Eu não trabalho às sextas-feiras, porque a minha semana de trabalho começa no domingo. Hoje eu acordei e me dei o “luxo” de ficar na cama até às 10h da manhã. A minha semana foi muito pesada (triste mesmo) e eu precisava dormir. Ontem eu fui deitar cedo. Voltei do trabalho de bicicleta, jantei e deitei. Respeitando o meu corpo. Acordei às 5 da manhã. Depois dormi mais um pouco e fiquei curtindo a minha simples existência até às 10h.

O dia passou. Eu gostaria de ter feito várias coisas. Eu deveria, porque gostar mesmo eu gostaria de não ter feito nada, como eu fiz. Eu gostaria de falar com as minhas amigas e gostaria de escrever. Gostaria de fotografar também. E é isso que eu fiz. Mas o quarto bagunçado grita. A vida bagunçada grita “culpa”. A falta de expectativas positivas grita. Eu não consigo me calar. Não consigo não observar o que significa ser mulher.

Culpadas nos sentimos todas as mulheres. Eu não me sinto exatamente arrependida pelas minhas escolhas. Eu me sinto culpada. Estamos sempre no lugar do erro. Muitas coisas não aconteceram como eu gostaria.

Tantos sonhos apodrecidos. Tanto chão pra percorrer. Bastante vida pra lutar. Tantas culpas pra me esquivar. Tanto esforço pra me convencer que o errado é ter nascido mulher e não exatamente quem sou eu. Não há tudo de errado em mim, é uma questão de ser vista a priori como menos, apesar de tudo de incrível que já conquistei.

Eu construí um caminho que me levou onde eu não queria estar. Voltei muitas casas no jogo da vida adulta. Hoje, lidando com a frustração de quem olha morangos no chão e pensa em si mesma, me vejo falando com amigas também frustradas, mulheres que lidam cada dia com as barreiras que lhes são impostas, algumas vivendo vidas fantasmagóricas, dedicadas a servir e a não reclamar quando são invisibilizadas, algumas se ajustando com as dificuldades de não ter escolhas.

Para mim, resta a esperança e a dureza de recomeçar. Resta a companhia, a força e o amor que sinto pelas minhas amigas. Resta ajudá-las a ter opções, que seja a de resistir. Restaram-me alguns morangos. Restou-me eu mesma, toda fodida, cansada, sangrando, sem perspectivas, mas resistindo em ser quem eu sou: toda “errada”, forte e decidida.

* Texto escrito em setembro de 2017. Atualmente os morangos podres serviram de adubo e novidades estão florescendo.


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Uma resposta

  1. Ligia, que bom saber que os morangos viraram adubo e que essa dor trouxe bons frutos! Parabéns por ser quem você é e brigar por isso, num mundo em que tantos abrem mão de si mesmos.

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