheios de contas para pagar… Mas acho que o mais importante para minha decisão de continuar com ele foi que em outra consulta conversei bastante e consegui “negociar” a maioria dos procedimentos, principalmente os que eu julgava que seriam os mais importantes para mim, e ele concordou! Além disso, apesar de não gostar muito do Sinhá, acabamos optando por essa maternidade por ser a que o convênio cobria e porque durante a visita que fizemos eles me garantiram coisas, como o fato do meu marido ficar o tempo todo comigo, que não cumpriram no dia, vou contar logo mais. Bem, depois dessas decisões, segui tranquila para o fim da gravidez. Parece mentira, mas por incrível que pareça não fiquei ansiosa (quem me conhece sabe que sou bem ansiosa), estava bem calma e tranquila, talvez porque não tinha nenhum sinal de que ela nasceria logo e estava passando muito bem. Eu coloquei na cabeça que ela nasceria somente no final de janeiro, lá pelas 41 semanas ou mais! Estava adorando curtir o barrigão. Só torcia para que ela não nascesse nem no Natal nem no Ano Novo, pois, apesar de ser um pouco cedo, corria o risco…

Parto

No dia 8 de janeiro de 2014, uma quarta-feira, fui a uma consulta de pré-natal e o médico disse que a bebê estava ótima, em posição cefálica, mas que ainda não havia encaixado e eu não tinha nada de dilatação (pela primeira vez ele avaliou a dilatação). Minha barriga não estava nem baixa, aparentemente. Até então nunca havia sentido uma contração (nem as de treinamento), cólicas, sangramento, nada, nada, nem um sinalzinho de parto próximo. Ele marcou a próxima consulta para a semana seguinte e orientou seguir vida normal, tudo liberado! Só pediu para eu não viajar e avisar qualquer mudança de quadro. Disse que provavelmente ela demoraria mais uns quinze dias para nascer (o que daria umas 41 semanas), mas que era imprevisível, que eu poderia entrar em trabalho de parto a qualquer momento. Sai de lá achando que iria demorar um bocado ainda para ela nascer, avisei o pessoal da família que seria só para o fim do mês (também para ninguém ficar me ligando e dizendo e aí, não nasceu ainda?!!). Não tinha nem terminado de arrumar os últimos detalhes do quarto da nenê e resolvi deixar para a semana seguinte, afinal naquela semana estava ocupada com a formatura de uma amiga. No dia seguinte, na quinta-feira, andei o dia todo e de noite fui ao jantar de formatura da medicina (de rasteirinha e com o único vestido de festa que me servia…). Comi um monte e dancei (do jeito que consegui) até as 3 da manhã. Na sexta-feira, dia 10 de janeiro, exatamente no dia que completei 39 semanas, entrei em trabalho de parto! O Daniel saiu cedo para trabalhar (nem o vi sair) e quando foi umas 9 horas da manhã acordei com um pouco de dor nas costas. Achei que era porque tinha abusado muito no dia anterior e tentei dormir mais um pouco (com os vários travesseiros que estavam na cama…), mas não consegui e resolvi levantar. Quando fui ao banheiro percebi um pouquinho de sangramento, bem pouco mesmo, só sujou o fundo da calcinha, mas ainda não era o tampão. E vi que a dor nas costas não era só uma dor nas costas, mas eram cólicas, iguais às de menstruação. Liguei para o Daniel e contei a situação: eram os primeiros sinais do tão esperado trabalho de parto! Mas continuei calma e resolvi continuar vida normal, pois o médico tinha avisado que eu poderia ficar mais de uma semana desse jeito. Já estava combinado da minha mãe vir almoçar comigo neste dia para irmos à colação de grau de tarde, então não ficaria sozinha e falei para o Daniel que ele poderia continuar trabalhando, afinal eram apenas cólicas (um pouco mais fortes, conforme passava o tempo). Fiz almoço, minha mãe chegou, almoçamos (comi bem, mas uma comida mais leve, porque vai que o trabalho de parto engrenasse mesmo não era uma boa ideia comer algo muito pesado). E fomos para a colação de grau. Chegando lá, umas duas da tarde as contrações realmente começaram! Doloridas, a barriga endurecia, mas ainda estavam bem suportáveis e espaçadas. Fui avisando o Daniel por telefone. Decidi não ir embora, só se piorasse. Minha mãe foi comigo lá para fora da colação e ficamos no sofazinho que tinha lá. Estava bem confortável, tinha ar condicionado, água, suco e colinho de mãe, que foi minha “doula” durante a tarde toda. Graças a Deus, ela estava bem calma e conseguiu me passar força e tranquilidade na hora. Achei o máximo sentir as contrações. Elas doíam, mas cada contração que vinha eu pensava que era minha filha que estava chegando, que estava cada vez mais perto de nascer! Realmente era como se fossem ondas, que iam e vinham. Mas o que achei mais incrível nesse processo era que entre as contrações eu simplesmente não sentia absolutamente nada, a dor passava completamente como que por um passe de mágica. Lá pelas cinco da tarde elas já estavam bem ritmadas e doloridas, vinham a cada 10, 15 minutos e eu já não conseguia conversar nem fazer nada durante as mesmas. Decidimos passar no consultório do médico para avaliar como estava. O Daniel saiu do serviço e nos encontrou lá. No caminho pedi sorvete para não ficar sem comer! Que delícia, mas não consegui comer muito não, pois já estava com bastante dor. Ao me examinar, o médico disse que realmente eu estava em trabalho de parto e que ela nasceria logo (todos assustamos, como assim, já?!!), o melhor foi a expressão de espanto do Daniel nessa hora… Eu estava com 3 cm de dilatação, ela estava encaixada e o colo do útero estava bem fino, segundo o médico. Ele nos orientou a ir para casa, tomar um belo e demorado banho, arrumar as malas, comer e depois calmamente ir para o hospital. Assim fizemos. Estava muito, muito feliz, curtindo muito o trabalho de parto, andando de um lado para outro pela casa, toda serelepe (entre as contrações), quis até tirar a última foto da barriga, inclusive brincando do Daniel estourá-la… Parecia criança que estava indo para o parque, minha filha estava chegando!! Antes de sairmos de casa, rezamos pedindo proteção a Deus e a intercessão de Maria para que tudo corresse bem e nossa filha viesse com saúde. Assim, seguimos para o hospital. Isso já eram umas 20:30. No percurso, dentro do carro, as contrações já estavam bem doloridas e próximas, mais ou menos a cada 3 minutos, e era difícil controlar a dor sentada.

