Aí a licença maternidade acabou, e como esperado em meio à crise do setor, reforçada pelo afastamento de 6 meses, ela entrou também para as estatísticas de mães demitidas após a licença. Mas, encarando essa situação com positividade, ela resolveu aproveitar o fato como oportunidade para estar mais presente na vida da cria naquele momento. Como voltar ao trabalho depois de 6 meses e estar 100% segura em passar o dia todo longe do filho, né?

Só que um ano passa como um piscar de olhos. E mesmo com alguma renda pessoal de investimentos, estar na condição de dependência financeira é extremamente desconfortável pra ela. Então a necessidade de se realizar em outras funções além das domésticas/maternas voltaram a rodear seus pensamentos. Afinal, foram 2 faculdades, 2 pós graduações cursadas, anos de experiência aqui e em outros países, muitos cursos e um currículo de que podia se orgulhar. Antes da maternidade, ela vivia aquela vida em que realização era sinônimo de crescimento profissional e independência financeira.
Era desafiador trabalhar num setor majoritariamente masculino, pois tinha que ter um jogo de cintura extra pra mostrar serviço, além das tarefas normais exigidas pela função de engenheira que exercia. Era gratificante ultrapassar cada um dos obstáculos, mesmo que isso significasse perder feriados, aniversários e festas de casamento trabalhando, pois ela estava se desenvolvendo. Mas isso foi antes, antes da maternidade.

As crenças das mulheres do que é sucesso e realização pessoal/profissional são regularmente reajustadas após a maternidade. E a forma como o mercado de trabalho olha pra essa mulher que agora é mãe também muda.

Com a crise, as vagas são escassas para todos, imagina para a recém mãe. Nas poucas entrevistas que acontecem, a pergunta sempre vêm… Você tem filhos? Quantos anos eles têm? Mas você não mora aqui nesta cidade, como você vai fazer com seu filho e marido? O mercado é hostil com ela. E ela se questiona:

Como pode você voltar a trabalhar das 8h até as 19h ou 20h com frequência, talvez fora da cidade, e além disso atender a plantões 1 ou 2 finais de semana por mês, e ter tempo de qualidade com seu filho? Essa vida ainda se encaixa como sinônimo realização pra você?

Ela ainda não está convicta dessa resposta, por que profissionalmente só sabe ser aquilo que era antes de ser mãe. Ela tem vontade de produzir, mas não existem vagas, então se depara com a ideia de ter um negócio, pois ela vai à luta e não espera acontecer! O empreendedorismo materno é a saída pra muitas mães, e não é à toa que isso acontece. Afinal, tem a parte boa, a famosa flexibilidade!!! Ela “pode fazer” todas as coisas que se espera de uma boa mãe e ainda trabalhar!!!! É maravilhoso, certo?

Não sei se é maravilhoso ainda, não sei mesmo… A “ela” a que eu me refiro no trecho acima sou eu e o que sei até agora é que é bemmm difícil.

É difícil, por que me moldei pra ter uma boa formação acadêmica, pra estar disputando boas vagas, pra trabalhar “fora de casa”, como se diz por aí. A realidade é que todas as pessoas que trabalharam diretamente comigo e seguem empregadas na mesma área e se desenvolvendo precisaram ir pra fora do país neste momento de crise. E agora eu tenho um filho e marido que é funcionário público, portanto aceitar as vagas que apareceram e ter minha carreira de volta é sinônimo de “desistir da família”.
A solução foi fazer uma coisa que nunca eu havia pensado antes, que foi montar um negócio “em casa”. Mas olha quanta coisa pra reinventar aos quase quarenta anos:
1 –  Aprender a empreender de verdade em um negócio que cresça de forma a resgatar minha independência financeira num país em crise.
2 – Cozinhar (bem) e administrar a casa! Afinal, é o que se espera de mulheres “boas mães”, ainda mais as que não “trabalham fora”… (sei fazer algumas coisas, mas não cozinho bem, e também não curto)…
Essas coisas demanda muito tempo e dedicação, ainda mais no início. E isso compromete diretamente a quantidade e a qualidade de tempo com meu filho, e o relacionamento de casal… Aí a flexibilidade do empreendedorismo materno que tanto falam vai pro ralo… Pode ter mulher maravilha por aí que dá conta de fazer tudo isso de boas… Mas pra mim está difícil. E no momento me sinto inadequada, infeliz e não estou realizada.
Hoje sou apenas “AQUELA QUE NÃO SE ENCAIXA”!!!!
Pro futuro, não sei exatamente como será, tenho esperança de que isso passe. Sigo buscando motivação na gratidão pelas coisas boas que tenho, pois ficar parada não é uma opção!

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