Ela gostava do rosto que tinha depois de chorar. O nariz vermelho, os olhos desaparecidos, toda a dor que tinha saído parecia repentinamente lhe trazer mais beleza. A boca se sobressaía, tudo o que tinha vindo à superfície parecia encarnado nos lábios. Ela gostava dessa sensação de esvaziamento, do estranho prazer daquele momento depois da dor. É como se a dor lhe lembrasse que estava viva, que tudo nela estava vivo e adquiria mais cor. Seu corpo agora parecia real, e todas as coisas pelas quais chorara lhe faziam recordar da sua história, salgada como as lágrimas que tinha provado. Ela gostava da sensação de existir depois da exasperação do choro incontido, depois de deixar morrer cada gota que caía. Cada pingo de lágrima escorrido no rosto e evaporado no peito era seu, como era sua aquela dor. Quando chorava, lembrava de si. E por isso gostava.

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