Em uma sexta-feira de agosto de 2018 ela se sentou, solitária e com um cartaz feito à mão, em frente ao parlamento sueco. “Greve escolar pelo clima” eram as palavras que ocupavam o cartaz. Apesar da preocupação de seus pais e do pedido de seus professores para que ela não faltasse às aulas e encontrasse outro momento para protestar, lá estava ela, mais um dia. Uma semana depois, junto a ela havia outra pessoa, o movimento tinha dobrado. A greve pelo clima iniciada pela sueca Greta Thunberg não parou de crescer e, em setembro de 2019 o Fridays for Future levou 4 milhões de pessoas para as ruas. Essa foi a maior manifestação pelo meio ambiente da história da humanidade. Para o naturalista britânico David Attenborough “Ela despertou o mundo” e “conseguiu coisas que muitos de nós que estivemos trabalhando com o tema durante 20 anos não alcançamos”.

Greta conseguiu que no mundo inteiro a pauta climática passasse a ser discutida.

Seu ato corajoso e, no começo, solitário, não parou por aí. Ela também encarou de perto líderes mundiais e lhes exigiu que adotassem políticas pelo clima. Ela mostrou toda a sua indignação e o mundo ficou perplexo com o teor de seu discurso. Muitos apontaram sua idade e seu tom emotivo para desqualificar o que ela estava dizendo, mas há muitos anos povos indígenas, ativistas ambientais veteranos e cientistas vêm lutando pelo planeta e alertando sobre a iminente crise climática. Greta é a voz de muitos e já não é mais possível ignorar sua mensagem.

A história da jovem sueca com o clima começou alguns anos antes, em um dia normal no colégio, em que a turma assistiu a um documentário sobre a contaminação dos oceanos. O filme mostrou uma ilha de plástico, maior que o México e que flutua no sul do Oceano Pacífico. No livro “Nossa casa está ardendo”, a mãe de Greta conta o quanto as imagens tocaram sua filha. “Greta chorou durante todo o documentário, seus colegas também ficaram muito comovidos, mas quando terminou a aula e todos já estavam no corredor, já haviam se esquecido da ilha de plástico que viaja pelo litoral do Chile. Greta não conseguiu que as coisas se encaixassem (…) a ilha de lixo ficou gravada em sua retina”.

O pai de Greta contou em entrevista para a rádio BBC4 que ela lutou contra a depressão durante 3 a 4 anos antes de começar a sua greve escolar. Em casa eles começaram a debater e pesquisar sobre as mudanças climáticas e Greta “se apaixonava cada vez mais por abordar o problema”. Aos poucos, e com as mudanças adotadas dentro de casa pelos seus pais para diminuírem seu impacto no meio ambiente (a mãe de Greta deixou de viajar de avião e seu pai tornou-se vegano) ela foi ganhando energia. “Aprender sobre as mudanças climáticas desencadeou minha depressão, mas isso também foi o que me tirou dela, porque existem coisas que eu posso fazer para melhorar a situação”, contou Greta à Revista Times.

As ações de Greta ultrapassam atitudes no âmbito pessoal e doméstico. Com seu discurso e sua greve, que já não é mais solitária, ela e outros jovens líderes estão ocupando espaços políticos antes exclusivos a veteranos de governos e de grandes corporações. Os jovens que lideram a greve pelo clima mundo afora já votam ou estão na iminência de fazê-lo. O que eles querem e sua mobilização conta muito. No campo político os líderes já se sentem pressionados a responder às demandas de seus eleitores.

O movimento Fridays for Future hoje conta com a participação de milhões de pessoas espalhadas por mais de 200 países. A pauta climática está reunindo crianças, adolescentes e adultos em volta de um mesmo desejo – o de proteger a vida no planeta Terra.

Agora é o momento de pressionar líderes políticos e empresários para que tomem decisões em favor de uma transição ecológica que priorize a justiça climática. A economia global se sustenta a partir de desenvolvimento baseado em energias de fontes não renováveis e que geram gases que aumentam o efeito estufa (sem falar na contribuição de 23% da emissão desses gases pela agricultura e outros usos do solo ). Transformar essa realidade é um grande desafio. “O mundo das finanças tem responsabilidade com o planeta, as pessoas e todas as espécies que vivem nele” escreveram Greta e outros 20 ativistas ambientais de diversos países em uma carta aberta aos  líderes que participaram do 50° Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça. “Estamos fazendo um apelo aos líderes mundiais para que deixem de investir na economia de combustíveis fósseis, que está no centro desta crise planetária. Em vez disso deveriam investir em tecnologias sustentáveis, pesquisa e restauração da natureza”.

Assim como Greta, outros jovens líderes ativistas ambientais estiveram presentes em Davos. A garota sueca não está mais sozinha. Que seu discurso e suas ações continuem inspirando outras pessoas a lutarem pela vida no planeta.

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