21 de fevereiro de 2021

Quem aqui nunca acordou no dia do aniversário com a sensação de ter ficado velho? Hoje, comigo, não foi diferente. Nos últimos tempos, aliás, vários sinais confirmam isso. No Natal passado uma grande amiga, que acaba de abrir uma clínica de estética, me deu um vale-botox de presente. Depois outro amigo foi elogiar meus posts e disse que eu sou uma blogueira sênior. Na rua, não me chamam mais de “ô, menina…”; agora sou “dona”. Troco os nomes dos meus filhos todo dia, e olha que só tenho dois. Começo a usar, com alguma frequência, expressões como “na minha época”. Tem aluno que só me chama de senhora e a tecnologia me parece cada dia mais difícil de acompanhar. É inegável: envelheci.

Melhor acreditar, mesmo que eu não me sinta assim. Afinal, também há mérito em ser antiga. Por exemplo, quando me formei não havia google. Isso, por si só, vale quase dois diplomas. Ainda prefiro uma boa prosa em volta da mesa às curtidas que recebo em redes sociais, e preservo a escassa habilidade de conseguir viver sem celular – prova incontestável de que não ser das últimas gerações tem lá suas vantagens. Isso sem contar que consigo me lembrar de eventos importantes… tristes, como o 11 de setembro, e alegres, tipo as vitórias do Senna nas manhãs de domingo.

Só que a sensação gostosa de participar da história se mistura à estranha constatação de precisar de um geriatra em breve. Felizmente, nem tudo está perdido… a natureza é perfeita e até o corpo me ajuda: se, por um lado, defeitinhos começam a aparecer aqui e ali, a vista cansada já não me permite enxergá-los direito: de perto, pareço sempre embaçadamente bem. Consigo até me esquecer deles, ainda que as câmeras de celular insistam em retratar a verdade com crescente e desagradável precisão. Mas tento não deixar isso me abalar, e acho que tenho conseguido. Até troquei o vale-botox por um peeling light… E olha que decidi isso de óculos.

Mas sabe que, apesar de todo pedacinho meu – começando, claro, pelo joelho – estar claramente se deteriorando, talvez um pouco pretensiosa constato-me cada vez mais inteira? Me conheço melhor, tenho mais claro o que é importante pra mim e me sinto tranquila pra priorizar e buscar essas coisas. Não me trocaria por duas *crises* de 20 anos e comemoro, orgulhosa, que hoje faço 43. Isso me dá uma sensação incrível de alegria e gratidão. Acordo animada para o dia que está por vir e acredito, sinceramente, que muita coisa ainda me espera. Sinto coragem pra encarar o futuro e desembaraço pra viver o agora, e quando novinha talvez me faltassem ambos. Hoje, com todos os problemas que eu tenho – como, aliás, todo mundo tem –, sinto-me feliz. Completa jamais e plena nunca, mas feliz comigo mesma e agradecida por estar aqui, com tanta gente especial por perto: família, amigos, colegas, alunos… sobretudo depois de um ano de tantas perdas.

O tempo voou, mas me trouxe até agora. E pensar nisso me traz uma força que não consigo explicar… apesar e por causa da idade que tenho.

Uma vez ouvi dizer que, dentro de toda pessoa de 70 anos, tem sempre alguém de 35 tentando entender o que aconteceu. Se isso é verdade, dentro de todo mundo na faixa dos 40 também há um jovem pego de surpresa. Que tem suas responsabilidades, mas não se contenta em existir: quer também viver e sonhar. Que não viu o tempo passar, mas sabe que uma hora ele acaba e, exatamente por isso, agradece todo dia a mais e busca fazer alguma diferença nesse mundo tão carente de tanta coisa. Que tem seus medos mas vai com medo mesmo, capotando e tudo, tentando misturar um pouco de graça ao duro e doce desafio de seguir em frente. É assim que me sinto agora. E se envelhecer é isso… só posso dizer que nunca achei tão bom fazer aniversário. Que venham os próximos e que sejam muitos!

“Nascer é uma possibilidade
Viver é um risco
Envelhecer é um privilégio!”

Mário Quintana

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