Bom, mal come\u00e7amos o m\u00eas e minha timeline no Twitter come\u00e7ou a lotar de discuss\u00f5es sobre relacionamentos com pessoas com defici\u00eancia. Poderia dizer que fiquei surpresa, mas estaria mentindo, o que esperar do m\u00eas dos namorados, afinal?\u00a0Quando estou solteira nesta \u00e9poca do ano, resolvo sempre levar para o lado c\u00f4mico. Aproveito as promo\u00e7\u00f5es nas lojas, dou aquela renovada no guarda roupa, maquiagens e itens de beleza. \u00c0s vezes vejo ofertas nos sites de livros e compro aqueles t\u00edtulos desejados. Por\u00e9m, como disse, este ano foi diferente. Os ventos trouxeram novidades para mim.<\/p>\r\n\r\n\r\n\r\n
As conversas na timeline foram bem explicativas, com muitas participa\u00e7\u00f5es que, de alguma forma, me provocaram algumas inquieta\u00e7\u00f5es. Como tenho lido muita coisa interessante nos \u00faltimos meses, acabei mergulhando nas reflex\u00f5es. N\u00e3o foi apenas o capacitismo presente nas rela\u00e7\u00f5es (ou nas n\u00e3o rela\u00e7\u00f5es) sentimentais que me incomodou esses dias, mas toda a estrutura em torno dos desafios de ser uma mulher forte, independente e, no meu caso, com defici\u00eancia.<\/p>\r\n\r\n\r\n\r\n
Sempre vejo reportagens explicando o medo masculino diante da for\u00e7a feminina ou sobre as dificuldades de muitos em demonstrar interesse por algu\u00e9m fora dos padr\u00f5es. \u00c9 como se existisse algo na for\u00e7a de uma mulher e\/ou na diversidade feminina que provocasse e incomodasse a maioria das pessoas. Sem falar no imagin\u00e1rio em torno da sexualidade de algu\u00e9m com defici\u00eancia que prejudica a possibilidade de rela\u00e7\u00f5es.<\/strong><\/p>\r\n\r\n\r\n\r\n Tentei encontrar uma solu\u00e7\u00e3o, contudo descobri minha incapacidade de responder ou guiar um caminho para essa realidade. H\u00e1 momentos em que ainda me pego pensando se devemos diminuir nossa pot\u00eancia, adquirida com anos de experi\u00eancia e maturidade, porque a sociedade ainda n\u00e3o sabe lidar com isso.<\/p>\r\n\r\n\r\n\r\n De fato, n\u00e3o sei dizer. Entretanto, mantive minhas reflex\u00f5es, principalmente na trajet\u00f3ria de nossas vidas. Notei o qu\u00e3o somos programadas para sermos queridas e desejadas.<\/p>\r\n\r\n\r\n\r\n N\u00e3o h\u00e1, em nossa educa\u00e7\u00e3o, um espa\u00e7o para a possibilidade de sermos s\u00f3s. H\u00e1 um mau agouro na solid\u00e3o, principalmente na feminina. Fiquei imaginando o destino tra\u00e7ado para todas aquelas \u00e0 margem, ali onde a sociedade n\u00e3o alcan\u00e7ou com suas normas e regrinhas chatas. <\/strong><\/p>\r\n\r\n\r\n\r\n Se outrora \u00e9ramos chamadas de bruxas, hoje somos as tias, loucas e cheias de gatos.<\/p>\r\n\r\n\r\n\r\n Somos tias<\/strong><\/p>\r\n\r\n\r\n\r\n Nascemos com pap\u00e9is e responsabilidades j\u00e1 definidas, aplicadas no come\u00e7o da nossa vida e cobradas constantemente na fase adulta. Precisamos ser crian\u00e7as delicadas, fofas e quietas. Mo\u00e7as de fam\u00edlia, recatadas e capazes de cuidar da casa. Mulheres fortes, amantes, donas de casa e m\u00e3es. Por fim, devemos ser av\u00f3s fofas e especialistas em receitas deliciosas. O ciclo repete a cada gera\u00e7\u00e3o.