Lembro que quando estava quase chegando no hospital me conectei com a bebê e pensei muito forte que ela poderia vir, que eu estava preparada para recebê-la com todo amor, independente do que acontecesse.

Acho que foi aí que me entreguei mesmo para o trabalho de parto, pois até aquele momento acho que não estava acreditando muito que ela realmente estava para nascer. Chegando no hospital, me deixaram 40 minutos na recepção esperando! Eu tive que começar a dar entrada nos papéis para a internação em pleno trabalho de parto, pois o Daniel tinha ido estacionar. Isso porque eu tinha feito a pré-internação pelo site e levei um papel com todos os dados possíveis (papel que eles simplesmente ignoraram). Primeiro a recepcionista me deu uma bronca enorme porque eu cheguei lá tomando água de coco! Mesmo eu falando que tinha sido por orientação do médico, ela ficou bem inconformada… Além disso, ela queria que eu passasse pelo plantonista, pela triagem para ver se realmente estava em trabalho de parto (poxa, era só olhar para mim!). Ela disse que não me internaria se eu não passasse. Então, eu que peguei o telefone do meu médico, passei para ela, e só depois que ele falou que era para me internar direto, que ele chegaria daí a pouco, ela aceitou e deu entrada nos papéis como “tentativa de parto normal”. O pior foi que todos ficavam me olhando como se eu fosse um ET na recepção, e olha que eu não estava chorando, gritando, dando nenhum tipo de “piti”. Estava simplesmente em trabalho de parto!!! Com muitas contrações doloridas e bem próximas umas das outras… O mais absurdo é que em uma maternidade, com várias grávidas, só tinha eu em trabalho de parto, acho que foi por isso o espanto. Mas isso não me incomodou muito, só fiquei bem chateada pela demora em me deixar entrar e quando finalmente entrei, estava sozinha, o Daniel ainda ficou lá fora. Eles não deixaram ele entrar comigo, pois ainda faltavam alguns papéis para assinar. E mesmo quando terminou tudo, depois ele me contou que ainda demoraram mais de meia hora para liberarem a entrada dele.

