Gosto das bibliotecas vivas, respirando dentro e fora dos livros desarrumados. Gosto das marcas de café, lembrando manhãs reflexivas na rede. Gosto das marcas de lágrimas quando folheei confidências e intimidades dos meus autores preferidos. Em especial, gosto dos livros baratos que me recordam tardes inteiras em sebos. Gosto também dos caros, porque me revelam supérfluos abdicados em troca de palavras. Gosto das prateleiras amontoando lembranças. Das indicações dos amigos, dos presentes sensíveis… de tudo mais que não tem forma e aqui está, de algum modo, representado. Dos amassos, rabiscos, orelhas, anotações apressadas, páginas caindo como folhas de outono… Gosto do que já partiu para um outro alguém, deixando um vazio especial. Gosto muito do que ficou e, também do que ainda não tenho, mas está por vir. Do tesouro que tão poucos estimam. Do que sinto para além da superfície que olho.

Gosto das bibliotecas, mas somente as vivas. Apenas as que respiram. Somente as que têm cheiro.

Porque, na verdade, é do vivo que gosto. Do que embora morto, não passa. Do encanto que resiste. Do que é simples e perdura. 

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