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Ecofeminismo: Mulheres e Natureza\u201d \u00e9 um s\u00e9rie de artigos do Modefica<\/a>\u00a0que busca discutir a import\u00e2ncia da conex\u00e3o das mulheres com os seres n\u00e3o-humanos e o meio-ambiente. A s\u00e9rie tem como objetivo abordar as quest\u00f5es \u00e9ticas e morais, al\u00e9m das quest\u00f5es culturais, sociais e econ\u00f4micas relacionadas ao feminismo, veganismo e ecologia.Voc\u00ea pode ler a s\u00e9rie completa\u00a0aqui<\/a>.\u00a0<\/em><\/p>\r\n<\/div>\r\n\r\n\r\n\r\n

Qualquer tema contra-hegem\u00f4nico suscita cr\u00edticas e questionamentos, especialmente por parte daqueles que querem manter a supremacia e n\u00e3o abrir m\u00e3o de seus privil\u00e9gios. Assim acontece com feminismos, ambientalismos e quaisquer movimentos que denunciem sistemas de opress\u00e3o por ra\u00e7a\/etnia, g\u00eanero, orienta\u00e7\u00e3o sexual, classe e assim por diante.<\/p>\r\n\r\n\r\n\r\n

Quando compreendemos os direitos humanos como conquistas hist\u00f3ricas, j\u00e1 nos parece mais vis\u00edvel a necessidade de um olhar atento \u00e0s especificidades: n\u00e3o podemos mais afirmar direitos para sujeitos abstratos, pois, em realidade, eles representam um sujeito muito bem definido: ele \u00e9 branco, heterossexual, classe m\u00e9dia. Mas diferentes correntes feministas j\u00e1 nos mostraram tamb\u00e9m que tampouco se pode falar de uma mulher abstrata: temos cores, cren\u00e7as, idades e desejos diversos. Uma mulher negra, l\u00e9sbica e pobre sofre desproporcionalmente a opress\u00e3o e as injusti\u00e7as, se comparada a uma mulher branca, cis, hetero e rica.<\/p>\r\n\r\n\r\n\r\n

Hoje, embora se tenha essa vis\u00e3o das especificidades que afastam uma concep\u00e7\u00e3o universalista, ao longo dos \u00faltimos s\u00e9culos, o pensamento feminista tem se expressado de diversas maneiras, por isso falamos em feminismos, no plural e n\u00e3o no singular. Cada uma dessas ondas, ou correntes, apresentam diferentes argumentos e fazem diferentes propostas, mas o comprometimento de todas \u00e9 com a aboli\u00e7\u00e3o do sexismo, ou seja, de um sistema de opress\u00e3o baseado no sexo.<\/p>\r\n\r\n\r\n\r\n

Nesse sentido, muitas dessas correntes usam duas categorias fundamentais para o paradigma feminista: g\u00eanero e patriarcado. Mesmo que exista um longo debate sobre ambas, parto da ideia de que o patriarcado pode ser entendido como domina\u00e7\u00e3o masculina. Desse ponto de vista, se reconhece que a forma pela qual essa domina\u00e7\u00e3o ocorre depende do contexto, mas continua sendo a partir da alegada superioridade dos homens em rela\u00e7\u00e3o \u00e0s mulheres, gerando discrimina\u00e7\u00f5es e injusti\u00e7as.<\/p>\r\n\r\n\r\n\r\n

G\u00eanero, por sua vez, passa a ser uma categoria de an\u00e1lise a partir da qual \u00e9 poss\u00edvel compreender essa sociedade. Os papeis dos homens e das mulheres s\u00e3o constru\u00eddos socialmente \u2013 e em oposi\u00e7\u00e3o \u2013 a partir do sexo, determinando que o espa\u00e7o p\u00fablico \u00e9 deles e o privado \u00e9 nosso. Nessa l\u00f3gica, nossa voz \u00e9 silenciada e a pr\u00f3pria legitimidade de reivindicarmos nossos direitos \u00e9 questionada pelo machismo, de forma mis\u00f3gina. <\/strong><\/p>\r\n\r\n\r\n\r\n

Por tr\u00e1s desse pensamento funciona uma l\u00f3gica dualista que associa os homens ao p\u00fablico e as mulheres ao privado, de forma tamb\u00e9m assim\u00e9trica, na medida em que os primeiros s\u00e3o mais valorizados em detrimento das mulheres e da esfera privada.<\/p>\r\n\r\n\r\n\r\n

