Em um desses finais de semana chuvosos, típico de outono, estava eu, procurando algo de interessante na Netflix. Controle na mão, indo e vindo nas trocentas opções (e ainda assim na dúvida), finalmente, encontrei a série brasileira Coisa Mais Linda.

Maratonei naquela mesma noite. Tamanha paixão pelo tema, engasguei com o choro, chorei, fiquei com raiva, pensei, agi. Sobre a enxurrada de sentimentos, falo daqui a pouco.

O nome da série vem da música Garota de Ipanema, composta por Antônio Carlos Jobim e escrita por Vinícius de Moraes em 62. Retrata a vida de mulheres dos anos dourados (década de 60) no Rio de Janeiro.

Contexto dado, é hora de problematizar o conteúdo da série 

Por mais que, para encantar o público, a realidade seja um tanto distorcida, ainda assim, tem muita verdade, trazendo à tona questões enfrentadas pelas mulheres naquela época (e ainda hoje).

Violência sexual, desencorajamento às mulheres para gerir seus próprios negócios, intolerância com as desquitadas, pessoas negras obrigadas a trabalhar servindo aos brancos (e também não podiam estar à frente das empresas).

Não sei como conseguiram abordar tantos temas polêmicos em apenas uma narrativa. Tem muito mais, mas não darei mais spoilers 

Sabe, tem dias que me sinto procrastinando ao assistir séries. Mas, é justo nesses momentos que os melhores insights surgem! Pois bem, vou te contar o que a indignação fez comigo.

#COISAMAISDOQUELINDA: um movimento

É na infância que inicia a construção do que somos quando adultos. Você já reparou os elogios direcionados aos meninos e meninas? Se nunca fez isso, procure observar.

A exemplo da música Garota de Ipanema, “linda” é o adjetivo comumente atribuído às meninas, garotas e mulheres. Vem antes de tudo. É como se fosse um pré-requisito para o sucesso feminino. Por outro lado, é incomum utilizar, antes de qualquer coisa, a definição “lindo” para os garotos.

Veja, não tem problema chamar de linda ou lindo, a questão é que esse tipo de elogio não deveria ser prioridade, para nenhum dos gêneros. Esforçada, inteligente, esperta e até mesmo foda (sim, F-O-D-A) são os adjetivos mais indicados.

Perceba que são atitudes simples, nada mirabolante e que podem fazer uma p*** diferença na vida de um ser. Somadas essas pequenas atitudes, quem sabe podemos, inclusive, mudar a cultura de uma sociedade, hein? 

Mas não para por aí. Tô ansiosa para contar para você o que surgiu de um sábado chuvoso e aparentemente inútil na frente da Netflix.

Juntas somos mais fortes

Clichê? Ok. Mas, pura verdade. As pequenas ações, executadas sozinhas, impactam devagarinho. Agora, se puder potencializar os resultados? Melhor ainda, não é mesmo?

Promovi uma roda de conversa com o nome “Igualdade de gênero: que barreiras nos impedem de chegar lá?” e convidei a comunidade a participar.

Eu precisava de um nome para o grupo que estava surgindo. Foi então que a série Coisa Mais Linda (que não saía da minha cabeça desde então) inspirou o que chamamos hoje de Coisa mais DO QUE linda. Rolou até bottons, dá uma olhada:

Botom do Coisa mais do que linda

Eu, como “bicho do mato” assumida, estava cheia de medos e ansiedades com um encontro presencial. Meu negócio é escrever, poh! Mas gente, vocês não tem noção da riqueza das discussões, da troca de energia, da vontade de querer fazer mais.

Dessa conversa surgiram várias soluções e um grupo engajado em fazer acontecer. Então, muitas novidades virão daqui para frente!

Como fazer chegar a mais pessoas?

Tem uma questão que não sai da minha cabeça. Conversando com o grupo Coisa mais DO QUE linda e até mesmo com a fundadora do Fala Frida (que tem mais tempo de estrada), não entramos em um consenso de como alcançar mais pessoas.

Encontro do grupo

Perceba, na foto, que nosso grupo é formado por mulheres brancas, héteros, com profissão e ensino superior. Nossa realidade é diferente de mulheres da periferia, negras, homossexuais. O que elas passam, nós, em sua maioria, nunca vivenciamos. Só quem sente na pele certos preconceitos pode emitir um verdadeiro relato.

Muitas pessoas não fazem ideia do que é o movimento feminista. Há um estereótipo enraizado e difícil de desconstruir.

Defendo uma linguagem simples e a conscientização feita de maneira leve, sem imposições, aos poucos. Mas sinto que poderia fazer mais para alcançar pessoas fora da nossa bolha social.

Se você tem ideia de como fazer isso ou se tiver interesse em debater o assunto, posta nos comentários ou me manda uma mensagem. Sua opinião, e mais do que isso, sua ajuda, é muito importante para fazermos com que todos entendam que nós, mulheres, somos Coisa mais DO QUE linda.

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