Dormir perto do filho é uma das melhores coisas da vida de pai e mãe. Essa foi a conclusão de uma conversa que tivemos recentemente, eu e meu companheiro. Se pensarmos instintivamente, parece ser a coisa mais óbvia a fazer com um recém nascido, não? Você consegue imaginar um bebezinho que não sabe nada do mundo e que às vezes nem tem força pra reclamar dormindo sozinho? Não parece fazer muito sentido. E, mesmo que hoje em dia se fale mais sobre co-sleeping ou cama compartilhada segura, vejo que muitos pais não sabem o que é, não se permitem ou tem preconceito sobre essas práticas, então penso que vale a conversa.

No final de 2016, a Sociedade Americana de Pediatria revisou suas recomendações sobre sono seguro e atualmente recomenda o co-sleeping, ou seja, que os bebês durmam no mesmo cômodo que os pais, mas não na mesma cama. E isso vale para o primeiro ano de vida da criança ou, no mínimo, pelos primeiros seis meses. Nesse arranjo, o bebê pode dormir em um moisés, berço convencional perto da mãe ou em um berço acoplado como na foto.

Aqui no Brasil existe muita polêmica sobre a cama compartilhada, que é dividir a cama dos pais com o bebê. A Sociedade Brasileira de Pediatria é contra. Uma das questões envolve a crença de que a prática pode causar sufocamento ou a temida síndrome da morte súbita em bebês. Só que os estudos não são conclusivos nesse sentido. Inclusive, algumas pesquisas indicam o contrário, ou seja, que a cama compartilhada previne a morte súbita – justamente pelo fato de a mãe dormir perto do bebê e estar apta a socorrê-lo caso algo aconteça. Além disso, colchões fofos demais, travesseiros, almofadas e protetores de berço também oferecem risco de sufocamento, especialmente se o bebê estiver dormindo sozinho e ninguém perceber que há algo sobre sua cabeça.

Proporcionar um sono seguro para o bebê vai além de praticar ou não cama compartilhada e tem a ver com bom senso. Hoje em dia é consenso que se os pais fumarem, beberem, usarem algum medicamento pesado ou forem obesos, aí a cama compartilhada é desaconselhada. Além disso, o colchão deve ser firme, não se deve usar cobertas pesadas e o bebê deve sempre dormir ao lado da mãe, pois seu sono costuma ser mais leve. Outra recomendação importantíssima, independente do local, é que a criança durma sempre de barriga pra cima.

Apesar das críticas, vale lembrar que dormir junto com os filhos é uma prática tradicional em diversas culturas ao redor do mundo. Não dormir perto é que é um arranjo ocidental. E, para além das pesquisas científicas, a cama compartilhada tem auxiliado muitas famílias a dormir melhor. Existe uma corrente de criação de filhos chamada de Criação com Apego (entenda melhor o conceito aqui e aqui) que, entre diversas outras coisas, estimula esta prática. O pediatra espanhol Carlos Gonzalez também é um entusiasta. Estou certa de que o co-sleeping e a cama compartilhada não são arranjos que favorecem todas as famílias, mas podem trazer muitos benefícios, e é sobre isso que eu quero falar.

Dormir junto favorece a amamentação | Mesmo antes do meu filho nascer, eu não conseguia cogitar a possibilidade de, no meio da noite, levantar, ir até outro quarto, pegá-lo no berço, sentar numa poltrona de amamentação, amamentar, colocá-lo pra arrotar e depois colocá-lo de volta. Uma, duas, três vezes por noite. Tanto que nem comprei berço ou poltrona de amamentação. Então o co-sleeping foi a solução pra nós. Durante os primeiros seis meses, Guto dormiu em um berço que acoplava à minha cama. Essa forma de dormir facilitou muito as mamadas da madrugada. Eu simplesmente sentava na cama, dava mamá, deixava-o em pé por alguns minutos, devolvia pro bercinho (que estava à distância de um braço) e voltava a dormir. Só despertava o suficiente pra fazer isso e, em nenhum momento, precisava levantar. Uma pesquisa publicada na Inglaterra mostrou que mães que dormem junto com seus filhos também tendem a amamentar por mais tempo.

Todo mundo dorme melhor | Co-sleeping ou cama compartilhada não significam que você vai dormir colado no seu filho sem se mexer a noite toda, embora isso possa acontecer em alguns momentos, caso alguém precise. Com o Guto pertinho, sabendo que a qualquer movimentação eu poderia acodí-lo, eu e meu marido dormíamos muito melhor. E, como consequência, o pequeno também. Às vezes, só de esticar o braço e tocá-lo, ele já se acalmava e voltava a dormir. Era literalmente só abrir os olhos e verificar se ele estava bem. Fomos felizes com o berço acoplado até que ele começou a sentar e querer ficar em pé. Aí tivemos que pensar em um novo arranjo e colocamos nosso colchão direto no chão e, ao lado dele, um colchão de solteiro, na mesma altura. Parecia um acampamento, mas  deu muito certo!

