Hoje acordei com uma sensação diferente, ainda que o despertador tenha sido o choro do Noah às 7h da manhã, como de costume. Quando abri os olhos me senti desperta, não foi preciso muito esforço para me levantar. Logo percebi que a minha lua tinha chegado, finalmente. “Lua” é a forma como chamo a minha menstruação, depois que aprendi que no passado, as mulheres menstruavam todas juntas no período da lua nova e podiam se recolher em tendas vermelhas para descansar ou fazer o que elas quisessem, sem precisar cumprir com nenhuma obrigação da comunidade. Parece um sonho, né? Às vezes, tenho até dificuldade para imaginar como seria viver numa sociedade não patriarcal.

Nos últimos dias estava me sentindo irritada feito um corvo se debatendo dentro de uma gaiola. Não queria estar no meu corpo, não queria ouvir os meus pensamentos, tudo parecia fora do lugar. É assim que tenho me sentido antes da lunação. Acho bonito ouvir o termo “tempo para meditar”, mas, no meu caso, está mais para “tempo para matar”.

Os primeiros minutos do meu dia foram na poltrona amamentando o meu filho. Ao invés de olhar impaciente para o relógio ou repassar mentalmente a lista infinita de coisas para fazer, observei o rosto dele e a forma como o olho dele brilha enquanto ele está no meu peito. Acho que esta é a casa dele, o lugar em que ele se sente pertencente. Pude compartilhar junto a ele a sensação de que tudo estava exatamente onde deveria estar.

Observei os raios de sol atravessando a fresta da janela e refletindo sombras na parede do quarto, o sol parecia me desejar bom dia e eu não quis contrariar.

Vivi cada atividade do meu dia com a máxima presença, sem deixar que a minha mente me contasse mentiras. Ela costuma me dizer que não vou dar conta ou que devo ter pressa, mas hoje eu estava rebelde o suficiente para ignorá-la e deixar as coisas fluírem como se não existisse relógio ou um mundo lá fora pressionando as pessoas a serem produtivas, independente do que elas sentem. Aliás, sentir não é uma boa ideia.

Lavei o meu cabelo usando a máscara que eu acho cheirosa, mas nunca lembro de levar para o banheiro. Comecei a ler um livro que estava sobre a minha mesa por pelo menos dois meses. Entrei num grupo de mulheres chamado “a revolução será prazerosa”. Isso mesmo, um grupo que fala sobre prazer e propõe que dediquemos algum tempo para nos cuidar, encontrando e usufruindo dos pequenos prazeres do dia. Adivinha só, ao elaborar a minha lista de prazeres, escrevi uma página inteirinha. Como não tinha reparado antes naquele tanto de coisa que me faz sentir feliz?

É verdade, eu poderia estar dormindo, aproveitando estes minutos a mais de sono, mas quis registrar o meu dia.

A escrita tem sido generosa, ela me permite olhar a vida com outras lentes, com menos cobrança e sem aquela sensação horrível de não ter conseguido fazer tudo o que eu deveria.

Ela me faz enxergar o valor de pequenos gestos.

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