A rua está silenciosa. Nenhum carro passa, nenhuma criança grita. A cidade se recolheu em si mesma, as pessoas nas suas casas, na sua intimidade, nos seus mundos particulares. Esperança perambula pelo seu apartamento, rega as plantas, dança na sozinha na sala.

Faz sua comida em silêncio e come assistindo alguma coisa no celular. Inventa pequenos rituais pra se distrair, pra ocupar o tempo, pra cuidar de si o melhor que pode. Mas no seu peito tem um nó, na garganta uma coisa entalada e no canto dos olhos duas lágrimas prontas pra despencar.

No final do dia Esperança sente uma grande melancolia, tão grande que ela sabe que não é dela, é muito maior, é uma tristeza espiritual, a tristeza do mundo. Ela se sente como uma antena captando uma frequência de fora.

Ela assiste o sol caindo por detrás da terra, o poente em seus tons de laranja e ela decide fazer algo por si. Se ela é uma antena captando algo de fora, talvez ela possa não só captar, mas enviar também. Ela acende velas pela sala, coloca uma playlist, se desnuda, dança mais um pouquinho, deixando o quadril ondular.

Ela sente um conforto quente quando sua mão começa a massagear ali. Ela respira fundo, molha os dedos, fecha os olhos e dança os dedos sobre o clitóris.

O calor se irradia daquele minúsculo ponto pro quadril, pernas, ventre… até chegar na ponta dos pés e das mãos. Seu peito de repente está fervendo, a respiração acelerada, ela não sabe quanto tempo se passou desde que se deitou, há quanto tempo está pairando no vórtice de prazer de um quase orgasmo. Ela segura o orgasmo um pouquinho, pra ele ficar maior. Sente a energia sexual acumulando e vibrando por dentro da pele.

Até que ela não consegue mais segurar e solta tudo, solta um som, solta a buceta e orgasmo serpenteia livre pela coluna até o coração. Ela quase grita, é um gemido alto, grave, libertador. O que estava entalado na sua garganta não está mais. O que estava pesado no seu peito aliviou.

Ela ainda está de olhos fechados. Continua ali deitada, esparramada, sentindo o alívio do pós-orgasmo. Quando finalmente abre os olhos, vê pela janela que a lua nasceu, crescente, um fiapo de lua sorrindo pra ela. Esperança sente como um bom presságio. Nasce uma risada na sua barriga. É então que Esperança ri, se sentindo desperta de novo.

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