Vou contar hein? 1… 2…

Olho para cima, o sol quase me cega.
Ao meu redor, amigos. Brincadeira de criança, ouço a contagem.
Corremos para encontrar uma boa toca.

Olho para frente, também busco.
Ele me chama.
De rosto conhecido, sigo.
Parece um bom esconderijo.

Olho para cima, está escuro.
Sinto medo, não entendo.
Mesmo tão criança.
Ele me pega, não é abraço.

Olho pra frente, há só um raio de luz que adentra o quartinho escuro.
Tudo sinto, sinto dor.
Prendo a respiração.

Olho para o chão, escorre.
Sequer cai uma lágrima.
Minha boca está cerrada por suas mãos.
Minha vida também.

Não há mais pique.
Não há mais pega.

Olho pra frente, corro para casa.
Casa.
Amanhã talvez ele estará aqui.
Terei que sorrir, chamar de tio.

Olho para cima, quero que o céu desabe.
Não é a primeira.
Fecho os olhos.
Rezo para ser a última.

Olho para você, já te odiei.
Já te ignorei.
Já te matei em mim. Talvez isso eu não consiga.

Olho para mim, agora me derramo em lágrimas.
Me rejeito, me repudio.
Nego, grito, me arranho.
Continua doendo.

Sigo.

Olho mais para dentro. Há também um raio de luz aqui.
Agarro com a mesma força que me segurou.
Tento aceitar minhas marcas e me abraço pela primeira vez.

Mesmo pouco, há luz.
Mesmo doloroso, há caminho.
Mesmo às vezes não querendo, sigo.

Eu busco o que me tirou.

Quando criança sofri abusos de um amigo da família. Sempre gentil, que presenteava com doces e levava o que havia em minha alma infantil. Trinta anos depois e ainda tento conviver com essas marcas. Agora mãe de uma menina, sinto força para mostrar que o abuso normalmente ocorre dentro de casa, com amigos e familiares. Lembre-se: essa dor é irreparável. Esteja atento/a aos sinais de seu/sua filho/a sempre!


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