Lendo o jornal de hoje, me deparei com mais uma matéria sobre isso: as contas que envolvem a dispendiosa atividade de parir alguém. Os preços com estudo, alimentação, vestuário e coisas do tipo. As cidades mais caras, as escolas, o peso sobre as famílias.

Toda vez que leio algo assim me dá uma sensação ruim, mas não porque não seja verdade. Ter um filho custa caro mesmo… quem também tem sabe de quantas coisas a gente precisa abrir mão por eles. E olha que não me considero uma mãe das mais desesperadas: como não faço a menor questão de fabricar um mini-executivo, não atolo os meus em atividades extra todos os dias da semana. Mas aprender a nadar é uma questão de segurança para o menor, e praticar algum esporte é questão de saúde para o maior. Atualmente é tudo o que fazem, fora a escola. Portanto, nada de aula de inglês com exceção das do colégio, nem nenhuma outra coisa que os tire da sagrada atividade de brincar pela manhã. Ainda assim, há muito tempo não faço uma grande viagem. Roupas e livros adoro comprar, mas preciso ser comedida. São muitos pratinhos a equilibrar e há programas de amigos ou parentes que nem sempre a gente acompanha. Filho custa caro, mesmo os filhos mais “baratos” – verdade.

Mas o que me incomoda nesse tipo de pensamento é que o que de mais caro o filho cobra da gente não aparece na conta, e isso não se mede em reais. Filho cobra da gente amadurecimento e coerência, e puxa… que conta alta. Cobra energia, mesmo quando sua bateria tem um pontinho vermelho só. Cobra também atenção, coisa que muitas vezes a gente não sabe dar nem a nós mesmos. E filho cobra tempo, algo escasso e mais precioso que dinheiro, até porque este último – ainda que perdido – você recupera; o primeiro, não.

Um filho nasce e a partir daí tem alguém lá, dependendo de você. Então, mesmo nas noites mais escuras, o negócio é arrumar coragem, levantar a cabeça e seguir em frente sabe Deus como, pois a gente perde até o direito de desistir: jogar a toalha está fora de cogitação.

O custo de um filho envolve muito mais do que contas. O filho envolve a sua vida, seu sono, seus sonhos. Ele quase engole o seu dia a dia e seus planos de longo prazo. Até você perceber que ele é seu maior e melhor plano de longo prazo. E o fato de eles crescerem não sei se alivia a conta, porque pelo que vejo os problemas vão mudando, mas a preocupação em vê-los bem e se desenvolvendo continua e ocupa o mesmo pedação da vida da gente.

Somado a tudo isso, o que mais me deixa invocada em matérias como essa é que nada se fala sobre o investimento que o filho representa. Sim, porque se falamos de custo, vamos igualmente falar de retorno. Já que é pra tratar a coisa assim, filho é um investimento também. Embora isso não caiba na seção de Economia do jornal, decidir ter um filho é um ato de esperança, é acreditar. Implica reconhecer a bagunça que esse mundo é, enxergar tudo de ruim que ele tem e, mesmo assim, fazer uma aposta no amanhã. Escolher dar à luz, ter esse privilégio e aceitar o desafio são o sinal mais vivo que eu consigo enxergar de ter fé e considerar que estar aqui vale a pena. Cuidar de alguém e ensinar a essa pessoa o que é bom, o que é justo, que todos temos uma responsabilidade de deixar esse lugar um pouquinho melhor depois que a gente se for, sem deixar de ter em mente que cada segundo nosso é precioso e merece ser bem vivido também.

Ver isso acontecendo e sentir que tem feito um bom trabalho vale cada centavo dispendido na atividade. Sem contar as pequenas grandes recompensas, como um abraço, um olhar, um sorriso, um bom dia. Um consolo ou uma gargalhada juntos. Ver seu filho tendo uma atitude legal com o outro, conseguindo ser feliz, cuidando do planeta. Fazer nada agarradinhos. O que significa uma fortuna perto disso? Tem gente lendo esse tipo de matéria com a mão na calculadora, estressada com as contas, e rica sem saber.

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