Fecho os olhos e lembro a última vez que ele me comeu. Eu o comi muitas vezes, mas essa, essa que tô lembrando, foi ele. Deitada de bruços mordendo a fronha do travesseiro, ele por cima, altivo e rei, ele ditava o ritmo, e eu, sempre tão controladora, num alívio extático me deixei tombar como um monumento que não suporta mais o esforço de se manter em pé, como uma coluna grega que quer voltar a ser poeira, se dissolver de novo na areia do tempo, numa entrega tão absurda, de carne e espírito e tudo que a gente não entende, que cada investida dele era como uma onda batendo forte nas praias do meu corpo, meus dedos dançavam sobre a pérola do clitóris e apesar da tempestade dos meus músculos e ossos que não paravam de tremer e do coração agradecido prestes a explodir, havia um sossego de estar ali dando pra ELE, ele e não qualquer outro, ele com seu pau escorregadio e barba áspera, ele budista e consumista, maravilhosamente contraditório e humano, até que, sempre em ondas, o orgasmo veio, tão de dentro, mas tão de dentro, disso que a gente não entende, do recheio da medula, do fundo do fim, veio preenchendo meu corpo como um carnaval, como um big bang, como qualquer coisa que faz morrer e nascer de novo – assim o fiz.

Ele tirou o pau de dentro de mim todo molhado e foi na sala por um instante porque tocaram a campainha, foi instante suficiente pra que eu, ainda gozando, sozinha no seu quarto, entre suas coisas, seus cheiros, suas manias, entendesse a morte e a ressurreição, saísse por um lapso da roda de samsara e meus olhos se iluminassem com a visão do Nirvana, assim, emocionada, no peito uma bomba relógio, me deu uma vontade avassaladora de chorar, por toda a verdade daquilo. Chorei. Chorei porque o amor me tocou fundo e eu me dei pra ele – isso há de ser a santidade.

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