<\/p>\r\n\r\n\r\n\r\n A menininha princesinha do pai, a adolescente delicada na festa de debutante e a mulher linda desejada por v\u00e1rios homens.\u00a0Somos ensinadas a ser desejadas e bem cuidadas, mas se esqueceram de dizer que nem sempre ser\u00e1 assim.\u00a0Nos cercam de tantas regrinhas, por\u00e9m a vida n\u00e3o ter\u00e1 o tom de rosa do quarto. Muitas vezes ser\u00e1 um pouco cinza.<\/p>\r\n\r\n\r\n\r\n Ficar para titia pode ser a maior trag\u00e9dia na vida de uma mulher. Pior ainda se morar com os pais enquanto seus irm\u00e3os e amigos possu\u00edrem uma fam\u00edlia est\u00e1vel, ou passar por relacionamentos que nunca d\u00e3o certo recebendo constantes questionamentos sobre a possibilidade de um casamento, at\u00e9 chegar o momento em que eles n\u00e3o perguntar\u00e3o mais, pois n\u00e3o acreditam que um dia ir\u00e1 conseguir isso.<\/p>\r\n\r\n\r\n\r\n Somos loucas<\/strong><\/p>\r\n\r\n\r\n\r\n Depois (ou durante) do est\u00e1gio de titia come\u00e7am a questionar sua capacidade mental. \u201cFulana deve ter alguma coisa errada, n\u00e3o \u00e9 poss\u00edvel ningu\u00e9m querer nada com ela<\/em>\u201c. O desejo de viver uma vida independente torna-se um sinal de frustra\u00e7\u00e3o para muitos, afinal ter uma vida fora de um ambiente familiar n\u00e3o combina com uma mulher. Imposs\u00edvel negar o desejo instintivo de ser m\u00e3e, dizem.<\/p>\r\n\r\n\r\n\r\n Somos donas dos gatos<\/strong><\/p>\r\n\r\n\r\n\r\n Se voc\u00ea for solteira, independente e resolver adotar\/resgatar algum animal de estima\u00e7\u00e3o, principalmente gatos, logo confirmam sua sina: solid\u00e3o. Escolher um estilo de vida independente com seus bichos e coisas pode ser interpretado como \u201cfalta de op\u00e7\u00e3o\u201d, uma vez que est\u00e1 saindo do script feminino.<\/p>\r\n\r\n\r\n\r\n O mais intrigante desta hist\u00f3ria \u00e9 perceber como a mulher \u00e9 cobrada por algo al\u00e9m do seu controle. Uma coisa fora de toda a cria\u00e7\u00e3o recebida durante sua vida. N\u00e3o somos preparadas para sermos s\u00f3 e quando estamos nessa condi\u00e7\u00e3o n\u00e3o nos permitem viver com ela.<\/p>\r\n\r\n\r\n\r\n N\u00e3o tenho a solu\u00e7\u00e3o dessa situa\u00e7\u00e3o, mas acredito que o caminho seja o auto-amor. O lugar de uma mulher \u00e9 onde ela quer, mas para poder ocupar este espa\u00e7o \u00e9 preciso ter muita for\u00e7a. Mas para dar conta desta press\u00e3o \u00e9 necess\u00e1rio cuidarmos de nossas mentes, corpo e esp\u00edrito. Resistir exige muito de n\u00f3s.<\/strong><\/p>\r\n\r\n\r\n\r\n Haver\u00e1 momentos em que iremos cair e tudo bem. Nosso sofrimento \u00e9 leg\u00edtimo, pois \u00e9 resultado de um processo de amadurecimento. Com o passar do tempo, vamos nos fortalecendo e experimentando a beleza da liberdade. Desse modo, aos poucos vamos nos moldando em nossa jornada, para no fim sermos luz para aquelas que vir\u00e3o atr\u00e1s de n\u00f3s.<\/p>\r\n\r\n\r\n\r\n