Foi maravilhoso, mas não se enganem, isso não foi tudo. Amamentar me trouxe muitas alegrias. Mas jamais falaria só delas. Principalmente em um mundo que romantiza tanto a maternidade. Amamentar também me trouxe muitas dores. Físicas e emocionais.

É realmente grandioso ver uma criança se alimentar e crescer a partir do alimento gerado pelo meu corpo. É uma dádiva poder acalmar a criança com um ato tão selvagem, o de amamentar. É uma onda de felicidade ver os olhinhos do bebê mudarem completamente quando ele sorve seus goles de leite. E é um privilégio estar disponível para que tudo isso aconteça. Mas como eu disse, não vou falar só da parte boa.

Houve dias em que meu peito inchou tanto e mesmo com horas e horas de ordenha, a dor, a febre e o inchaço, não passavam, e mesmo desesperada de sono, eu não conseguia dormir de tanta dor.

Houve dias em que ardia demais amamentar. Houve dias em que fiquei doente e precisava muito repousar, mas não dava. Houve meses em que meu filho não ganhou peso e eu duvidei muito da minha capacidade de alimentá-lo e da minha legitimidade como mãe. Pensava que tinha que dar conta de tudo, inclusive do que não estava sob meu controle.

Pensava que amamentar era a coisa mais natural do mundo. Mas tive que aprender uma série de procedimentos e ensinar o meu filho a mamar.

Foram dias de aprendizado até que a pega ficasse certa, foram dias passando pomada e paninhos gelados no peito pra aliviar a dor. Foram meses de entrega, altos e baixos, alegrias e dores. E isso num contexto em que eu pude lutar para que a amamentação continuasse. Num contexto em que pude insistir, pude estar ali, pude me entregar.

Mas conheço mulheres que não puderam. Que nos primeiros dias de vida do bebê, tiveram que voltar a trabalhar. Outras que não tiveram leite ou que não amamentaram porque a criança teve problemas de saúde. E também conheço mulheres que decidiram não amamentar.

Amamentar é uma entrega física e emocional e cada pessoa sabe dos seus limites, das suas vivências e de sua história.

Amamentar não é um ato de decisão individual apenas, é necessário que o Estado esteja presente com políticas que permitam esta decisão e o pleno exercício deste direito.

Meu desejo é que, para além de incentivarmos a amamentação, a gente também avance na nossa solidariedade com as mães que não puderam amamentar e no nosso respeito às mães que decidiram não fazê-lo. Que a gente consiga enxergar tudo que está faltando (creches, espaços nas empresas, intervalos maiores para as mães que amamentam durante o trabalho, mais tempo de licença maternidade e paternidade remuneradas, mais acesso à informação sobre os benefícios da amamentação, mais orientação às mães que estão passando por dificuldades com a amamentação, mais espaços adequados para que as mães possam alimentar os bebês e campanhas de conscientização para acabar com o julgamento com as mulheres que amamentam em público.

Desejo que todas as histórias de maternância sejam acolhidas, que todas as decisões sejam respeitadas e que nossas cobranças mirem o poder político e não as nossas irmãs.

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