Antes de uma viagem, tenho o costume de ir atrás de informações sobre o lugar. Leio o que encontro sobre ele e peço dicas a quem o conhece. Quando decidi pela minha temporada africana, fiz o mesmo com mais afinco, afinal seriam oito meses em países cujas referências que a mim chegavam eram em sua maioria negativas. 

Conversando com amigos e amigos de amigos que já haviam estado em Gana, Uganda e Tanzânia, ficou claro como as percepções femininas me seriam mais úteis. Escutar um cara dizer se acha Kampala segura ou não é completamente diferente de ouvir a opinião de uma mulher, que, como eu, sai de casa todos os dias com medo de um estupro. Ouvir o relato de um homem sobre como se dão as relações nesses países não era suficiente para mim, condicionada a pensar da roupa à maneira de cumprimentar uma pessoa para não dar margem ao assédio.

O universo feminino envolve aspectos que os homens simplesmente ignoram. Uma pura consequência da construção histórica da estrutura do patriarcado, do machismo vigente. 

Já durante minha jornada africana, comecei a notar um outro reflexo dessa condição de gênero dominante: a que parece dar ao homem o direito de ensinar e explicar qualquer tema, ainda que não tenha bagagem para isso.

Quando estava voluntariando na Bright School, em Loliondo, Tanzânia, um amigo do casal dono da escola reclamou que o arroz não estava muito bom. Dirigiu-se para Elizabeth, a cozinheira, dizendo que ela colocava muito mais água do que deveria. Ele, que nunca havia chegado perto de uma panela, explicou a ela, que prepara comida desde os 12 anos, como fazer o arroz perfeito.

Na Furman Foundation, escola de Kumasi, Gana, onde também trabalhei, ouvi duas vezes o diretor, Gideon, ensinar uma professora a amarrar direito a canga nas costas para sustentar melhor seu bebê.

Mesmo ela dando aulas, indo ao mercado e limpando a casa todos os dias com o filho nas costas, ele, que nunca havia carregado uma criança daquela maneira, achava que entendia mais do assunto.

Pouco depois da minha volta ao Brasil, deparei-me com o termo mansplaining e fiquei contente ao saber que havia um nome para essas situações, tão comuns no mundo todo e tão infelizes. Contente porque acredito que a existência de um termo e uma definição ajudam a trazer a discussão à tona. Os artigos sobre isso à disposição na internet convidam à mais uma reflexão sobre o machismo dominante. E também funcionam como um alerta aos homens que ainda não entenderam que eles nem sempre têm lugar de fala. 

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