Estava dando a r\u00e9 no meu carro quando uma mulher come\u00e7ou a bater no vidro:<\/p>\n
Para, porra! Tu atropelou a minha mala. <\/strong><\/p>\n Berrava, no estacionamento do col\u00e9gio das crian\u00e7as.<\/p>\n Desci em p\u00e2nico, achei que tinha atropelado uma pessoa. N\u00e3o. Era a mala mesmo, quase embaixo da roda traseira do meu carro. Me expliquem voc\u00eas como eu ia adivinhar que ela tinha \u201cestacionado\u201d a mala atr\u00e1s do meu carro, para abrir o dela??<\/p>\n Pois a mulher estava fora de controle. Depois de gritar comigo, come\u00e7ou a chorar copiosamente, enquanto me contava todas as trag\u00e9dias que haviam se abatido sobre ela, no \u00faltimo m\u00eas.<\/p>\n Na semana seguinte, estava na fila do supermercado, com umas tr\u00eas caixas de papel\u00e3o, que havia conseguido a duras penas, quando uma senhora foi pegando uma delas e eu comecei a explicar que tinha demorado pra achar estas, que ia precisar, que estava me mudando, que se ela quisesse eu podia chamar o menino que empacotava\u2026. n\u00e3o acabei de falar e a mulher j\u00e1 estava gritando:<\/p>\n Pode ficar com as tuas caixas. Fica com elas, sua ego\u00edsta!!<\/strong><\/p>\n No fim do ano, fazendo compras no Sacol\u00e3o, em Florian\u00f3polis, vejo um bolo de gente correndo pra fora, gritos de\u00a0 excita\u00e7\u00e3o, era briga de mulher.<\/p>\n Na fila do caixa me contaram que duas mulheres haviam brigado por uma vaga no estacionamento. Na sa\u00edda l\u00e1 estava uma ruiva bonita, chorando, toda escabelada e cheia de arranh\u00f5es. Logo chegou o namorado e um carro da pol\u00edcia. Ainda pude ouvi-la tentando explicar o inexplic\u00e1vel, entre solu\u00e7os e l\u00e1grimas.<\/p>\n N\u00e3o vou engatar o papo f\u00e1cil de que todas as mulheres s\u00e3o umas malucas.<\/p>\n Talvez at\u00e9 sejam. Mas cada um tem suas raz\u00f5es para ter um dia de f\u00faria. E as mulheres, em particular, t\u00eam muitas.<\/p>\n Sou solid\u00e1ria. Fico pensando no tamanho do estresse de cada uma e no pior, a ressaca moral. Imagino essas criaturas, sentando na dire\u00e7\u00e3o de seus carros, e pensando:<\/p>\n o que foi que eu fiz?<\/strong><\/p>\n Eu entendo bem, porque j\u00e1 fiz dessas.<\/p>\n Nunca cheguei as vias de fato com ningu\u00e9m, morro de medo. A certeza de que eu ia levar uma surra \u00e9 o que me impede. Kkkkkk mentira! Viol\u00eancia f\u00edsica, decididamente, n\u00e3o \u00e9 minha praia.<\/p>\n Num dia ruim, briguei com o motorista da van dos meus filhos e eles ficaram sem transporte. O que acabou sendo \u00f3timo, mas na hora pareceu o fim do mundo. Outra vez, depois de bater boca com a vendedora, a caixa e a gerente, larguei uma cal\u00e7a no balc\u00e3o da Zara e sa\u00ed da loja, pisando firme. Fiquei uns seis meses sem voltar e quando a crise de abstin\u00eancia se tornou insuport\u00e1vel, comprei uma capa e uma peruca loira pra entrar na loja disfar\u00e7ada. Kkkkkkkk mentira!<\/p>\n Tenho uma amiga que foi obrigada a tirar o filho da aula de m\u00fasica, porque brigou com o financeiro e depois, descobriu que a culpa era dela. Outra que saiu do carro aos berros no meio de um posto de gasolina, brigando com a motorista de outro carro, que tinha interditado o tr\u00e2nsito para comprar um lanchinho, enquanto ela estava mega atrasada, sem gasolina e no limite da paci\u00eancia.<\/p>\n N\u00e3o \u00e9 que eu, sendo maluca, s\u00f3 conhe\u00e7a gente desse tipo.<\/p>\n Conhe\u00e7o do outro, tamb\u00e9m. Gente que decide se separar da noite pro dia, em sil\u00eancio, sem ningu\u00e9m saber, nem o marido. Gente que fica doente, se opera e s\u00f3 conta pra fam\u00edlia, quando j\u00e1 est\u00e1 em casa. Gente que tem filho em segredo, vai para maternidade a p\u00e9 e depois liga pro pai da crian\u00e7a. Tudo em sil\u00eancio, na mais adequada discri\u00e7\u00e3o.<\/p>\n Agora me digam voc\u00eas:<\/p>\n \u00a0n\u00e3o s\u00e3o estas mais malucas do que as outras?<\/strong><\/p>\n Tem gente de todo tipo e alguns lidam muito bem com seus dem\u00f4nios, outros lidam muito mal. Incluo no \u00faltimo grupo as ruidosas brigonas e as sofredoras silenciosas.<\/p>\n O meu conselho era sempre o mesmo, num dia de estresse profundo n\u00e3o saia de casa pra n\u00e3o se meter em confus\u00e3o. Mas ele n\u00e3o servia pras sofredoras silenciosas que, aparentemente, n\u00e3o reagem.<\/p>\n Lendo o Mulheres que correm com os lobos<\/i> aprendi outro, mais \u00fatil, que divido com voc\u00eas.<\/p>\n Ao inv\u00e9s de ir jogando todo o lixo \u2013 tristeza, estresse, medo, raiva, frustra\u00e7\u00e3o, cansa\u00e7o \u2013 dentro de um quarto fechado, at\u00e9 o dia em que a porta escancara e sai tudo pra fora, de um jeito torto.<\/p>\n O melhor \u00e9 a gente ir abrindo a porta aos poucos pra deixar as sombras sa\u00edrem. O vento soprar e oxigenar o ambiente.<\/p>\n Parar antes de chegar no limite!<\/strong><\/p>\n Expressar o que sente, dizer n\u00e3o, manifestar seus desejos e seus medos, viver seus lutos, chorar seus fracassos.<\/p>\n Sei bem como s\u00e3o corajosas essas mulheres.<\/p>\n Selvagens e saud\u00e1veis.<\/strong><\/p>\n E o melhor: n\u00e3o v\u00e3o pagar esse mico todo!<\/p>\n Beijo pra voc\u00eas.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Briguei com o motorista da van dos meus filhos e eles ficaram sem transporte. 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