Depois que me tornei mãe, passei a ter uma relação diferente com meu corpo. O que vivemos “juntos” foi tão transformador que agora sinto que tenho mais intimidade com ele, o reconheço mais. Lembro de, ainda grávida, pensar no quanto meu corpo era potente e incrível por carregar uma vida inteiramente nova e complexa dentro dele. Gregório Duvivier descreveu essa maravilha da natureza de forma poética e fofa aqui. O parto só contribuiu. Entendi que meu corpo tinha e tem todas as ferramentas necessárias para ajudar aquele bebê a encontrar o caminho do mundo. Só eu e ele.

Depois que voltei a menstruar, mais ou menos um ano depois do nascimento do meu filho, a relação com meu ciclo também mudou. Comecei a prestar mais atenção aos detalhes. Nunca mais tomei pílula anticoncepcional porque não gosto dos efeitos que ela me causa. Me sinto castrada, dominada por aquela baguinha branca. Não consigo perceber as etapas do meu ciclo quando estou sob seu efeito. Por conta disso, já estou “limpa” há quatro anos.

Mas e aquele sangue ali que desce todo mês? Somos condicionadas, desde pequenas, a não gostar daquilo, a esconder, achar sujo, malcheiroso. Mas comecei a ler um pouco mais sobre o assunto e decidi tentar mudar minha relação com minha menstruação. Tentei absorventes de pano, depois coletor menstrual, mas nenhum funcionou muito bem. Mais a frente, mudei a marca do coletor e me adaptei muito melhor. E, alguns meses atrás, descobri umas calcinhas absorventes incríveis que coletam o pouco fluxo que escapa do coletor.  As calcinhas são lindas e super confortáveis, o cheiro é praticamente inexistente (já que cai sobre tecido e não sobre o absorvente descartável) e meu impacto ao meio ambiente foi severamente reduzido. Estou muito mais feliz em receber minhas regras todo mês. Compreender que esse ciclo mensal foi essencial para eu ter condições de dar a vida a outro ser também me ajudou e viver em paz com meu sangue.

Vejo que esse movimento de autoconhecimento não tem sido só meu. Ouvi de uma amiga uma vez algo que me marcou muito: ela disse que quando menstruava, sentia que mandava embora todas as emoções negativas e sentimentos ruins que estavam no corpo dela. Achei uma percepção incrível. Tenho visto várias mulheres buscarem o que mais se adequa a seus corpos. Algumas questionaram o reinado absoluto da pílula como anticoncepcional e se acertaram com o DIU. Outras optaram por versões com menos hormônios e estão ótimas. Conheço mulheres que decidiram não mais menstruar e assim encontraram seu equilíbrio. Que bom. Porque se trata de fazer as pazes com o próprio corpo e cada uma de nós tem um jeito muito particular e íntimo de fazer isso. Como tem sido pra você?


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2 respostas

  1. A maioria das minhas amigas não tomava pílula, mas como nunca me faz mal, tomei por quase trinta anos e, tive uma grata surpresa quando resolvi parar, me redescobri. É impressionante como a pílula “mascara” a relação que temos com nosso corpo e nossos ciclos. Não sou contra, em absoluto, reconheço a importância da contracepção pra sexualidade e autonomia femininas, mas gostaria que a minha filha tivesse uma relação diferente com o corpo dela. Por isso, alertada por uma prima super atenada, tenho conversado com ela sobre a menstruação como um presente, uma vantagem de ser mulher, um instrumento de conexão consigo e do grande poder que é ser capaz de gerar um filho, Tomara que a história dela possa ser diferente da minha.

  2. Que incrível essa possibilidade né Gabi? Eu também não sou contra a pílula, em absoluto. Reconheço o papel importantíssimo que ela teve e tem para as mulheres. Mas, pessoalmente, não rola pra mim. Sou outra mulher sem ela. A questão, a meu ver, é cada uma encontrar seu equilíbrio, sua paz. Amém!

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