O que h\u00e1 para se comemorar com a possibilidade de israelenses optarem por alimenta\u00e7\u00e3o vegana, botas e boinas sint\u00e9ticas ao servirem o ex\u00e9rcito? Muito pouco, eu diria. \u00c9 preciso ampliar o olhar para al\u00e9m dessa possibilidade de escolha para quem cumpre o servi\u00e7o militar e ver em qual contexto isso se insere. Isso quer dizer que n\u00e3o devemos comemorar \u201cpequenas vit\u00f3rias\u201d? N\u00e3o, afinal sabemos que a explora\u00e7\u00e3o dos animais n\u00e3o acabar\u00e1 de um dia para o outro e mudan\u00e7as estruturais podem levar um bom tempo. A quest\u00e3o sobre a qual quero chamar a aten\u00e7\u00e3o aqui \u00e9 em rela\u00e7\u00e3o ao uso dos direitos animais com outras inten\u00e7\u00f5es que n\u00e3o, de fato, promov\u00ea-los.<\/p>\r\n<\/div>\r\n\r\n\r\n\r\n
Em Israel, homens s\u00e3o obrigados a servir por 3 anos e mulheres por 2. Passado esse tempo, homens ainda precisam cumprir de 30 a 60 dias a cada ano, at\u00e9 completarem 40 anos de idade. Para a maioria dos\/das jovens isso \u00e9 algo plenamente normal, pois desde a inf\u00e2ncia vivem em uma sociedade altamente militarizada. Na escola, aprendem a contar com bandeiras, avi\u00f5es, tanques e outros s\u00edmbolos que visam institucionalizar a conex\u00e3o entre a militariza\u00e7\u00e3o e a paz. Ao contr\u00e1rio do que orienta o Direito Internacional, h\u00e1 permiss\u00e3o para civis portarem armas e, portanto, as crian\u00e7as crescem acostumadas com elas ao ponto de chegarem aos 18 anos e andarem tranquilamente portando fuzis nos ombros.<\/p>\r\n\r\n\r\n\r\n
Mas alguns\/mas jovens se recusam a servir e, no exerc\u00edcio democr\u00e1tico de obje\u00e7\u00e3o de consci\u00eancia, cumprem a pena de pris\u00e3o para n\u00e3o compactuarem com algo com que n\u00e3o concordam. A discord\u00e2ncia pode ser de origem religiosa (judeus ultra-ortodoxos s\u00e3o isentos do servi\u00e7o militar), mas tamb\u00e9m por n\u00e3o concordarem com a pr\u00f3pria militariza\u00e7\u00e3o da sociedade e, especialmente, serem contra a ocupa\u00e7\u00e3o da Palestina. <\/strong><\/p>\r\n\r\n\r\n\r\n Desde 1967 Israel mant\u00e9m o territ\u00f3rio palestino ocupado e, pior, colonizado. Cada vez mais col\u00f4nias t\u00eam sido constru\u00eddas e habitadas por colonos\/as israelenses em terras palestinas. Al\u00e9m de, novamente, a ocupa\u00e7\u00e3o contrariar o Direito Internacional, ela tr\u00e1s consequ\u00eancias avassaladoras para o povo palestino, como o apartheid. Israel controla todo o territ\u00f3rio, logo tem dom\u00ednio sobre a \u00e1gua e a energia el\u00e9trica tamb\u00e9m. Enquanto casas palestinas est\u00e3o sujeitas \u00e0 falta de ambos, nas col\u00f4nias nunca falta esse tipo de suprimento. Al\u00e9m disso, nem todas as estradas e checkpoints<\/em> podem ser utilizadas por palestinos\/as. Algumas s\u00e3o exclusivas para colonos\/as. Em \u00faltima inst\u00e2ncia, Israel controla a vida e a morte de cada palestino\/a, em uma rela\u00e7\u00e3o altamente assim\u00e9trica; basta lembrar que o porte de arma \u00e9 ilegal para quem vive na Cisjord\u00e2nia e muitos protestos s\u00e3o pac\u00edficos, sem quaisquer tipos de armas, nem mesmo pedras.<\/p>\r\n\r\n\r\n\r\n Contudo, algumas estrat\u00e9gias s\u00e3o usadas pelo Estado de Israel para o mundo n\u00e3o ver o genoc\u00eddio contra o povo palestino. Uma delas \u00e9 o pinkwashing<\/em>, ou seja, o uso de direitos LGBTQ para dar a impress\u00e3o ao mundo de que um pa\u00eds que respeita a diversidade n\u00e3o poderia estar engajado em uma limpeza \u00e9tnica. Outra t\u00e1tica parecida \u00e9 o vegan-washing:<\/em> o uso dos direitos animais sem, de fato, se preocupar com eles, mas para passar uma imagem friendly. <\/strong><\/p>\r\n\r\n\r\n\r\n Nesse contexto, quando o ex\u00e9rcito israelense oferece refei\u00e7\u00f5es veganas e vestu\u00e1rio sint\u00e9tico, ele est\u00e1 fazendo vegan-washing<\/em>. Um exemplo que nos mostra que os animais est\u00e3o sendo usados para esse fim \u00e9 o uso de c\u00e3es vindos da Holanda e treinados para atacar palestinos e \u00e1rabes, distinguidos pelas suas roupas e linguagem. Os c\u00e3es s\u00e3o utilizados como um meio de consolidar a ocupa\u00e7\u00e3o militar israelense na Palestina e para ferir e matar pessoas. N\u00e3o h\u00e1 nada de vegano nisso. Se o veganismo est\u00e1 comprometido com o fim da explora\u00e7\u00e3o dos animais, ele tamb\u00e9m n\u00e3o pode ser conivente com a opress\u00e3o humana.<\/p>\r\n\r\n\r\n\r\n E o que n\u00f3s podemos fazer de longe, al\u00e9m de n\u00e3o bater palmas para o vegan-washing<\/em>? Apoiar o BDS, movimento de boicote, desinvestimentos e san\u00e7\u00f5es contra Israel. O boicote foi utilizado para pressionar o fim da segrega\u00e7\u00e3o racial na \u00c1frica do Sul e agora tem sido utilizado pelo fim do apartheid na Palestina. Sua primeira a\u00e7\u00e3o pode ser assinar a peti\u00e7\u00e3o contra o uso de c\u00e3es pelo ex\u00e9rcito israelense como arma de guerra na Palestina, direcionada ao Minist\u00e9rio das Rela\u00e7\u00f5es Exteriores e ao Minist\u00e9rio de Infraestrutura e Meio Ambiente da Holanda, elaborada pela Palestinian Animal League<\/a>.<\/p>\r\n\r\n\r\n\r\n