Oi mãe 

Todo dia tem você e nos sonhos também tem você em todas as flores amarelas tem você nas saudades conquistas lágrimas tem você nos momentos difíceis em que eu tão independente (como você era) te peço ajuda aqui dentro de mim de fora tem a falta e em mim tem a sua presença a presença faltante falante misturadas num luto longo e dolorido de uma relação difícil de duas forças que não se calam e não aceitam imposições não aceitam a imposição de uma doença e da suposta interrupção que a morte tenta nos colocar em vão muito além têm as heranças gotejando aos poucos com a estranheza da percepção de tantas similaridades nossas que me mantém viva e te mantém viva em mim num jogo em que a ancestralidade pulsa não só em mim mas entre nós três irmãs tem você na chuva e no cheiro que antecede a chuva nas plantas molhadas pela chuva tem você nas jujubas tem você que nos aproxima pois carregamos em nos viva a sua presença a presença da vó vocês florescem em nós as flores são muitas e diferentes em cada uma no meu jardim tenho a sua intuição o seu apreço pelo trabalho manual a necessidade da criatividade com vontade de brigar contra  as injustiças e a luta diária em defesa das minorias a luta sem pontuações na fluidez de um diálogo que não precisa de linguagem e sem pontos finais finais nenhum tem todo dia tem você e nos sonhos também tem entre nós um fluxo sem vírgulas um amontoado de tudo que existe de tudo que não existe ainda e de tudo que pode resistir juntas nós vamos continuar resistindo somos todas você juntas 

Lígia Francisco

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