Mas, afinal, qual \u00e9 a rela\u00e7\u00e3o entre a opress\u00e3o das mulheres pelo machismo, e os animais e a natureza? As correntes do ecofeminismo apresentam diferentes respostas para essa pergunta, por isso podemos novamente chamar de ecofeminismos, no plural. Ali\u00e1s, \u00e9 importante ressaltar que nem todas elas incluem a considera\u00e7\u00e3o \u00e9tica de animais, como indiv\u00edduos. Justamente por isso me posiciono a favor de um ecofeminismo animalista, a partir de uma argumenta\u00e7\u00e3o filos\u00f3fica, isto \u00e9, argumentativa e conceitual [1].<\/p>\r\n\r\n\r\n\r\n

Na literatura ecofeminista, podem ser identificadas diversas interconex\u00f5es entre a domina\u00e7\u00e3o das mulheres, dos animais e da natureza: hist\u00f3rica, conceitual, emp\u00edrica, socioecon\u00f4mica, lingu\u00edstica, simb\u00f3lica e liter\u00e1ria, espiritual e religiosa, epistemol\u00f3gica, pol\u00edtica e \u00e9tica [2]. Todas essas interconex\u00f5es refor\u00e7am a necessidade de analisar criticamente os dualismos a partir dos quais nossa sociedade est\u00e1 estruturada, especialmente rompendo a barreira da esp\u00e9cie e, a partir da amplia\u00e7\u00e3o do c\u00edrculo de moralidade, considerar tamb\u00e9m moralmente os animais e a natureza.<\/p>\r\n\r\n\r\n\r\n

S\u00e3o as mulheres, ao lado de outros grupos em situa\u00e7\u00e3o de vulnerabilidade, que sofrem mais com os problemas ambientais.<\/strong><\/p>\r\n\r\n\r\n\r\n

Embora todas sejam importantes para corroborar a necessidade de um olhar atento \u00e0s rela\u00e7\u00f5es entre diferentes formas de opress\u00e3o, a conex\u00e3o emp\u00edrica evidencia de maneira expl\u00edcita essa necessidade: s\u00e3o as mulheres, ao lado de outros grupos em situa\u00e7\u00e3o de vulnerabilidade, que sofrem mais com os problemas ambientais<\/a>. Embora todas as pessoas possam estar sujeitas a eles, s\u00e3o as mulheres e crian\u00e7as, por exemplo, que precisam caminhar longas dist\u00e2ncias para buscar \u00e1gua; a pobreza e a vulnerabilidade tamb\u00e9m t\u00eam g\u00eanero e leva as mulheres, muitas vezes l\u00edderes das suas fam\u00edlias, a viverem em locais com problemas ambientais, como ocupa\u00e7\u00f5es.<\/p>\r\n\r\n\r\n\r\n

Assim, podemos afirmar que os papeis de g\u00eanero femininos se justap\u00f5em com a quest\u00e3o ambiental, o que justifica uma amplia\u00e7\u00e3o da agenda feminista, a fim de que incorpore tamb\u00e9m uma vis\u00e3o n\u00e3o antropoc\u00eantrica e antiespecista. Ao reconhecer o nexo (a partir das diferentes formas de interconex\u00e3o) entre os sistemas de opress\u00e3o (racismo, classimo, heterossexismo, machismo, especismo etc.), o ecofeminismo animalista permite uma vis\u00e3o ampla das diferentes formas de opress\u00e3o, dando sentido ao olhar direcionado tanto \u00e0s mulheres quanto aos animais e a natureza.<\/p>\r\n\r\n\r\n\r\n

Notas de rodap\u00e9:<\/p>\r\n\r\n\r\n\r\n

[1] Pela import\u00e2ncia que a conex\u00e3o conceitual apresenta para a filosofia ecofeminista, ela ser\u00e1 tratada especificamente nos pr\u00f3ximos textos da s\u00e9rie \u201cecofeminismo: mulheres e natureza\u201d.<\/p>\r\n\r\n\r\n\r\n

[2] Essas s\u00e3o as interconex\u00f5es identificadas pela fil\u00f3sofa Karen J. Warren, no livro Ecofeminist Philosophy. Uma an\u00e1lise do alcance e dos limites da obra de Warren pode ser encontrada em ROSENDO, Daniela. Sens\u00edvel ao cuidado: Uma perspectiva \u00e9tica ecofeminista<\/a><\/strong>. Curitiba: Prismas, 2015.<\/p>\r\n\r\n\r\n\r\n

Texto escrito por Daniela Rosendo,\u00a0<\/em>publicado originalmente no Modefica<\/a>\u00a0como parte da s\u00e9rie \u201cEcofeminismo: Mulheres e Natureza\u201d e republicado com autoriza\u00e7\u00e3o exclusiva para o Fala Frida. Leia a s\u00e9rie completa\u00a0<\/em>aqui<\/a>.\u00a0<\/em><\/p>\r\n\r\n\r\n\r\n

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