Quem tem crianças, sabe: resolver as coisas do dia a dia ou passear em lugares públicos com elas pode ser muito desafiador. Quem tem um filho pimentinha como o meu que adora explorar tudo e correr pra longe da mamãe, passa alguns sufocos. Mas não é só isso: a “rua” ainda é um lugar inóspito para as crianças.

Não estou dizendo que todos os restaurantes do mundo deveriam ter um espaço kids (embora que mundo maravilhoso e acolhedor seria esse, não?). Tolerar crianças, hoje em dia, já é algo digno de nota. Estou falando de não olhar com cara feia quando a criança derruba alguma coisa (é, crianças fazem isso). É trazer uma folha de papel e giz de cera na mesa enquanto a comida não vem. É ter um trocador à disposição. É olhar com simpatia quando se chega com um bebê no colo. É oferecer ajuda. Qual é o custo desse tipo de coisa?

Dia desses fui com meu filho de quase 3 anos, num chaveiro. Ele ficava em uma rua super movimentada e não tínhamos muito o que fazer enquanto o homem programava os controles de portão que eu havia solicitado. Inventei tudo o que pude com o balão que Guto havia ganhado do vendedor de uma loja minutos antes (viva a decoração da Copa!). Quando não aguentei mais correr atrás dele, o coloquei sentado sobre o balcão. Ao brincar com um dos controles, esse caiu no chão. O chaveiro ficou irado. Esbravejou e me falou um monte de coisas pouco amigáveis. Vai ver foi por isso que me cobrou mais do que havíamos combinado previamente.

Colocar filhos e filhas no mundo muda as pessoas. Inclusive a carreira delas. Quantas histórias bacanas a gente vê por aí de homens e mulheres que perceberam demandas que antes nem existiam e passaram a vender fraldas ecológicas ou abriram espaços de lazer/cultura/trabalho que acomodam crianças? É um movimento lindo de se ver.

Mas será que é só virando pai ou mãe é que as pessoas passam a ter essa consciência? Não tem outro jeito de termos empatia com o outro a não ser passando pela situação? 

Em Londres, onde morei por algum tempo, lembro de pirar com o acolhimento que certos lugares ofereciam aos pequenos. A maioria dos museus tinha uma seção para as crianças interagirem, muitas lojas acomodavam um espaço kids em algum canto e conheci até os “family pubs”, bares que recebem pais e mães com suas crianças em determinados dias ou horários. Lá, pouquíssima gente tem babá ou alguém com quem deixar as crianças, fora a escola. Então pra onde se vá, elas vão junto. E os lugares públicos simplesmente precisam responder a essa demanda.  

Crianças são pequenos cidadãos em formação e não “projetos de gente” ou “meias” pessoas. Ao nos referirmos a eles desta maneira, lhes roubamos a humanidade. Sim, porque crianças são seres humanos inteiros.

E meu filho não é só responsabilidade minha e do meu marido. De um certo modo, ele é de todos nós, de toda a sociedade. Porque se você aí que decidiu não ter filhos ou já criou os seus acha que não tem obrigação de aceitar e respeitar outras crianças, não esqueça que talvez o meu filho pague a sua aposentadoria e cuide de você quando você envelhecer. 

Respeito tem a ver com poder circular pela cidade. E quando as crianças não são bem vindas em certo hotel ou restaurante, elas estão sendo cerceadas. E, consequentemente, seus pais e mães, especialmente suas mães, geralmente as principais cuidadoras. Ah, mas elas fazem muito barulho e incomodam – alguém pode argumentar. Pode até ser. Mas adultos também fazem barulho e incomodam – e isso é lá razão suficiente pra proibir sua entrada em algum lugar? Troque o “proibido crianças” por “proibido idosos” (ambos envolvem discriminação por idade) ou “proibido negros”. Como isso soa agora? Inaceitável, certo? Então bora construir uma sociedade mais inclusiva!

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