Em um dia daqueles que você quer relaxar a mente, apertar no botão power do controle da TV e ir à caça de futilidades para assistir na Netflix, acabei encontrando uma joia rara, daquelas que você maratona junto ao seu balde de pipocas sem ao menos ver a luz do dia lá fora.

A série documental Amor e Sexo pelo Mundo protagonizada pela correspondente internacional da CNN, Christiane Amanpour, me encantou desde o primeiro episódio, e eu já vou lhe contar o porquê desse amor à primeira vista.

Mas antes de prosseguir, eu preciso confessar. Falar sobre amor e sexo é tão tabu, que me peguei pensando várias vezes: “Será que rola falar sobre esse assunto?”, “Não vejo ninguém falando sobre!”, “Talvez eu esteja sendo muito ousada, não?”.

Foi nesse momento que olhei para frente e relembrei um dos meus objetivos na Terra: como um ser apaixonado em estudar e compartilhar o que conheço sobre a cultura dos diferentes povos ao redor do mundo, me vejo na função de quebrar tabus e abordar temas que são curiosos a todos, mas que nem todo mundo se sente a vontade para falar.

Bora navegar nesse universo desconhecido?

Sobre a série: Amor e Sexo pelo Mundo

O documentário em formato de série foi lançado em 2018 e conta com 6 episódios. Em cada um deles, Christiane Amanpour entrevista adultos em grandes cidades do mundo e conta como o amor e o sexo são encarados nas mais diversas culturas, tanto no ocidente quanto no oriente.

A correspondente internacional trabalhou durante muito tempo cobrindo a vida política e conflitos de rua ao redor do mundo, e agora ela teve a ideia de voltar seu olhar para dentro das casas dessas pessoas. A escolha do novo projeto deixou seus chefes surpresos, considerando a mudança brusca de assuntos.

Segundo a jornalista: “Tive essa ideia enquanto escovava os dentes, em casa. O rádio noticiava a guerra na Síria. Pensei naquelas pessoas tentando manter a dignidade no meio de um derramamento de sangue. Como aquelas mulheres sírias mantêm suas filhas a salvo de um casamento forçado? Elas falam de sexo?”

E foi assim que nasceu esse brilhante documentário, gravado nas seguintes cidades até o momento: Tóquio (Japão), Délhi (Índia), Beirute (Líbano), Berlim (Alemanha), Acra (Gana) e Xangai (China).

Amor e sexo em Tóquio

O contato físico é um tabu nessa cidade, assim como em todo o Japão. Beijar ou abraçar em público? Raríssimo de se ver! E aqui não estamos falando apenas de relações amorosas, até mesmo entre pais e filhos o toque é incomum. A maioria dos casais que têm filhos banem o sexo da relação, e as mães passam a dormir com as crianças. Para suprir a carência de afeto, alguns clubes de toque na pele estão espalhados pela cidade, sinalizando que mesmo não sendo um costume o contato físico entre os japoneses, todo ser humano precisa de carinho, não é mesmo?

Amor e sexo em Délhi

Casamentos arranjados ainda são comuns em toda a Índia. Ainda que Délhi seja a cidade mais moderna do país, a intimidade até os dias de hoje pode ser governada pela família, tradição e religião. Casar por amor? Esse é um tipo de relacionamento raro na cultura indiana. O que define os laços matrimoniais são as castas e a religião. O casamento entre hindus e muçulmanos é proibido por lá. Muitos casais se conhecem apenas no dia do casamento, e estão proibidos de se encontrarem em lugares públicos, sob o risco de serem agredidos caso haja algum contato físico. Todas essas restrições obrigam inúmeros jovens a procurarem abrigos para viverem seu grande amor longe dos olhos da família.

Amor e sexo em Beirute

A definição de sucesso para a maioria das mulheres em Beirute é casar, e ter uma família. Mas para isso acontecer, a virgindade deve ser mantida até o casamento. Não se fala sobre sexo nas escolas, e nem em casa, e muitos chegam ao matrimônio às cegas, sem saber o que fazer na noite de núpcias. Mulheres têm direitos nulos ao pedir o divórcio. É o homem quem fica com os filhos, e não há partilha dos bens entre o casal. Muitas jovens estão pouco a pouco se libertando dos dogmas religiosos, optando por uma vida sexual expressiva e sem remorso, desconstruindo a ideia de que os muçulmanos são conservadores e oprimidos, e apenas os cristãos podem viver livremente o amor e o sexo.

Amor e sexo em Berlim

País pioneiro na liberdade de expressão, sua capital não seria diferente. Seus cidadãos estão abertos ao sexo e ao amor de forma enérgica e criativa. Praias nuas, fetiches inusitados, e até professores de sexologia para refugiados é o que você vai presenciar nos relatos contados nesse episódio. Trata-se de um verdadeiro choque cultural se comparado aos demais lugares que Christiane Amanpour passou.

Amor e sexo em Acra

A religião cristã é quem dá o tom de todo o amor, sexo e relacionamentos em Acra, capital de Gana no continente Africano. Existe uma hierarquia em que os homens se relacionam com esposas, amantes e namoradas, seguindo essa ordem de importância. Isso tudo com o consentimento das companheiras. Para um relacionamento dar certo, o homem tem que ter seus desejos atendidos primeiro, para depois a mulher pensar nas suas vontades. Há um movimento expresso em programas de rádio e de TV em que algumas mulheres estão tentando desconstruir essa cultura do homocentrismo acraniano, e tem surtido efeitos positivos, segundo elas.

Amor e sexo em Xangai

A carreira e a educação são priorizadas pelos jovens antes de se casarem. Ainda há o conservadorismo nas relações, mas existe uma forte pressão por mudanças nas regras culturais do namoro. É possível perceber que Xangai está se tornando cada vez mais aberta, aceitando expressões de amor, porém imagens sensuais ou de nudez são proibidas na TV, na internet e nas revistas. Cursos para saber como se portar em um primeiro encontro são bem comuns, até mesmo para adultos com quase 30 anos de idade. Tudo isso pelo fato de terem o costume de se relacionarem apenas quando estão estabilizados profissionalmente.

Amor e sexo no Brasil

Não, Christiane Amanpour não esteve no Brasil entrevistando esse povo que se diz liberal, e que adora se expressar por meio de contatos físicos, com beijos e abraços por todos os lados. Mas, e se ela contasse nossa relação com o amor e o sexo, o que acha que ela falaria? Quais as conclusões tiraria daqui? Para um país que se diz liberal, mas preza pelos bons costumes, e critica programas como Amor e Sexo apresentado por Fernanda Lima, e diz que meninas devem vestir rosa e meninos azul, talvez ela se deparasse com um grande conflito interno por aqui. Não estamos nem para Japão, e muito menos para Berlim. Temos um jeito muito peculiar de construir relações. Poderíamos dizer que trata-se de um caso a ser estudado a fundo pelos cientistas humanos ao redor do mundo, você não acha?

E então? Acha que o tema amor e sexo continua sendo um tabu? Conhece a cultura do amor e sexo em outros países do mundo?

 

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