Quero falar mais sobre trabalho, pra esgotar o assunto que comecei e que nunca termina.

Meu ano sabático serviu pra eu “descobrir” que trabalhar é bom. Não foi uma descoberta, propriamente dita, levando em conta que desde sempre, quis trabalhar.

Quando eu era menina, trabalhar era ser independente (financeiramente). E ser independente era o que eu mais queria.

Depois, me dei conta que ganhar dinheiro era bom, que ser reconhecida pelo trabalho bem feito era muito bom e que atingir objetivos – no meu caso, perceber que um aluno tinha aprendido e se interessado, fazer um bom acordo, conseguir uma reforma de sentença no Tribunal – era excelente. Dava barato. Quem já sentiu isso, sabe do que eu falo. Satisfação garantida.

As coisas muito boas, fazem a gente ignorar e esquecer as não tão boas. E talvez, aí more o perigo das relações profissionais que se tornam insatisfatórias.

Calma! Esse é o segundo capítulo da minha tese rsrsrsrs.

No ano passado quando comecei a estudar pro mestrado li alguma coisa de filosofia. E o autor que embasou meu projeto é o Axel Honneth, filósofo alemão que trabalha com a Teoria do Reconhecimento. Pra colocar as coisas de uma forma bem simples, Honneth diz que o trabalho tem papel fundamental no reconhecimento do ser humano, o que confirma sua identidade e autonomia.

O trabalho torna o  homem livre e igual, fortalece sua auto estima e percepção de que suas capacidades são importantes para o bem comum. O coloca numa posição dignificante e proporciona o sentimento de pertencimento.

Desde o segundo semestre do ano passado essas leituras vêm me fazendo “filosofar” sobre o trabalho e, porque não, o papel dele na minha vida. Eis aí a minha resistência em tratar deste assunto, que me merece ser abordado com uma profundidade que o meu blog não alcança. Nem eu, neste momento.

Fiz um disciplina que propõe uma re-leitura de Marx – no meu caso um primeira leitura séria rsrsrs – e a aula inicial foi amor à primeira vista. Pra minha surpresa – pero no mucho – Marx é o mais liberal, dos liberais no que se refere a condição do homem, quando propõe que ele deve se desenvolver o máximo como indivíduo e não como mera peça do coletivo, como a maioria dos modelos socialistas que a gente conhece acredita.

E esse desenvolvimento passa, necessariamente pelo trabalho. Tenho até pensado em dar uma guinada no meu projeto e fazer uma curva em direção à filosofia do direito pra aprofundar essas questões que tem tanto a ver com a minha situação individual.

É claro que me peguei pensando que esta, também, é uma linha muito limitada. Quer dizer, então, que só o trabalho nos realiza?

Mas o trabalho não me define. Não é o que eu sou.

A primeira ponderação que precisa ser feita é que o trabalho não é só esse modelo formal que a gente conhece. É muito mais amplo e complexo.

A segunda, totalmente marxista, é que o trabalho assalariado – aquele em que a gente só vende a nossa mão de obra – não é libertador. É alienante e limitador. Nos escraviza.

Hum, mas que Marx mais moderninho, hein?

Não é isso que a gente procura? Um trabalho que nos faça crescer, que a gente ame, que nos liberte e que, financeiramente, nos permita viver com dignidade.

Utopia? Quanta coisa pra pensar!

Termino esse post, mezzo filosófico, com uma historinha contada pelo meu professor. Um amigo dele, engenheiro de produção super qualificado, formado pela USP e pós-graduado nos EUA, se tornou um grande executivo de uma multinacional. Meu professor o reencontrou, era um antigo amigo de colégio, e perguntou:

E aí cara, com tanto sucesso, tu gosta do teu trabalho? Ao que o amigo respondeu, surpreso: Gostar do trabalho? Como assim? Que pergunta estranha! Eu trabalho pelo dinheiro. Desde quando precisa gostar?

Desde sempre!

Beijo pra vocês.

Continuo descascando a cebola……

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