Desde que tive os bebês venho pensando nesse texto, nessa incrível história que aconteceu comigo e que não quero esquecer! Os trigêmeos vieram ao mundo com 32 semanas e 4 dias, no dia 12 de outubro de 2018, às dez horas da noite, de parto normal. 

Não, não foi um parto normal planejado e nem esperado. Desde o começo, meu médico deixou claro que faríamos uma cesárea com 34 semanas. E assim eu aceitei e abracei o desfecho da minha gravidez de alto risco em uma cesárea marcada para evitar maiores riscos.

Porém, meus filhos decidiriam vir ao mundo antes, no seu próprio tempo e do seu jeito.

Tudo começou na manhã do parto, quando eu comecei minha luta contra as infames hemorróidas. Sinto muito você ter saber disso, mas elas tiveram um papel importante nesse drama. Passei o dia inteiro com dor, deitada, comendo tudo que você pode imaginar para aliviar o intestino preso. De noite,  lá pelas oito e meia, depois de mais uma tentativa de aliviar o incômodo, senti um “vazamento” mas não pude ter certeza do que era. Depois de uns 15 minutos, percebi que estava sentindo cólicas e que também estava com contrações. Não tenho ideia há quanto tempo estava assim, porque neste momento elas já estavam bem seguidas.

Voces podem imaginar meu desespero, estando em casa sozinha com meu filho de 4 anos, meu marido no trabalho sem contato e sem ninguém mais para pedir ajuda. 

Meu primeiro pensamento foi em pedir um Uber, mas pensei que poderia ser arriscado e decidi chamar uma ambulância. A atendente entendeu minha emergência e logo acionou o serviço. Enquanto eles não chegavam, ela ficou me dando instruções. Primeiro pra eu tocar e sentir se alguma parte de bebê estava saindo. “Como assim? Eu não posso ter esses bebês aqui”, eu dizia para ela. Ela parecia não ouvir e continuava me dando ordens: “pegue algo para cobri-los, ache um barbante e tesoura para cortar o cordão”, etc. “Nãooooo, isso não está acontecendo, eles não podem nascer aqui” eu dizia. Até que senti algo saindo, ai meu Deus, senti uma bola e não sabia se era uma cabeça ou outra coisa. Corri para achar umas mantas, mas não consegui achar um barbante. “Thomas, abre a porta”…

Sim, meu filho de 4 anos estava ali do meu lado, e eu não podia me perder. Apesar de tudo o que estava acontecendo, eu ainda tinha que manter a calma por ele. Ainda que no outro dia ele tenha detalhado o que viu saindo da “perereca da mamãe”, acho que no fim tudo não passou de uma grande aventura para ele. 

Quando ouvi as sirenes da ambulância lá fora, dei graças a Deus que era dia de coleta de lixo, portanto o portão estaria aberto. Eles chegaram e eu estava no chão esperando para ver o que viria. “Há quanto tempo estás sentindo contrações, quão seguidas elas estão?” o paramédico perguntou. Rápido, pensa numa resposta! “Não sei, há uma hora, há cinco minutos, que horas estava passando CSI?” Rápido, olha a hora no relógio, calcula. “Putz, não consigo contar as horas”. 

Deixa eu fazer um adendo: tudo isso falando em inglês com os atendentes e em português com o Thomas. Acredito que qualquer mulher que consiga passar por um trabalho de parto falando outra língua que não a sua de origem, deveria ganhar, automaticamente, uma nota super alta em proficiência da língua! Enfim,os paramédicos me acalmaram e confirmaram que não era nenhum bebê saindo ainda.

Eles ligaram para o  hospital, pegaram minhas coisas, deram a mão para o Thomas, me cobriram, puseram meus sapatos e me acompanharam até a ambulância. Me emociono falando disso. Essas pessoas que nunca me viram antes foram meus anjos da guarda, cuidaram de mim e do meu filho como ninguém mais nesse país pode fazer. Gratidão eterna a eles.

Na ambulância eles me deram o gás e eu me agarrei a ele como se minha vida dependesse disso. Não era alívio para a dor, só me deixava um pouquinho off por alguns segundos, o que, naquele momento de dor e estresse, jé era muito. Chegamos ao hospital e vi umas 20 pessoas correndo para lá e para cá e o volume de conversas aumentando. Me passaram da maca para uma cama e logo em seguida, da cama para a mesa de parto.

Quando o médico me disse que faríamos o parto normal, não acreditei. Como assim? Não era esse o combinado, como vou continuar sentindo essa dor? Como vou achar forças para empurrar três bebês? Cadê meu marido?

Foi aí que rezei uma Ave Maria e fui. O Daniel foi o que mais demorou pra sair, talvez porque eu, ainda em choque, tentava fechar as pernas e parar de empurrar. Quando colocaram ele na minha barriga, só pedi desculpas por ele ser tão pequenininho. O Lucas veio em seguida, acho que 3 minutos depois. Como era menor, nem lembro de ter feito muita força. Acho que sempre vou ser grata a ele por isso. E ainda tinha a Lisa. Só vi o médico botando uma “calçadeira” dentro da minha barriga e ajudando a puxar com as mãos. Logo pensei: já que ta aí, traz ela de uma vez. Mas não, lá veio ele pedindo para eu empurrar de novo. Ok, essa é a última, vamos lá. E foi, ela parecia a maiorzinha mas era a que estava em maior sofrimento. Foi direto para o oxigênio. 

Depois disso fiquei esperando a dor passar como aconteceu no parto do Thomas, mas ela não passou. Ainda tive que expulsar as placentas, “só mais uma forcinha”. E a dor continuou. Descobri depois que da segunda gravidez em diante, os músculos do útero já estão mais preguiçosos e demoram mais para contrair.

Além do que, veio o médico dizendo  que me deu um remédio para ajudar a contrair ainda mais. O que? Mais 4 horas de contração??? Nunca odiei tanto uma pessoa na vida e ainda por cima queria só me dar paracetamol. No way, agora eu já estava implorando, qualquer coisa mais forte por favor!

Lembro também de todo mundo olhando para mim e me parabenizando “Good job”, “you are amazing”, well done mama”, e eu olhava e sorria mas no fundo pensava “não aguento mais ser educada, odeio todos vocês também, façam essa dor parar”.

O Thomas veio para a sala segurando dois “balões” de luva com carinhas desenhadas para dar para os irmãos. Estava super feliz e animado e a enfermeira tirou uma foto dele com a Lisa. Não parava de me fazer perguntas e me contar o que fez e eu só queria que ele ficasse quieto e não me tocasse.  

Em algum momento, consegui finalmente falar com meu marido e contar que os bebês haviam nascido e estávamos no hospital. Ele não acreditou. Chegou, enfim, lá pela meia noite e por alguns momentos eu também o odiei por não ter estado ali. Enfim, depois tudo se ajeitou, duas noites no hospital, bebês na neonatologia e eu me recuperando aos poucos.

Essa foi com certeza uma das experiencias mais fantásticas da minha vida. Algo inesquecível e único, e que hoje sou grata por ter passado. Acredito que o melhor parto é o parto possível no momento e o meu foi perfeito do seu jeito. Sou imensamente grata a todas as pessoas envolvidas nesse dia, elas fizeram o improvável possível e garantiram que eu e meus bebês tivessem todo o cuidado necessário.

Acho que gratidão define tudo.


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Uma resposta

  1. Que relato incrível, me emocionei ao ler. Meu sonho é ter filhos de parto natural, mas confesso que bate um medo e uma dúvida se vou conseguir ou não, porém depois de um relato como esse, eu busquei inspiração para enfrentar tudo. Parabéns pela família.

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