Um aceno, um cisco e lá se foi a infância…
Às vezes, contudo, ainda sinto
a mão da avó me afagando a nuca
o vendaval alagando a varanda
Cecília mexendo o caldeirão de angu
a banda ao longe terminando a canção
o lanche surpresa na merendeira
bolo ainda na fôrma aguardando sinal
muito quente faz mal!
E lá da esquina o aviso da buzina do ônibus de Marília
cortando o silêncio da Rua Marquês de Herval
Tudo vem do passado, desses jardins antigos!
A tarde convidando a chuva para brincar de verão
camaleões perambulando pelo quintal
gotinhas mil revoando no céu
pedrinhas azuis derramadas no chão
uma voz miudinha chamando no portão
tia, tem um pedaço de pão?
Hunter roendo um osso no canil
a galocha estalando na poça
Duda mordendo a canela de alguém
Desses jardins antigos é que a saudade vem!
Tempo em que importavam as coisas de verdade:
a nuvem, a casa, a chuva, a hora de brincar…
e as moscas mergulhadas na calda de chocolate!
Jessica Ziegler de Andrade