“A vida não é mais que uma contínua sucessão de oportunidades para sobreviver”

Gabriel García Marquez

Quem nunca começou o ano querendo mudança?! E não é só você que carrega uma boa lista de coisas que quer mudar em sua vida! Em contraponto a tanta felicidade pública (as redes sociais são terreno fértil para pessoas sempre felizes), vivemos sim em uma era onde somos hiperconscientes da falta, pegando emprestado esse conceito de uma das minhas pessoas favoritas no mundo, a “contadora de histórias” Brene Brown.

A escassez é nossa fiel escudeira e sabemos direitinho o que precisa ser “turbinado” em nossa vida, numa busca incessante pela excelência em todas as suas áreas como se estivéssemos atrás de um sonoro: “muito bem”!!!

E nos tornamos coachees de absolutamente tudo, de alimentação saudável à meditação, passando por finanças pessoais e até relacionamentos amorosos, seja para arrumar um ou superar “o sumiço” do antigo! A inadequação típica dos adolescentes cresceu e tomou conta também dos jovens adultos que esqueceram que perfeccionismo tem ligação direta com o medo de sentir vergonha. 
Diante do barulho de tantos “conselhos de vida” que recebemos em milhões de posts – saudade da época onde os conselhos vinham somente após longo um bate papo – nadamos superficialmente em nosso ser e evitamos mergulhos mais profundos para nos entender e, principalmente, conhecer nossos limites e fraquezas. Mas aí vem a vida (essa danada!) e nos envia momentos em que precisamos “nos agarrar” a um tanque grande de oxigênio. Sim, o mergulho vai ser profundo!
Após um fato traumático, daqueles que nos sacodem e levantam, arrancando nosso pé do chão, a única coisa que conseguimos fazer é sobreviver. E já pensou que esse pode ser o começo de um passeio incrível?! É uma pena, mas temos o triste costume de só olharmos para nós mesmos em momentos de dor. E nessa hora não conseguimos escapar daqueles sentimentos que fugimos “como o diabo da cruz”. Não é todo mundo que curte chamar o medo, a vergonha, o sofrimento, a tristeza e a decepção para passear. Mas há momentos em nossa vida que eles transbordam e não conseguimos mais esconder. Daí o recolhimento: “SURVIVOR MODE ON”!!!

Entender que esses sentimentos vistos como “ruins” afetam profundamente a maneira como vivemos e como nos mostramos ao mundo é a melhor auto-ajuda já “publicada”. E escondê-los, invitavelmente, é esconder a si mesmo!
“Quando fugimos de emoções como medo, mágoa e decepção, também nos fechamos para o amor, a aceitação, a empatia e a criatividade. Por isso as pessoas que se defendem a todo custo do erro e do fracasso se distanciam das experiências marcantes que dão significado a vida e acabam se sentindo frustradas” afirma Brene Brown.
E continua em uma das suas frases mais conhecidas: “Somente quando temos coragem suficiente para explorar a escuridão, descobrimos o poder infinito de nossa própria luz”.

Buscar a “alta performance” na vida sem considerar nossa face vulnerável é criar uma casquinha crocante para cobrir nosso interior – que pode ser macio e com um sabor incrível do melhor chocolate belga!! Em tempos de supervalorização da felicidade, momentos de sobrevivência são essenciais para nossa existência integral, busque-os e aproveite até o último gole!

E lembre-se, a vida é um looping incrível de construir-desconstruir-reconstruir. E quando falamos de nossas emoções, se perder confirma-se como o primeiro passo para se encontrar. O mergulho pode ser muito difícil (e normalmente ele será!), mas é a mola propulsora para o que virá logo após. Sim, o “modo sobrevivência” um dia acaba e logo voltamos a vida!

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