Ap\u00f3s o melhor ano da minha vida, me mudei pra Maca\u00e9. Eu e meu companheiro passamos um ano incr\u00edvel em Londres: eu fui fazer doutorado em uma universidade super bacana e ele foi cursar MBA. Minha tese avan\u00e7ou bastante, viajamos um monte, conhecemos pessoas muito interessantes, zanzamos por todos os cantos da cidade. S\u00f3 que t\u00ednhamos compromissos p\u00f3s-Londres<\/i>. Meu marido precisava voltar para a empresa em que trabalhava e eu precisava defender a tese. Lembro de achar tudo horr\u00edvel em Maca\u00e9: os fios da ilumina\u00e7\u00e3o p\u00fablica expostos me incomodavam; os muros pixados me entristeciam; as op\u00e7\u00f5es eram limitadas. E l\u00e1 estava eu.\u00a0<\/span><\/p>\n

Poucos meses ap\u00f3s nossa chegada, engravidei. S\u00f3 que as coisas n\u00e3o melhoraram. A bagun\u00e7a hormonal me deixou com mais raiva ainda da cidade. Eu beirava a depress\u00e3o. Queria sumir dali. Meu filho nasceu. A amamenta\u00e7\u00e3o levou dois longos meses para engrenar. Muita dor, sangue, l\u00e1grimas e solid\u00e3o. E eis que no meio deste puerp\u00e9rio dif\u00edcil, pra n\u00e3o dizer enlouquecedor, eu comecei a frequentar a Dan\u00e7a Materna.<\/p>\n

A dan\u00e7a era um encontro semanal de m\u00e3es e beb\u00eas. Em um ambiente totalmente preparado, n\u00f3s, rec\u00e9m m\u00e3es, nos along\u00e1vamos enquanto nossos beb\u00eas brincavam pelo ch\u00e3o. Depois, encorajadas por nossa mentora, bail\u00e1vamos pelo sal\u00e3o em saias rodadas com os beb\u00eas colados a nossos corpos em slings. Eu, que nem sabia dan\u00e7ar, me encorajava e rodopiava… Quase todos as crian\u00e7as dormiam ao final tamanha era a tranquilidade do ambiente. A energia daqueles encontros era contagiante. N\u00f3s mulheres, nos reconhec\u00edamos, nos olh\u00e1vamos nos olhos, nos entend\u00edamos, nos apoi\u00e1vamos, d\u00e1vamos as m\u00e3os. Na solid\u00e3o e confus\u00e3o do puerp\u00e9rio, compartilh\u00e1vamos. Sabe aquele ditado: \u201cIt takes a village to raise a child\u201d<\/i> (\u201c\u00c9 preciso uma vila inteira para criar uma crian\u00e7a\u201d)? Eu estava come\u00e7ando a entender o significado.\u00a0<\/span><\/p>\n

Ali percebi que passei a fazer parte de um grupo. Cada sexta-feira era esperada com ansiedade. Fora da dan\u00e7a, nos encontr\u00e1vamos para bater papo, tomar caf\u00e9, para que as crian\u00e7as brincassem juntas. E assim o fardo de descobrir o que \u00e9 ser m\u00e3e foi ficando cada vez mais leve. <\/strong><\/p>\n

Era reconfortante saber que a fase tensa que meu filho estava vivendo era comum para a idade. Dicas de truques, comidinhas, m\u00e9dicos, enfim, a rede de apoio era para todas as horas e situa\u00e7\u00f5es. O ponto alto desse amor foi na festa junina daquele ano. Tudo preparado com muito carinho, a decora\u00e7\u00e3o, a coreografia… Os beb\u00eas no ch\u00e3o explorando um ambiente seguro.<\/p>\n

Ao final da tarde, com o sol se pondo, dan\u00e7amos em roda. Acendemos lanternas e agradecemos por aquele momento. Poucas vezes me senti t\u00e3o amada e t\u00e3o parte<\/i>.<\/strong><\/p>\n

Agora que j\u00e1 estou fora de Maca\u00e9 h\u00e1 um tempo, percebo que era isso que a cidade tinha pra me oferecer: o amor daquelas pessoas incr\u00edveis. Mas enquanto estava l\u00e1, eu n\u00e3o conseguia ter essa no\u00e7\u00e3o, s\u00f3 queria ir embora o quanto antes.<\/p>\n

Percebi, em um dos momentos mais dif\u00edceis da minha vida, que mulheres, juntas, t\u00eam muita for\u00e7a. Que o amor que emana da uni\u00e3o \u00e9 transformador. Que somos capazes de uma irmandade e isso muda o mundo. Que uma nova gera\u00e7\u00e3o pode florescer a partir dessa rede. <\/strong><\/p>\n

E foi a partir dessa experi\u00eancia de fazer parte que eu decidi criar um blog em que n\u00e3o s\u00f3 eu como outras mulheres pudessem falar sobre suas experi\u00eancias de maternidade. Para que pud\u00e9ssemos ser uma rede virtual tamb\u00e9m. Alguns meses depois, o blog cresceu, me juntei a duas parceiras e criamos o Fala Frida. Cada vez que publico um texto de alguma amiga de Maca\u00e9, sinto que estou retribuindo um pouquinho do que a cidade me deu. Gratid\u00e3o infinita!<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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