As vivências das mulheres são as mais diversas possíveis, fato. E quanto mais você conversa, mais claro isso fica. Vira e mexe, nessas conversas, sinto um incômodo que acho difícil explicar. Mas vou tentar. 

Quando rola aquele papo sobre desigualdade dentro de casa e na criação dos filhos, sempre aparece uma ou outra dizendo que seu marido não se encaixa, que ele não é “tão ruim”, que ele lava a louça ou passa suas camisas, além de dar banho, trocar a fralda e colocar o filho ou filha pra dormir. Obviamente o cenário varia enormemente. Esse é só um exemplo. E ninguém sabe ao certo o que acontece entre quatro paredes. E isso depende mesmo de muitos fatores. Depende da rotina de trabalho de cada um, depende da história pessoal, depende do jeito que cada um encara a vida. Mas em geral sinto que as mulheres carregam tanto quanto os homens e às vezes até mais machismo no seu modo de ver as coisas. 

A questão é que em tempo algum o ponto de partida para homens e mulheres é igual. Aliás é tão desigual que é invisível em boa parte do tempo. E é sobre essa necessidade de tornar visível essa diferença grotesca que o feminismo de hoje tanto insiste. 

Na verdade, trata-se do conceito de maternidade e paternidade corrente em nossa sociedade. E não deste ou daquele pai ou desta ou daquela mãe em particular. É do modelo social. É de todo mundo. 

Antes de ser mãe eu vivia completamente alheia a qualquer destas questões e senti que caía de paraquedas num terreno nebuloso. Lembro que logo que meu filho nasceu, ouvi dizer que quando um bebê nasce a gente deveria passar a maior parte do tempo do mundo com ele porque isso é tudo o que ele precisa. E isso segue fazendo sentido pra mim. E é óbvio pra quase todo mundo. Só que esqueceram de dizer que esse a gente se referia, na verdade, à mãe. Quer dizer, a mãe sim, necessariamente, e o pai, talvez, se der. Depois eu descobri ainda que isso é impossível de fazer porque nem a mãe mais consciente ou aquela que abdica de absolutamente tudo consegue. Porque sozinha nem a mulher maravilha dá conta. Nem Maria nem ninguém mesmo.

Curioso é que toda vez que escrevo sobre essas coisas me assusto com a obviedade do que digo. Só que não. Nem óbvio. Nem claro. Nem nada.

Quero falar dessa estranha frustração que é descobrir que você não é capaz de criar seu filho sozinha. Frustrante sim porque eu acreditei no que me disseram. E eu fiz de tudo para conseguir. Tudo mesmo. Até entender que não, que não era isso. Na verdade, quando percebi o tamanho da minha solidão e a das mães ao meu redor, ficou claro que não tem criação com apego ou valorização da vida sem muito feminismo embutido.

Criar um filho é dividir responsabilidades. E sobretudo no começo da vida a base dessa responsabilidade está ligada ao tempo. Mais especificamente, ao tempo que você passa junto, ali no tête-à-tête com o seu filho, independente de você ser a mãe ou o pai. E o que acontece, na grande maioria dos casos, é que a mãe assume integralmente essa e todas as outras partes. E a sociedade acha isso normal, vê com bons olhos. E é exatamente nesse ponto que ela deixa de ver essa mãe exausta e solitária. É ali que ela se torna invisível junto com suas necessidades e muitas vezes as do seu bebê também.   

E eu levei uns dois anos para compreender do que se tratava. E olha que não passei um dia sequer – desde que meu filho nasceu – sem ler ou conversar à respeito com outras pessoas. Eu acreditei mesmo. Eu abracei “a causa”. E fracassei. Ainda bem. 

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