Era sábado. Acordei já pensando em como seria meu dia. Precisava sair. Dizem que é uma característica dos aquarianos, mas eu queria dançar. É o mínimo que se espera de um sábado à noite. E então, o dilema que vivo desde que cheguei a terras estrangeiras: com quem?

Parece insano pensar que 132 km – distância entre a minha cidade natal e a que vivo hoje – puseram minha vida social em conflito. Eu que sempre me senti mais confortável com o desconhecido, hoje sinto na pele o ser desconhecida. Às vezes dói.

Fiquei o dia inteiro na dúvida, perguntando-me se iria ou não sozinha pra uma balada. “Mas é o lugar ideal. É só chegar e dançar. Sem muitas interações verbais.”.

Sábado à noite. Preparei-me como alguém se prepara pra guerra.

Era a minha guerra interna.

Confessei a uma amiga o meu receio (o meu desespero, pra ser mais exata), e ela me disse: “Hoje você pode ser quem você quiser”. Coloquei meus coturnos e fui.

O lugar ainda vazio, algumas pessoas me olhavam com aquela interrogação no semblante: “Ela tá sozinha mesmo?”. Eu, um pouco desconfortável com a situação, dei o primeiro gole de cerveja e falei em alto e bom tom, dentro da minha cabeça: FODA-SE!!!

Cada batida da música entrava em mim como um ritual de exorcismo. E a cada coreografia, a libertação.

Dancei. Dancei como se ninguém estivesse me vendo. Dancei e as pessoas me elogiavam pela animação.

Senti alguém tocar o meu braço, virei pra trás, o barman segurando uma cerveja: “Você merece”.

Ele me viu desde o início da festa, e parece que entendeu tudo aquilo que estava acontecendo comigo. A empatia é uma delícia.

Agradeci, e com um puta sorriso no rosto eu senti, depois de algum tempo: estou em paz comigo mesma.

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