Você pode oferecer a segurança do seu corpo | Muitos pais evitam dormir junto porque têm medo de que os filhos nunca mais durmam sozinhos e se tornem inseguros e dependentes. Bem, crianças são inseguras e dependentes, especialmente bebês. E eles têm que ser, é natural que sejam. Acredito que é precisamente oferecendo todo o amor e segurança física que eles precisam em cada fase da vida (inclusive durante a noite) é que eles vão, devagarinho, se tornando independentes. Não me parece factível que dormindo em um quarto sozinho desde o primeiro ou terceiro mês de vida eles se tornem “bebês independentes”. Essas duas palavras nem ficam bem juntas. E você pode colocar fim no co-sleeping ou cama compartilhada quando o arranjo não estiver mais funcionando para qualquer uma das partes. No nosso caso, durou um pouco mais de um ano. Veja aqui e aqui relatos de crianças que foram, por conta própria, dormir em seus quartos.

Cama compartilhada e sexo | Precisamos falar disso também, já que é uma preocupação de muitos casais. O Paizinho Vírgula fez um vídeo muito bacana sobre esse e outros mitos da cama compartilhada. Existe uma pressão muito grande da sociedade para que o casal volte a fazer sexo logo, assim que a quarentena passar, na mesma frequência que antes. Só que a chegada de um filho é uma mudança brutal na vida de um casal e percebo que falta empatia e paciência, de todos. Especialmente com essa nova mãe. Não esqueçam que ela vai estar se recuperando física e emocionalmente de um parto, que pode ter sido vaginal ou cirúrgico. Ela vai sangrar por semanas a fio, não vai reconhecer seu corpo, sua barriga vai estar mole, ela vai cheirar a leite, seus peitos estarão tudo menos sexy. Ela estará muito, muito, muito cansada, porque mesmo no melhor arranjo de sono possível, não vai dormir o suficiente por meses ou anos. Vai estar emocionalmente comprometida em proporcionar calor e conforto pra esse bebezinho que ela nem conhece direito. Os hormônios estarão totalmente focados na amamentação e não vai sobrar nem unzinho pra libido ou pra lubrificação vaginal. Sorry to say. Mas é mais ou menos assim que ela vai estar por um tempo. E aí você ouve que o casal precisa preservar sua “intimidade”… Jura? Pois bem, sexo após o nascimento de um bebê pode demorar a acontecer e não será a cama compartilhada ou o co-sleeping os culpados. Pelo contrário, se funcionarem, podem fazer com que essa mãe se recupere mais rápido desse turbilhão todo e volte a se interessar por sexo. No tempo dela. Intimidade tem a ver com uma família emocionalmente conectada com o estado do pai, da nova mãe e desse bebê. A boa notícia é que é uma fase. E vai passar. Além disso, existem outros lugares na casa pra transar assim que os dois estiverem prontos pra isso.

O que quero dizer com tudo isso é que o arranjo de sono de uma família é uma questão muito íntima e não interessa a ninguém que esteja da porta pra fora. Não temos que nos justificar por fazer de um jeito ou de outro. Necessário é dormir. Também não quero dizer que quem coloca o bebê pra dormir em um quarto separado desde o começo está fazendo errado. Se isso funciona pra família, está ótimo. O objetivo desse post foi contar o que deu certo aqui em casa por um determinado período e esclarecer um pouco o que é co-sleeping e cama compartilhada.

Também quero dizer que dormir coladinho no meu filho é uma das experiências mais encantadoras que a maternidade me proporcionou. É uma sensação de que nada no mundo de ruim poderá acontecer, é um sentimento de amor total. Até hoje, mesmo dormindo no quarto dele, ele tem acesso livre à nossa cama, se quiser ou precisar. E isso é muito, muito bom. Sei que logo ele vai crescer e que esses momentos ficarão mais e mais raros. Por isso, vou tratar de aproveitar enquanto posso! E por aí, como são as noites?


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2 respostas

  1. Sempre achei uma crueldade deixar um serzinho desprotegido dormir sozinho num quarto escuro, assim como nunca gostei de deixar chorar e o colo pra mim foi de livre demanda. Mas aos três meses fiz a transição porque eu sou um ser humano que precisa de individualidade e o meu quarto é um espaço sagrado, é onde eu me recolhe e me desconecto, inclusive, dos filhos, sou do time de mães seres humanos. Meus filhos sempre tiveram acesso ao meu quarto, a minha cama e ao meu quarto e até hoje acolho a minha pequena que já vai fazer dez anos na minha cama numa noite de pesadelo. Enfim, cada um pode encontrar seus ajustes sem julgamentos e culpas!

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