Ontem foi dia de viver meu presente de casamento deste ano: o show do Chico Buarque em Lisboa. Estava tudo combinado. Eu ia pro show e o meu marido ficaria com Gael, nosso filho com 3 meses na época, no teatro, nós dois torcendo para não ter nenhum chororô forte. Mas daí o chefe do marido apareceu com mais um ingresso pro ele.

Falamos com a vizinha que nos ajuda com a limpeza do apê e ela topou ir com a gente! Tirei leite durante o dia, preparei a bolsinha do bebê, tentei espaçar as mamadas para fechar uma hora verde e um soninho durante o show… Tudo o que podia e devia. Quando saímos do metrô na frente do teatro a neurose começou… Gente, pensando bem, eu nem conheço a Cris direito… Faz o quê? Dois meses que ela tá trabalhando lá em casa? E se ela sequestrar o Gael? E se assim que a gente entrar no teatro ela sair pela rota de fuga cuidadosamente planejada durante a tarde e for até o Tejo encontrar contrabandistas infantis que fugirão velozes em suas lanchas criminosamente rápidas sem deixar rastros!!??

Aí eu comecei a raciocinar um pouco mais e a entender que aqueles pensamentos eram psicóticos e que em uma tarde não dava pra Cris ter um plano de fuga também pra ela e para os filhos. Depois eu pensei ainda mais e lembrei que era a Cris! Que a gente já se conhecia há dois meses! Que o Gael adorava brincar com ela, que ela é uma fofa, confiável e carinhosa e que já tinha criado dois filhões lindos. Dei mamá e beijo no Gael até o último minuto que podia esperar pra entrar no show. Ele ficou sorrindo no colo da Cris enquanto eu sumia…

Então eu vi o Chico bem na minha frente! Não acreditei que aquilo finalmente estava acontecendo depois de tanto tempo e chorei… Chorei na primeira música, na segunda, na terceira eu tava soluçando. O show durou umas duas horas e acho que eu não chorei só durante cinco minutos. Ele cantando a super dançante, apesar de trágica, ‘História de Lily Braun’: “Ele me comia, com aqueles olhos de comer fotografia”, a plateia balançando os ombrinhos e estalando dos dedos e eu quicando feito bolinha de ping pong como efeito do meu choro abundante tentando ser engolido. Ele cantando a obra prima ‘Massarandupió’, que compôs com o neto: “Ó mãe, pergunte ao pai, quando ele vai soltar a minha mão, onde é que o chão acaba e principia toda a arrebentação. Devia o tempo de criança ir se arrastando até escoar, pó a pó, num relógio de areia o areal de Massarandupió” e eu me desmilinguindo, com a letra da música e com as palavrinhas escritas pela Cris que brilhavam na tela do meu WhatsApp: “Laura, fique tranquila agora que ele dormiu tá no soneca kkk”.

Meu piá, meu psiu, meu bacuri, ali sozinho… Sem mim já… Tomou a primeira mamadeira e dormiu. Me deixou ver o show… Me deixou… E lembro que o tempo de criança é duro pra mãe, parece que tem grão de areia no olho vermelho que não fica fechado quantas horas devia, parece que tem bolo de areia no peito empedrado… Mas também vou me dando conta de que é tão bom! E que apesar de às vezes parecer que entrou uma concha no relógio de areia e que o tempo não passa, não tem areal nenhum pra passar não, devia ter, mas não tem, tem só uma prainha pequenina, daquelas menorzinhas  que a gente vê entre Santo Antônio e Sambaqui. Logo, logo acaba. É sempre bom lembrar…

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *