Li muito sobre amamentação durante a gravidez, porque a maioria das mulheres se prepara para o parto, mas pouco se informa sobre a amamentação. Sabia que não seria fácil, mas não imaginei que pequenos desvios neste processo mexiam tanto com o nosso emocional a ponto de pensar algumas vezes em desistir.

Minha filha nasceu. Foi tudo conforme o que eu esperava: parto normal, mamou na sala de parto, não tive problemas com bico rachado, meu leite desceu, ela ganhava peso, pega correta e tudo bem. Quando ela tinha 12 dias, tive mastite e foi resolvido com uso de antibiótico.

Quando ela estava com 45 dias, começou a fazer vômitos com freqüência. Não eram as famosas “golfadas”, mas vinham em grande quantidade e a jato. Por duas vezes vi traços de sangue nas fezes. Ela mamava pouco tempo, ficava irritada, jogava a cabeça para trás e chorava. Comecei a tratar uma suspeita de refluxo, mas percebi que os medicamentos não melhoravam em nada e parei por conta própria. Fui orientada a tirar da minha dieta o leite e os derivados e em pouco tempo os vômitos pararam. Logo depois procurei uma gastropediatra para me orientar, ela me perguntou sobre o sangue, muco nas fezes (até então eu achava que o muco era normal, foi aí que percebi que não eram e lembrei que havia visto algumas vezes na fralda). Ela pediu para retirar da minha dieta o leite e derivados e a soja (inclusive óleo de soja). Fiz a dieta por um mês, não apareceu mais sangue, mas o muco continuava. Nesse momento ela me passou uma dieta ainda mais restrita. Ela explicou que ia retirar mais alimentos, não porque a minha filha tinha alergia a todos eles, mas como forma de “desinflamar” o intestino dela. Fiquei quase um ano sem comer carne vermelha, frutos do mar, ovo, leite, soja, frutas cítricas, alimentos com corantes e conservantes, amendoim, mel… Nessa hora eu realmente pensei em desistir. Durante minha vida toda fiz dieta, vivia furando todas elas e achei que não ia conseguir levar adiante.  Logo no inicio desse processo fui a um aniversário, comi um brigadeiro, achando que era pequeno e nada ia acontecer. No dia seguinte, minha filha estava vomitando muito e as fezes bem alteradas. Fiquei tão mal, me sentindo tão culpada que ali decidi que todo esse esforço seria por ela. Nenhuma mãe quer ver o filho assim e se fosse para a minha saúde, certamente teria desistido, dado as minhas escapadas com a alimentação, mas por ela eu encarei todo o processo.

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Júlia mamando com 1 ano e 3 meses (foto Sandra Rodrigues)

O puerpério já é difícil e passar por ele com restrições alimentares, de não poder comer quase nada na rua, foi desanimador. Pensei depois de algum tempo em voltar a comer o que queria e dar complemento pra minha filha. A lata do leite que ela podia tomar era bem acima do preço, mas íamos dar um jeito. Ouvia de pessoas na mesma situação de filhos com alergia que desmamaram, deram complemento e os filhos estavam bem de saúde e que eu tinha essa opção. Quando fui conversar sobre isso com a médica, lembro dela me apoiando em continuar no peito, que as restrições seriam provisórias. Logo eu poderia voltar a comer tudo e que ela ia se curar.

Resolvi isso na minha mente, mantive a dieta e continuei amamentando.  Por volta de cinco meses da minha filha, ela começou a ganhar menos peso no mês, sua curva alterava, ficando longe do peso considerado “ideal”, embora a altura estivesse crescendo dentro da média. Novamente o meu emocional ficou abalado e os palpites intensos. Eu via várias mães com filhos na idade próxima dela amamentando, comendo de tudo e os filhos ganhando cada vez mais peso. A minha filha ficava no peito o dia todo e não ganhava peso. Por mais que eu tivesse lido que “não existe leite fraco”, eu pensava que meu leite não nutria a minha filha. Cada vez que falavam de peso dos filhos, de “dobrinhas” de crianças, isso acabava comigo, porque a minha ia crescendo e as “dobrinhas” diminuindo cada vez mais. Nos meus sonhos da maternidade, minha filha ia crescer como todas as crianças, dentro do padrão que consideram normal, a famosa “criança gordinha só de peito”. Ai vem de novo a possibilidade de dar complemento para ela engordar. Fui conversar com a gastropediatra que me garantiu que as alergias não eram as causadoras da perda de peso.

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Júlia mamando com 1 ano e meio

Não me esqueço dela falando que meu leite era o ideal para minha filha, que ele não fornece mais nem menos do que ela precisa. Se ela não engorda e o quadro clínico é bom, evoluindo dentro do normal para a idade, eu não tinha que me preocupar. Logo depois que iniciei a introdução alimentar dela, eu dei um complemento misturado na fruta para aumentar o aporte calórico e adivinha?! Não fez diferença nenhuma no fim do mês e ela não engordou mais por isso.

Quero deixar claro que em minha opinião o complemento é necessário em muitos casos, mas muitos pediatras se baseiam nessa curva para avaliar a criança e se sai um pouco do que eles consideram ideal, já acham que a criança precisa complementar e que o leite da mãe não está sendo suficiente. Li o livro “Meu filho não come” do pediatra Carlos Gonzales e vi que não é “bem assim”. Ele me fez enxergar essa questão de peso de outra forma e toda a pressão que sofri, toda a ansiedade que passei para ela engordar foi desnecessária.

Hoje ela tem 1 ano e 10 meses, seguimos no peito, estou liberada da dieta e ela também já come de tudo, inclusive alimentos com leite e seus derivados (acredito que a dieta e a persistência no peito colaboraram bastante pra isso). Acho que ter acompanhamento de uma médica de confiança, a favor da amamentação foi fundamental para alcançar este objetivo.

Amamentar uma criança alérgica, na grande maioria dos casos é sim possível, é indicado e todo o processo compensa.

*Este texto foi originalmente publicado pelo Fala Frida em 18 de agosto de 2017.

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