(Neuma Rozendo)
Pelo que você dá o seu corpo, irmã?
Pelo que o vende sem escolher o preço?
surras, fomes, promessas caídas.
Por quantos pesos, irmã
Por quantos dólares?
Por quantos eu te amo você se entregou?
Por quantos orgasmos negocia o seu corpo?
Ela, sua vizinha mesma
Vende tão somente pelo prato de comida
Do filho e da mãe
(Os membros superiores vão para a faculdade da filha
que com quase dezoito tem o corpo ainda inteiro)
A vida barata
Comprada cara
Por oito horas por dia
Férias e décimo terceiro
Com direito a uma hora de liberdade
(para tomar sol no pátio)
e algum entorpecente.
E talvez um pouco de sonho
nos fins de semana.
Minha avó, sua avó
Sua mãe, sua sogra
Deram suas carnes
Igualmente medidas
Em padrões os mais bizarros
Em alqueires hectares
quilômetros quadrados de terra à vista
Em arrobas, em imóveis
Em popularidade, em reputação
Em pedigree de famílias
Em habilidades domésticas
Sociais e culinárias
Ninguém as supunha na cama
(Lugar de putas, apenas)
Ninguém as supunha livres, irmã
Ninguém as supunha VIVAS.
Eram prendas,
mãos de obra
Receptáculos de fetos
Ou de falos
Jamais donas de si
Jamais livres para serem livros
Jamais LIVROS para serem livres
Até que um dia em muitos séculos
uma irmã disse não
Eu me recuso a não ser quem sou
Eu me recuso a doar meus sonhos
A vender meus dias
A quem quer que não esteja
em meu corpo.