Chegou um dia que eu nunca imaginei que chegaria: pedi pra tirarem uma foto minha de biquíni. E pedi porque eu estava feliz com meu corpo e orgulhosa do que eu via no espelho mesmo com toda sua imperfeição.

A busca pelo corpo que não temos começa desde cedo e não é só por quem acha que está acima do peso.

No meu caso, eu era muito magra quando criança e a preocupação com o peso nunca existiu nessa época. Eu não me importava quando tinha pesagem na aula de Educação Física. Nem passava pela minha cabeça como isso podia ser incômodo – e até cruel -, já que éramos pesadas na frente das outras e nosso peso ditado pra todas ouvirem. 


Comecei a me importar com o corpo quando chegou a fase de encorpar. Não encorpei. Esperei meus peitos crescerem e eles não cresceram. Queria ter mais bunda, mas isso nunca esteve na minha genética. Minhas pernas finas nunca ganharam coxas grossas e sempre ficaram sobrando nos shorts. O que cresceu em volume foi meu cabelo – e como! Isso também sempre me assombrou. Só depois que cresci e que os acessórios para domar meus fios ficaram acessíveis é que me senti bem tendo mais controle da minha aparência. Esta é uma DR que continua em andamento. Espero um dia fazer as pazes com meu cabelo também.

Apesar de eu ser magra para os padrões tradicionais, sempre tive uma barriga de sapo. Nunca tive uma barriga chapada. Fazendo uma mea culpa, nunca me esforcei para ter um corpo definido como eu idealizava. Quando era pré-adolescente, eu tinha as aulas de Educação Física duas vezes por semana e fazia sapateado uma vez por semana. Obviamente, não eram suficientes para definir meu corpo. 

Cresci e passei a adolescência achando que o fato de eu não ter O corpo era o que fazia os garotos não se interessarem por mim. Foi só na faculdade que eu descobri que alguns me achavam bonita, mesmo sem corpo, ou melhor, sem o corpo que eu desejava ter.

Foi somente na vida adulta que passei a gostar do meu corpo. Não ter peitos grandes, o que me permite usar blusas sem sutiã, passou a ser um benefício. Aliás, peitos que independente do tamanho amamentaram dois bebês por cerca de um ano e meio cada.  A barriga precisa de malhação para ser perdida, mas pensar que eu gestei duas crianças e minha barriga está como está sem grandes esforços me faz agradecer pelo meu corpo. Ver as marcas de estrias que a gravidez me deixou me faz relembrar com carinho de um momento muito feliz da minha vida de ter outro coração batendo dentro do meu corpo – o corpo que eu tantas vezes não gostei e que foi perfeito para gerar duas vidas.

Longe de mim fazer campanha pela magreza como sinal de corpo perfeito. Eu lamento que o “sistema” nos faça crescer com essa ideia, nos comparando umas com as outras e nos colocando pra baixo. Queria poder dizer pra quem eu era há 20 anos para não se preocupar achando que tem peito de menos e barriga demais. O importante é estar saudável – e isso nem sempre significa ter um corpo de revista.

Demorou 37 anos para eu querer tirar uma foto de biquíni e me admirar – e dessa vez não coloquei nenhum filho no colo pra esconder a barriga. Isso é nada perto de tantas lutas e problemas a serem superados.

Mas constatar que finalmente cheguei a um nível bom de autoestima para tirar uma foto de biquíni não deixa de ser uma luta interna – calada e solitária – vencida. A libertação começa dentro da gente.

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