Assim que internei, fui direto para sala de pré-parto (ainda não tinha a sala de parto humanizado no Sinhá), e lá pedi para entrar no chuveiro. Nessa hora, vi que meu tampão tinha saído no caminho para o hospital. Fiquei no chuveiro um tempão e tinha uma santa enfermeira que ficou lá comigo grande parte do tempo, me deu até um banquinho para sentar. Lembro da expressão de carinho dela, apesar de não ter falado muito. Até hoje não sei quem era, mas sua empatia fez toda a diferença naquele momento que estava sozinha e com dor. E que alívio… como melhorou a dor! Não queria sair de lá nunca mais… Perdi a noção de tempo. Não sei quanto tempo fiquei lá, mas teve uma hora que quis sair, tinha cansado de ficar no chuveiro. Já estava até enrugada. Neste momento o Daniel chegou! E logo em seguida, alguns minutos depois, entrou o meu médico. Ele me examinou novamente e viu que eu estava com cinco para seis centímetros de dilatação. Neste momento ele já me encaminhou para o centro cirúrgico e o Daniel ficou na sala de pré-parto esperando. Fiquei bem chateada, pois queria ficar com ele, já tinha ficado um tempão sozinha… mas o médico explicou que ele não poderia entrar antes de eu tomar a anestesia. Achei um absurdo, mas não tive como protestar. Na hora resolvi ignorar tudo de ruim que acontecesse e me concentrar na Alice que estava para chegar, ela precisava de mim inteira, totalmente voltada para ela e foi isso que me deu forças na hora. No centro cirúrgico ficamos esperando o anestesista chegar. Detalhe, ainda não havia pedido a anestesia, ainda estava aguentando as dores, mas como realmente estava com medo do expulsivo, e sabia que não teria nenhum mecanismo não farmacológico para amenizar a dor, não teria doula, massagem, banheira, não poderia escolher a posição para parir, então achei que seria melhor mesmo tomar a anestesia… Mas o anestesista (por sorte) demorou um tempão para chegar. E fiquei andando pelo centro cirúrgico. O médico disse que eu poderia sentar ou deitar se quisesse. Até tentei sentar, mas assim que veio uma contração, levantei correndo, de tanta dor. Achei que de pé e andando doía bem menos e ele me deixou à vontade para fazer o que quisesse. Não foi tão ruim, pois tinha bastante familiaridade com o médico e logo chegou o fotógrafo (do hospital) e o pediatra, e todos ficaram me dando apoio, estava um clima bem descontraído. Neste momento as contrações pioraram, ficaram muito fortes, quase insuportáveis, e comecei a sentir até um pouco de náusea (o médico até brincou que eu era boa parideira, pois sem soro sem nada já estava daquele jeito…). Aí o anestesista chegou e tomei a anestesia, a primeira intervenção feita até então. O pior foi ter que ficar sentada, curvada com contrações que não paravam de vir e estavam doendo muito. O anestesista era super bonzinho, sempre esperava o intervalo entre as contrações para fazer os procedimentos, mas o problema é que era quase impossível ficar parada neste momento e a contração sentada doía horrores. O médico disse que daria só um pouco de anestesia para não desacelerar o trabalho de parto, que estava indo muito bem. Achei bom, pois queria sentir ela nascer. Continuei sentindo minhas pernas, senti as contrações, tudo e não tive nenhuma reação da anestesia nem durante nem depois do parto. Demorou alguns minutos para fazer efeito, mas confesso que foi um alívio enorme na hora… Neste momento, o Daniel finalmente entrou na sala de parto e ficou lá o tempo todo depois. Assim que tomei a anestesia, o médico pediu que eu deitasse na maca e me posicionasse para o parto. Só que eu não queria ficar deitada, doía bem mais e sabia que era para pior posição para parir. Aí ele inclinou a maca o máximo possível para ficar sentada e como ainda achei que estava muito deitada e desconfortável, colocaram várias almofadas nas minhas costas e o Daniel ajudou segurando-as atrás de mim. Achei que tinha ficado bom, estava praticamente sentada, confortável, não estava amarrada e tinha onde segurar para fazer força. Isso já eram 23:20 da noite. A partir deste momento o médico fez várias intervenções, nem sei quais direito, pois ele não me avisava o que estava fazendo, simplesmente fazia o que achava que precisava na hora. Sei que ele colocou ocitocina no soro, pois assim que me posicionei para parir, depois dos 10 minutos, acho que nem isso, de alívio que senti depois da anestesia, as contrações voltaram com tudo. Depois disso, perdi totalmente a noção de tempo, espaço, de quem eu era. O Daniel ficou lá do meu lado, muito calmo e tranquilo, me dando força o tempo todo, fazendo de tudo para ajudar. Mas o que realmente fez a diferença e lembro que me ajudou muito foi seu olhar, que dizia eu confio em você, estou aqui do seu lado e tenho certeza de que vai dar tudo certo e você vai conseguir…  O que lembro é de sentir vontade de fazer força durante as contrações, que estavam muito fortes, e que vinham sem parar, não tinha mais intervalo entre uma e outra, e teve momentos que não conseguia mais respirar, acho que prendia a respiração para fazer mais força. Lembro do médico falando para eu respirar, soltar o ar. Em algum momento ele estourou minha bolsa. Não senti dor, apenas um líquido quente escorrendo. No fim do expulsivo ele fez a episiotomia, que para mim, foi a pior das intervenções… Na hora, senti ele fazendo o corte, e que dor! Ele não deu anestesia local, pois eu já estava anestesiada e achou que não iria sentir (o médico ficou até espantado de eu ter sentido o corte), mas acho que aconteceu isso porque estava realmente com pouca anestesia. Na hora comecei a chorar, e não sei, senti um pouco de desespero. Ele pediu que eu ficasse calma, respirasse fundo, que me concentrasse nas contrações que ela estava quase nascendo, que eu tinha que ser forte e continuar. Lembro que respirei fundo, pensei na Alice e continuei. Depois disso, chegou um ponto que não conseguia mais fazer força, não conseguia mais respirar, e olhei bem para o Daniel e disse “não consigo, não tenho mais força”. Ele só respondeu “consegue sim, força que ela está chegando”. Foi aí que o médico disse: “ela já está aqui embaixo, estou vendo o cabelo dela, concentra e na próxima contração faz força que ela nasce”.

