Todas essas s\u00e3o vozes da m\u00e3e-boa-demais assustada e bastante desesperada dentro da psique. Ela n\u00e3o tem como agir de outro modo; ela \u00e9 o que \u00e9. No entanto, se nos fundirmos com a m\u00e3e-boa-demais por muito tempo, nossa vida e nossos talentos expressivos recuam para a sombra, e n\u00f3s definhamos em vez de nos fortalecermos.<\/strong><\/p>\nTal como a m\u00e3e-boazinha-demais, o anjo do lar precisa morrer. A facadas, se necess\u00e1rio. N\u00e3o que esse seja um processo f\u00e1cil, mas precisa ser iniciado. Outro momento em que me fortaleci enormemente (e matei mais um pouquinho a m\u00e3e-boa-demais) foi durante o meu parto. Durante minha gravidez, pesquisei muito e decidi que queria tentar um parto natural. Por\u00e9m, a conduta m\u00e9dica recorrente faz de tudo para nos desencorajar de tal coisa. Al\u00e9m disso, a estrutura hospitalar na cidade em que eu residia na \u00e9poca n\u00e3o tinha condi\u00e7\u00f5es de me oferecer tal coisa. Ent\u00e3o, encontrei outra cidade e profissionais que pudessem tentar esse parto junto comigo (porque sei que n\u00e3o h\u00e1 garantias). Foi uma decis\u00e3o muito d\u00edficil. Arrisquei ter que estar longe do meu marido durante o parto (o que felizmente n\u00e3o aconteceu), sa\u00ed da seguran\u00e7a da minha casa para ficar na casa de parentes. Mas valeu cada minuto. O trabalho de parto em si \u00e9 um total jogar-se num abismo, pois voc\u00ea n\u00e3o tem ideia de como vai se desenrolar. Foi muito, muito dif\u00edcil. Mas igualmente recompensador.<\/p>\n
Reconhe\u00e7o tamb\u00e9m que a maternidade pode nos afastar um pouco desse processo de autoconhecimento e liberta\u00e7\u00e3o. As demandas de um beb\u00ea pequeno s\u00e3o infinitas, o cansa\u00e7o \u00e9 extremo e, do jeito que nossa sociedade patriarcal ainda est\u00e1 organizada, o peso do cuidado ainda recai muito mais sobre a m\u00e3e. Some a isso uma carreira para retomar, uma casa para cuidar e toda a lista de tarefas que muitas de n\u00f3s assumimos. \u00c9 a tal da carga mental. Fomos ensinadas, desde pequenas, a cuidar de tudo e de todos – e a fazer isso perfeitamente, \u00e9 claro. Cuidamos dos nossos filhos e filhas, do marido, dos nossos pais, dos pais do nosso companheiro, das tias da escola, do cachorro, do gato e do periquito. S\u00f3 n\u00e3o cuidamos de n\u00f3s mesmas. E fazemos isso tudo sem reclamar, sem questionar. Apenas cuidamos e fazemos o que esperam de n\u00f3s. Clarrisa defende que “\u00e0s vezes, a mulher est\u00e1 t\u00e3o enredada sendo a m\u00e3e-boa-demais de outros adultos que eles se grudam \u00e0s suas tetas e n\u00e3o pretendem deixar que ela os abandone. Nesse caso, a mulher tem de afast\u00e1-los a coices e continuar assim mesmo”. Ela complementa que “para [as] mulheres adultas a quem os rigores da pr\u00f3pria vida [a] isolam e distanciam da sua vida profundamente intuitiva e cuja queixa muitas vezes \u00e9 a de estarem extremamente cansadas de cuidar de si mesmas, existe uma cura eficaz e s\u00e1bia. Uma retomada da investiga\u00e7\u00e3o ou uma nova inicia\u00e7\u00e3o ir\u00e1 restabelecer a intui\u00e7\u00e3o profunda, independente da idade de uma mulher. E \u00e9 a intui\u00e7\u00e3o profunda que sabe o que \u00e9 bom para n\u00f3s\u201d.<\/p>\n
Percebo que a cada dia estou mais forte e pr\u00f3xima de mim mesma. Por isso, querida mulher, eu te digo: n\u00e3o, voc\u00ea n\u00e3o tem a obriga\u00e7\u00e3o de fazer tudo o que faz. Sim, voc\u00ea est\u00e1 sobrecarregada. Voc\u00ea tem o direito de virar as costas e sair andando sem olhar pra tr\u00e1s a qualquer tempo. Voc\u00ea tem o direito de estar com raiva. Pegue essa energia e a transforme. Porque quando matamos o “arqu\u00e9tipo da m\u00e3e-boa-demais-e-sempre-gentil da nossa psique, largamos a teta e aprende[mos] a ca\u00e7ar. H\u00e1 uma m\u00e3e selvagem \u00e0 espera para nos ensinar”.\u00a0<\/span><\/p>\n <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
Por isso, querida mulher, eu te digo: n\u00e3o, voc\u00ea n\u00e3o tem a obriga\u00e7\u00e3o de fazer tudo o que faz. Sim, voc\u00ea est\u00e1 sobrecarregada.<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":7960,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":[],"categories":[204,125],"tags":[98,84,37,121],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/3640"}],"collection":[{"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=3640"}],"version-history":[{"count":3,"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/3640\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":7961,"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/3640\/revisions\/7961"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media\/7960"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=3640"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=3640"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=3640"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}