A série americana 13 Reasons Why, baseada no livro homônimo de Jay Asher, está causando um rebuliço no mundo todo. No primeiro final de semana após seu lançamento no Netflix, discussões bombaram no Twitter em torno da hashtag #NaoSejaUmPorque. Assisti aos episódios em poucos dias e acredito que a série levanta várias discussões, como machismo, bullying, estupro e suicídio.

Entre as reações à abordagem de temas tão pesados, há aqueles que defenderam a série e outros que sugeriram não assisti-la. Para além da discussão sobre suicídio, 13 Reasons Why  – que já tem uma segunda temporada confirmada – trata de machismo numa fase muito delicada da vida, especialmente de meninas, que é a adolescência – e é sobre isso que queremos falar. Precisamos falar. Sobre o quão devastador o machismo pode ser para uma garota de 17 anos.

SPOILER: a partir de agora vou comentar cenas dos episódios e se você quiser ser surpreendido pelo suspense da trama, pare de ler aqui.

A protagonista Hannah sofreu violências contínuas por ser mulher. E, no limite, essas violências fizeram com que ela desejasse tirar a própria vida. Foram diferentes tipos de abusos, cometidos por diferentes pessoas, que acabaram minando sua capacidade de acreditar que viver de outro jeito era possível.

Divulgação de fotos íntimas | A primeira violência sofrida por Hannah foi a divulgação de uma foto íntima de um encontro com seu namorado. A partir daí, ela passou a ser assunto na escola inteira e a ter fama de “menina fácil”. Mas por que somente as meninas são alvo de humilhações quando fotos íntimas vazam? E os meninos presentes ou autores das fotos? E aqueles que compartilham? No Brasil, gerar e compartilhar conteúdo íntimo sem autorização é crime. E, para além disso, vamos falar sobre prazer feminino? Por que as meninas não podem gostar de sentir prazer? De beijar, de ser tocadas, de fazer sexo, de serem fotografadas? Por que meninos que trocam carinhos com pessoas do sexo oposto (ou do mesmo sexo) são considerados garanhões e as meninas que estão do outro lado, também trocando carinhos, são consideradas vagabundas? Precisamos – urgentemente – libertar o prazer feminino. Atenção: é ok que meninas sintam prazer. Se você tem algum problema com isso, bem, problema seu, apenas aceite o fato.

Bullying | Uma segunda violência sofrida pela adolescente foi ganhar o “título” de melhor bunda em uma lista que passou a circular no colégio. E ainda tem gente que acha que ser reconhecida como a dona de um belo trazeiro é um elogio. Não é. É assédio sexual. Por conta de episódios como estes é que campanhas como a Chega de Fiu Fiu são tão importantes. Nós mulheres, somos seres humanos e não pedaços de carne. Não somos objetos a serem julgados em suas “partes”. Somos inteiras, temos sentimentos e queremos ser respeitadas. Meninos, simplesmente parem de tratar meninas como objetos para sua admiração e prazer.

Violência psicológica | Outra forma de violência que Hannah sofreu foi perseguição por um colega da escola, que passou a fotografá-la, sem autorização. Foram fotos tiradas através da janela, quando a adolescente estava em casa, trocando de roupa. Ou seja, uma menina de 17 anos teve sua privacidade, sua intimidade invadida por um estranho. Por uns tempos, passou a não conseguir domir. De medo.

Estupro | Quando Hannah já estava desesperada, sem ver muita esperança em um futuro fora desse meio violento e cruel, decide caminhar para espairecer. Meio sem querer, acaba entrando em uma festa de colegas de escola. E ali é estuprada por aquele que apalpou sua bunda alguns episódios atrás. Mais uma violência. Brutal. Sexual. Por ser mulher. Ainda me arrepio de lembrar da cena. Hannah decide que chega, que não quer mais sofrer. E acaba vendo no suicídio um caminho. Que não é o melhor. Que nem deveria ser um caminho.

A série também mostra alguns pedidos de ajuda feitos pela protagonista, na forma de desabafos, bilhetes, cartas e textos anônimos. Alguns conhecidos fizeram troça destas tentativas, outros não tiveram tempo para ouvi-las, ou nada fizeram. Hannah foi muitas vezes taxada de “drama queen”, de ser complicada, de pensar que o mundo girava apenas em torno dela. É claro que a série é muito mais complexa e mostra diversas outras razões e nuances do sofrimento da protagonista. Suicídio nunca tem uma causa única, é sempre um conjunto complexo de fatores. Mas precisamos contextualizar o ambiente daquele colégio como uma ambiente machista, precisamos reconhecer que a personagem sofreu diversas violências de ordem sexual, que foi objetificada por ser mulher, que foi estuprada. E tudo isso precisa parar.

Machismo mata. E não só na ficção.

Fique atento a sinais de alerta de comportamento suicida como frases de alarme (“não aguento mais”, “queria sumir”), mudanças bruscas de comportamento, melhora repentina após um período muito difícil, problemas mentais, depressão e abuso de drogas. Lembre-se que depressão é uma condição tratável. Procure ajuda. Converse. O telefone do Centro de Valorização da Vida é 141. Você também pode falar por Skype, chat ou e-mail.


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