Quando escutei a palavra cabelo, pensei “é agora, ela está nascendo mesmo”. Parece que ganhei uma injeção de ânimo, tirei forças nem sei de onde, e fiz uma força bem comprida e ela nasceu!

Pequenina, com 2,730 kg e 45,5cm, cabeludinha, linda, cor de rosa, perfeita, bem espertinha, foi Apgar 10 e 10. Chorou logo que nasceu, não precisou ser aspirada, nem nada. Mas não pude segurá-la ainda com o cordão umbilical, pois ele era muito curto. O médico até tentou me dá-la, mas não alcançava. Então ele só me mostrou e eu fiquei vendo-a enquanto ele esperava um tempinho para poder cortá-lo. A dor tinha passado completamente, é incrível. O Daniel disse para mim “nossa filhinha nasceu e ela é linda”! Neste momento, perguntei que horas eram e todos na sala de parto começaram a rir… Mas eu só queria saber se ela tinha nascido ainda no dia 10 ou no dia 11, pois tinha internado no dia 10 de noite e não tinha ideia de que horas eram. Ela realmente tinha nascido no dia 10 (sexta-feira) às 23:49!! Ou seja, foram 10 horas de trabalho de parto, sendo apenas meia hora de expulsivo. Assim que o cordão foi cortado, ele a me entregou para segurar. Nos conhecemos pela primeira vez! Que emoção. Ela, que estava chorando a plenos pulmões, ficou quietinha imediatamente. A primeira coisa que falei quando a segurei foi: “Ai que gracinha, você nasceu, você nasceu!”. Para mim, parecia inacreditável, parecia mentira que ela tinha nascido, que ela era de verdade, que estava no meu colo e que eu tinha conseguido. Não tem como explicar. Depois de um tempinho, a coloquei no meu peito, mas não quis mamar muito não. Mesmo assim, o pediatra disse para deixa-la no meu colo ao lado do meu seio que ajudaria o leite a descer. E assim ficamos (o papai estava junto) na maca, nos conhecendo e namorando. Falei para ela “eu sou a sua mamãe” e ela me olhou como se entendesse… Um pouco depois a placenta nasceu (não doeu, apenas senti um pouco de cólica) e o médico deu os pontos embaixo. Depois de um tempo, o pediatra a levou para a salinha ao lado, a examinou e pesou, e me devolveu ela, já embrulhada em uma manta e com a toquinha. Ela ficou no meu colo o tempo todo na sala de parto. E quando já tinha terminado tudo, isso era mais ou menos 1 hora da manhã, o médico disse que estávamos prontas para subir para o quarto. Que ela poderia ir comigo e que eu não precisava ir para recuperação, pois nós duas estávamos ótimas. Fiquei toda feliz! Ele disse para o Daniel que ele poderia descer para avisar a família que tinha nascido, pegar nossas coisas e ir direto para o quarto nos esperar. Foi aí que passei a pior parte desta história. Assim que o médico virou as costas, uma enfermeira pegou a Alice e a levou para o berçário (sob meus inúteis protestos) e disse que outra enfermeira viria me buscar para me levar para o quarto. Só que não aparecia ninguém e quando apareceu ela me levou para onde outras mulheres estavam em recuperação (todas dormindo, pois tinham feito cesárea e estavam sedadas). Fiquei inconformada e perguntei porque estava lá, se o médico disse que eu iria direto para o quarto. Eis o motivo: estavam passando cera no corredor do quarto que eu ficaria e não podia passar com a maca. E pior, não sabiam quanto tempo iria demorar. Ah, quase surtei!!!! Mas não tinha o que fazer, ela disse que não tinha jeito mesmo e saiu da sala. Fiquei lá sozinha, sem meu marido, sem minha filha.

