A vida de mãe me rendeu vários grupos de Whatsapp. É grupo de desapego de roupas de bebê, grupo de dança materna, grupo de amigas de infância que se tornaram mães e por aí vai. Então são muitas as discussões que acontecem diariamente nestes grupos. E existe muito acolhimento materno. Que bom. Mais amor por favor.

Mas também rolam algumas polêmicas. Dia desses uma mãe contou que havia sido proibida pelo médico de ter relações sexuais por um tempo. Aí ela lançou no grupo, em tom de brincadeira, a seguinte questão: o que fazer diante desta proibição quando seu marido volta de uma longa viagem?

Bem, não é óbvio pra você também? Se você está de acordo com a recomendação médica, simplesmente explique para seu marido e tudo certo. Subentende-se que ele seja uma pessoa razoável, certo? Ou ele saiu só recentemente das cavernas e tem muita dificuldade com a palavra não?

Ela explicou que o marido chegava em casa cheio de tesão e que era muito difícil dizer não para ele, mesmo sem vontade. Meu primeiro ímpeto foi de mandar o marido desta amiga praquele lugar e acabei sugerindo, no mesmo do tom de brincadeira que ela havia iniciado a conversa, que ele deveria ir ao banheiro resolver seu “problema” sozinho, afinal é um adulto responsável por seu próprio prazer.

Mas a pergunta que ficou martelando na minha cabeça nos dias seguintes foi: por que ainda é tão difícil levarmos em consideração o desejo da mulher?

Trago esta pergunta para reflexão porque esse é um tipo de comentário que volta e meia aparece nos grupos de mães: o marido quer sexo e eu não quero, mas me sinto obrigada a fazer por muitas razões. Que razões são estas?

Bem, uma delas é que muitas mulheres acreditam que se não transarem com o marido sempre e do jeito que ELE quiser, aumentam exponencialmente suas chances de serem traídas. Aquela velha máxima de que o macho vai procurar na rua o que não tem em casa. Minha resposta para esse argumento é a seguinte: é essa a pessoa que você escolheu para dividir sua vida? Uma pessoa que se você não quiser sexo, vai sair por aí transando com a primeira criatura que aparecer? Bem, eu simplesmente não desejo estar casada com alguém que faria esse tipo de coisa. Eu não admito ter esse tipo de preocupação. Simplesmente não aceito perder meu tempo com isso.

Além disso, muitas mulheres se sentem pressionadas para serem “deusas do sexo”, para enlouquecer seus parceiros de prazer, custe o que custar. Infelizmente esse é mais um dos papéis impostos sobre nós hoje em dia.  Afinal, se nosso “macho” gozar sempre, aí sim seremos incríveis. Mas o nosso prazer? Onde fica? Cadê os deuses gregos que se esforçam incansavelmente para nos proporcionar prazer? Bem, talvez nós mesmas devamos começar a lutar por isso. Destaco aqui uma reflexão incrível sobre a desconstrução de que ser uma deusa do sexo é dar prazer ao homem.

Algumas situações reforçam a necessidade de libertar o desejo da mulher. É o caso de uma amiga que teve um parto super respeitoso, natural, domiciliar e na consulta com o obstetra um mês após o nascimento do bebê, a pauta foi contracepção. Oi? Ela estava de resguardo, em pleno puerpério, com as partes íntimas ainda voltando ao normal após um evento dramático fisica e emocionalmente como um parto e o cara vem e sugere que já está na hora de se proteger contra outra gravidez… o que significa então que está na hora de fazer sexo… Mas já???

Em outra ocasião, estava conversando com o pai de uma amiga, portanto, um cara na faixa de 60 anos. A pauta era parecida. Eu defendia a importância dos direitos iguais entre homens e mulheres e ele colocou a questão do desejo do homem. Comentou que biologicamente os homens têm mais desejo sexual do que as mulheres. Será mesmo que eles têm mais desejo ou são ensinados a externalizar esse desejo enquanto que as mulheres são ensinadas a contê-lo? É comum os meninos passarem a infância inteira ouvindo que devem ser exploradores, que devem “pegar geral”, que ser agressivo é “coisa de homem”, enquanto que as meninas passam estes mesmos anos ouvindo “fecha a perna”, “senta direito”, “que roupa é essa?”, “você tem que se respeitar” e por aí vai. Ou seja, os meninos, que viram adolescentes, que viram homens, são estimulados a ter esse desejo pelas meninas/moças/mulheres e a colocá-lo em prática, ir atrás delas, a serem pegadores. Já as meninas são estimuladas a conter seu desejo, a não falar sobre isso, a não se masturbar porque é feio, a não conhecer seu corpo e os lugares que proporcionam prazer, além do fato, é claro, de que pega mal transar na primeira noite. Agora pro cara não pega mal. Como fecha essa equação? Com mulheres vadias e mulheres pra casar, é claro. E se o maridão chega de viagem querendo, ai de nós se não estivermos lá lindas, perfumadas e cheias de desejo. Em outras palavras, o velho e bom machismo nosso de cada dia.

Por isso, mulheres, empoderem-se! Não tem nenhum problema não ter vontade de fazer sexo mesmo que seu companheiro queira. Se você se sente pressionada, converse com seu parceiro e diga que os compassos não estão alinhados. Chega de submissão ao desejo do outro, vamos respeitar os nossos desejos!

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