Costumo falar para minhas amigas que não conheço ninguém que tenha amadurecido tomando caipirinha, deitada numa rede em Fernando de Noronha e lixando as unhas.

As surpresas da vida são realmente uranianas, quando você menos ou pouco espera, lá vem uma notícia inesperada, uma mudança de rota, um luto, uma dor, um rompimento e aí ao acolher e viver o que DÓI, vem o aprendizado, a experiência traz o bônus, o caminho para amadurecer.

Eu me separei há pouco tempo, mas já me sentia completamente separada há quase dois anos. Casamos com o sonho de envelhecermos juntos, mudar para uma casa com uma árvore e uma horta, um cachorro que se chamaria Jung , uma lareira entre outros detalhes. Mas o casamento era triangular, eu, ele e o álcool. Fim de linha. Chegou o dia inevitável e saí sem olhar para atrás, literalmente. Eu me sentia como alguém que come um queijo suíço a dois, ele comia o queijo e eu comia os furos.

Meu ex é um grande ser humano, mas muito resistente às mudanças. Ele sempre tentando provar que eu era o problema e uma mulher cheia de insatisfação e que ele não precisava de ajuda psicológica. Iniciamos a terapia de casal, foi um fracasso.  É necessário ter muita coragem para encarar um setting terapêutico e falar do lado escuro e sombrio, o lado que todos nós temos. O encontro com nossas sombras é doloroso. Eu optei em dar cada vez mais ênfase na minha analise junguiana. Resultado? Foram inúmeras caixas de lenços Kleenex, um ano sabático de profunda solidão, dias cinzentos. Fui me recuperando aos poucos, criando novos hábitos, rotinas, construindo um novo lar, agora somente meu. Comigo veio a samambaia Artemísia (homenagem a pintora Artemísia Gentileschi) e o Jung nunca foi adotado. Minha vida resumida em 23 caixas de papelão e uma cafeteira ligada praticamente o dia todo até o fim do desencaixotamento dos livros e dos sentimentos.

Tudo passa e sem menos esperar ou procurar, aconteceu um encontro que me fez refletir muito. Fui numa exposição de artes visuais e conheci um homem com cara de homem, voz de homem, cavalheiro, mas com um jeito irresistível de menino. Algum tempo depois nos encontramos para caminhar, um convite elegante que partiu dele. A caminhada resultou em quatro horas e meia de conversa profunda, ele não escondeu quem era, ele foi muito verdadeiro, afirmando ser um homem imaturo e em busca de crescimento e muito determinado as visitas ao setting terapêutico. Foi uma tarde gelada de inverno e quase morremos de hipotermia no retorno do papo cabeça, a temperatura despencou com o pôr do sol. Esse homem confiou em mim.

Mas não tardou e um segundo encontro aconteceu. Houve o que posso chamar de esperado inesperado. Depois de um jantar, o beijo e ¨otras cossitas más¨, ele disse que não estava pronto pra transar comigo naquele momento. Sim, em pleno século 21, o homem quase habitando Marte, aquele homem ¨gigante¨ (ele com quase 2 metros e eu com 1,62 com muito esforço) dono dos ombros largos mais lindos que do Phelps me abraçava, disse a sua verdade, foi transparente, e muito mais maduro do que ele pensa que é. Mas mesmo com a notícia surpresa a noite foi muito gostosa. Assim eu achava. Eu estava realmente bonita e natural, perfumada e usava um vestido longe de ser uma ¨femme fatale¨. Mas na sequência houve um afastamento por parte dele, e o interesse não era recíproco.

No primeiro momento bateu a frustração, o sentimento de rejeição, e achei que ele não me curtiu. Mas porque esse acontecimento me deixou tão mexida? Porque o sentimento de exclusão me pegou? Resposta complexa? De certa forma sim.

O fato mexeu com a minha segurança, com a minha autoestima, com o valor que eu esperei de fora e não de dentro de mim. Mas e a maturidade que eu achei que eu tinha, onde ela estava?

Acredito que essa experiência me fez reavaliar tudo isso e concluir que a maturidade alcançada não é intocável, perder o equilíbrio faz parte da caminhada por encontrá-lo e se permitir ser insegura e frágil é normal sim. Não existe uma métrica que define estar pronta, segura, madura! Ser madura implica em compreender que o meu tempo não é o tempo do outro. Meus anseios e desejos são meus e não do outro. Aceitar essas questões e não se subestimar é ter maturidade. Ele foi muito corajoso me confidenciando seus dilemas, suas angustias e sua inseguranças. Minhas expectativas não correspondidas foram os aditivos para obter essa compreensão.  O fato de não ter acontecido o que eu desejava, não invalida minhas qualidades. Ser madura é compreender que os processos são individuais e seguir em frente. Esse homem me ensinou muito mais do que ele imagina, mostrando sua insegurança e vulnerabilidade. E aprendi que fui tão insegura e vulnerável quanto ele e esse processo não tem fim. Ficam os aprendizados.

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