O documentário The mask you live in (trailer abaixo) trata dos sentidos atribuídos à masculinidade na cultura americana. A diretora, Jennifer Newson, a mesma de Miss Representantion, mostra como os meninos, por conta de uma cultura extremamente machista e opressora, acabam colocando uma “máscara” para esconder suas vulnerabilidades. Não há possibilidade de falar sobre emoções, muito menos de chorar.

O documentário (disponível no Netflix) merece ser visto por pais, educadores e por todos os interessados em uma sociedade menos massacrante para meninos, pois mostra justamente a construção do que é a “masculinidade”. A partir de diversas experiências, na família, na rua ou na escola, os  meninos vão aprendendo o que se espera deles como “homens”. Exemplo disso é que por volta dos cinco anos um menino já tem a noção de que não deve chorar em público. Outro aspecto que fica evidente no documentário é que as crianças aprendem, desde cedo, a desvalorizar tudo o que é feminino e rapidamente expressões como “filhinho da mamãe” e “mulherzinha” viram ofensas. Todos sabem que não devem “jogar como meninas”. Veja aqui mais uma reflexão interessante sobre como a masculinidade aparece nos filmes.

E quais são os resultados desta cultura? Solidão, tristeza, sofrimento, suicídio. Nos EUA, um em cada quatro meninos sofre bullying na escola, mas apenas 30% pedem ajuda a um adulto. Entre 10 e 14 anos, fase em que eles passam a falar ainda menos sobre seus sentimentos, as taxas de suicídio começam a aumentar no país, o que culmina na terrível estatística de que três meninos tiram a própria vida por dia.

 

Tudo bem que o documentário fala da sociedade americana, mas certamente podemos traçar paralelos com a sociedade brasileira. The mask you live in é importante porque mostra que o machismo é ruim não só para as meninas, mas também para os meninos, que se veem muitas vezes impelidos a exibir comportamentos agressivos e desrespeitosos para cumprirem com as expectativas sociais sobre masculinidade. Não estou querendo com isso justificar qualquer tipo de assédio ou violência, mas sim refletir a partir de que contexto tais atos se tornam possíveis.

E o que a gente pode fazer pra mudar essa triste realidade? Creio que podemos começar falando mais com nossos meninos sobre dor, tristeza, frustração. Precisamos ouvi-los – em vez de reprimi-los. Mas como? Pense na cena: a criança caiu um tombo feio e a gente diz : “não foi nada”, “já passou”, “não precisa chorar”. Precisa sim, se é isso que ela sente que precisa fazer. Vamos libertar o choro das crianças – e dos meninos, em especial. Se você, adulto, tivesse caído de cabeça no chão, como se sentiria? Vamos acolher a criança machucada, independente da idade, e mostrar nossa empatia com a dor dela: “eu sei que doeu, mas estou aqui com você e vai passar” talvez soe um pouco melhor. Empatia, gente. Pode chorar. P-o-d-e  c-h-o-r-a-r.

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