Foi então que entendi completamente o que tinham me explicado na gravidez enquanto me preparava para parto que havia diferença entre dor e sofrimento. Realmente, até aquele momento tinha sentido muita dor, mas não tinha sofrido, era uma “dor boa”, era minha filha que estava chegando.

Naquela hora sim, eu estava de fato sofrendo, parecia que tinham arrancado um pedacinho de mim e levado embora, e eu não conseguia parar de pensar nela, sozinha, naquele berçário, sem meu colo, sem meu cheiro, sem meu peito, chorando, sendo que tinha acabado de nascer. Quando a enfermeira voltou e viu que eu estava chorando, quis me dar remédio para dormir, é claro que eu não ia tomar de jeito nenhum!! Não estava sentindo nada de dor, só queria ir para o quarto, queria minha filha de volta e meu marido ali do meu lado. Além do mais, estava com fome e com sede, e ela me negou tanto a água como a comida, disse que não podia (detalhe: o médico tinha liberado). Fiquei lá uma hora, mas para mim parece que foi uma eternidade. Então, finalmente fui para o quarto e o Daniel estava lá me esperando. Acho que nunca precisei tanto de um abraço como naquela hora. Mas a Alice ainda não estava lá. E demoraram ainda quase duas horas para me trazerem ela. O Daniel ia lá no berçário a cada cinco minutos perguntar por ela, mas eles ignoraram nossos pedidos. Quando ela chegou, estava morta de fome, já veio com a boquinha bem aberta para mamar e sugou com toda força (então acho que pelo menos não deram leite para ela no berçário). Eu continuava sem beber água nem comer nada. Só quando trocou o turno é que a enfermeira que entrou (outra santa que me ajudou muito), foi lá na cozinha e pegou água e um lanchinho para eu comer, me ajudou a amamentar etc., mas isso já eram mais de 5 horas da manhã. Resultado disso é que de manhã, quando levantei para ir ao banheiro, minha pressão estava tão baixa que quase desmaiei (minha pressão já cai normalmente se fico sem comer, imagina depois de dar à luz). Tiveram que me segurar nos braços. Lentamente fui voltando ao normal. Depois disso, não tenho do que reclamar do hospital, a Alice não saiu mais de perto de nós, nem para tomar banho (tomou dentro do meu quarto), as enfermeiras foram muito solícitas e ajudaram em tudo que precisei. Queria ter ido embora no sábado, mas o médico achou melhor sairmos no domingo cedinho, pois o teste do olhinho precisava ser feito 24 horas depois que o bebê nasce. Então, no domingo às 10 da manhã fomos para casa os três. Minha recuperação foi ótima e meu leite desceu dois dias depois do parto. Só a episiotomia que me trouxe problemas no pós-parto. Meu corpo rejeitou a linha cirúrgica e meus pontos abriram no terceiro dia. Precisou ressuturar duas vezes no consultório do médico e por fim, acabou cicatrizando por segunda intenção. Confesso que fiquei morrendo de medo de não cicatrizar direito, mas felizmente deu tudo certo. Com 40 dias já tinha cicatrizado e o próprio corpo voltou ao normal aos poucos depois.

Não me arrependo de nada, foi uma experiência maravilhosa e acho que tudo tem seu tempo. 

Agradeço a todos que fizeram parte deste momento e tornaram esse sonho realidade, especialmente ao Daniel que foi muito parceiro desde o início e me apoiou incondicionalmente em todos os momentos. Se Deus me conceder a bênção de ser mãe novamente, com certeza buscarei uma equipe que seja realmente humanizada, que compreenda o processo natural e fisiológico do parto, respeitando o tempo da mulher e do bebê, que acredite na capacidade da mulher de parir, que não separe o bebê da mãe sem necessidade, que dê apoio emocional neste momento tão importante, tanto antes, como durante e depois. Mas que também tenha competência para fazer as intervenções que forem necessárias (se forem necessárias), inclusive uma cesariana, se for para o melhor nascimento do bebê e da mãe, porque é para isso que existem todos os avanços da medicina atual!

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