O presidente de seu pa\u00eds fez um discurso dizendo que ela era uma mulher que n\u00e3o se conseguiu disciplinar, que as mulheres deveriam obedecer aos homens e que ela havia cruzado essa linha. Por \u00faltimo, ele perguntou onde estava o homem que n\u00e3o tinha conseguido fre\u00e1-la. N\u00e3o era a primeira vez que a chamavam de incontrol\u00e1vel. Alguns anos antes, em um processo de div\u00f3rcio, seu ent\u00e3o marido alegou que ela tinha ideias muito <\/strong>fortes, que era muito instru\u00edda e bem sucedida demais para uma mulher e, tamb\u00e9m, que era muito dif\u00edcil de control\u00e1-la. Essa mulher de posi\u00e7\u00f5es t\u00e3o firmes a ponto de abalar o governo de seu pa\u00eds se chama Wangari Muta Maathai (1940-2011) e sua luta pelo meio ambiente, pela democracia e pelos direitos das mulheres lhe rendeu o Pr\u00eamio Nobel da Paz em 2004 . <\/p>\n\n\n\n

Quem poderia imaginar que plantar \u00e1rvores, al\u00e9m de preservar o meio ambiente, tamb\u00e9m poderia fortalecer mulheres e, de quebra, pressionar um governo violento e autorit\u00e1rio a realizar elei\u00e7\u00f5es democr\u00e1ticas? Wangari ousou lutar por tudo isso.<\/p>\n\n\n\n

Ela nasceu em uma regi\u00e3o rural do Qu\u00eania. Sua inf\u00e2ncia foi permeada pelo contato com a natureza e pelas hist\u00f3rias que sua tia lhe contava sobre a conviv\u00eancia harmoniosa com os animais e com as plantas. Como todas as outras meninas de sua comunidade, Wangari tamb\u00e9m era respons\u00e1vel pelo servi\u00e7o dom\u00e9stico e por buscar \u00e1gua e lenha. Seu destino mudaria completamente no dia em que seu irm\u00e3o perguntou para os pais se ela tamb\u00e9m poderia frequentar a escola. Foi assim que, aos oito anos de idade, uma menina queniana teve um destino diferente da maioria das outras meninas de seu pa\u00eds.<\/p>\n\n\n\n

Wangari terminou o ensino m\u00e9dio em uma escola cat\u00f3lica, a \u00fanica no Qu\u00eania que preparava mulheres para seguirem estudos.  Em 1960, recebeu uma bolsa para fazer faculdade nos Estados Unidos. L\u00e1, ela se graduou em Biologia e terminou um mestrado em Ci\u00eancias Biol\u00f3gicas em 1966. Depois voltou para o Qu\u00eania, mas o posto de trabalho que lhe havia sido outorgado em uma Universidade tinha sido ocupado por outro colega, o que a levou a trabalhar e continuar suas pesquisas na Alemanha. Ela retornaria ao Qu\u00eania, mais uma vez, em 1969, trabalhando como professora e pesquisadora na Universidade de Nair\u00f3bi. Nesse mesmo ano ela se casou e, em 1970, nasceu a primeira de suas tr\u00eas crian\u00e7as. Em 1971, nasceu a segunda e Wangari obteve seu doutorado.  Em toda a \u00c1frica Central e Oriental nenhuma outra mulher havia tido a oportunidade de continuar seus estudos, ela foi a primeira a obter o t\u00edtulo de doutora. <\/p>\n\n\n\n

Seu retorno ao Qu\u00eania significou tamb\u00e9m o reencontro com as cobran\u00e7as de que deveria cumprir o papel de submiss\u00e3o que esperavam dela como mulher. Wangari nunca pensou em si mesma dessa maneira e n\u00e3o cedeu. Tornou-se a primeira mulher a ser chefe de departamento na Universidade de Nair\u00f3bi e ali dentro come\u00e7ou a lutar pela igualdade de oportunidades e de sal\u00e1rios. Seu terceiro filho nasceu em 1974 e em 1979 ela se separou de seu marido. Por causa dos gastos com a separa\u00e7\u00e3o, ela ficou endividada e chegou a n\u00e3o ter dinheiro para comprar a comida que seus filhos lhe pediam. A guarda das crian\u00e7as ficou com o pai at\u00e9 1985. <\/p>\n\n\n\n

Entre 1976 e 1987, Wangari integrou e dirigiu o Conselho Nacional de Mulheres do Qu\u00eania (NCWK \u2013 National Council of Women of Kenya). Em um pa\u00eds com a maior parte da popula\u00e7\u00e3o vivendo em \u00e1reas rurais, as dificuldades que as mulheres do campo enfrentavam chegaram ao seu conhecimento. Elas relatavam que os riachos estavam secando, que os recursos alimentares estavam escasseando e que, a cada dia, tinham que ir mais longe para conseguir \u00e1gua e lenha. Ali, ela teve a oportunidade de conectar as demandas dessas mulheres com o que tinha observado em suas sa\u00eddas de campo como pesquisadora. <\/p>\n\n\n\n

Ao voltar aos mesmos lugares em que passou a inf\u00e2ncia percebeu que os rios estavam secando, que o solo tamb\u00e9m j\u00e1 n\u00e3o era o mesmo e n\u00e3o cumpria mais sua fun\u00e7\u00e3o agr\u00edcola. Wangari sabia o que uma \u00e1rvore era capaz de fazer pelo solo e pelos rios e resolveu usar sua experi\u00eancia para ajudar as mulheres no campo. Foi assim que, em 1977, dentro do Conselho Nacional de Mulheres, nasceu o Movimento Cintur\u00e3o Verde (GBM \u2013 Green Belt Movement<\/a>) e Wangari foi para o campo ensinar as mulheres a plantar \u00e1rvores. <\/p>\n\n\n\n

O primeiro passo era encontrar \u00e1reas onde ainda existiam\n\u00e1rvores nativas e recolher suas sementes. Depois era preciso conseguir solo\nadequado, plantar e cuidar das mudas em viveiros onde essas pequenas \u00e1rvores poderiam\ncrescer de forma adequada at\u00e9 chegar o momento de plant\u00e1-las. As mulheres\nenvolvidas nesse projeto recebiam uma pequena quantia em dinheiro. Eram criadas\nredes de l\u00edderes que passavam a ensinar outras comunidades a fazerem o mesmo\ntrabalho. <\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m de combater a desertifica\u00e7\u00e3o, a escassez de alimentos, a falta de lenha e de \u00e1gua, as mulheres se fortaleceram social e economicamente. <\/p>\n\n\n\n