N\u00e3o sou contra princesas. Absolutamente. Mas sou sim contra a ideia de que ser bonita, doce, bem comportada e esperar um pr\u00edncipe encantado devam ser as aspira\u00e7\u00f5es de toda menina<\/i>. Podem at\u00e9 ser. E tudo bem se forem. Mas meu sonho \u00e9 que as meninas possam tamb\u00e9m n\u00e3o desejar pr\u00edncipe nenhum; ou desejar uma princesa. Quero que elas aspirem ser engenheiras, jogadoras de futebol, astronautas ou presidentes de empresas. E que os meninos tamb\u00e9m possam ser princesas, brincar de boneca e ver valor em cuidar dos filhos e da casa ou qualquer outro papel tradicionalmente associado \u00e0s mulheres.<\/p>\n

No livro In defense of the princess: how can plastic tiaras and fairytale dreams can inspire smart, strong women<\/i>\u00a0(em tradu\u00e7\u00e3o livre: Em defesa da princesa: como coroas de pl\u00e1stico e contos de fadas podem inspirar mulheres fortes e inteligentes) Jerramy Fine argumenta que a ideia de princesa continua a capturar nossos cora\u00e7\u00f5es independente de idade, educa\u00e7\u00e3o, nacionalidade, contexto socioecon\u00f4mico, consumo e m\u00eddia. Talvez por conta disso, em 2013 foi criada em Uberl\u00e2ndia a primeira Escola de Princesas do Brasil. O tremendo sucesso fez com que o neg\u00f3cio virasse franquia e hoje j\u00e1 existem unidades em outras seis cidades. A escola foi concebida por uma psicopedagoga e oferece \u201ccursos\u201d para meninas de 4 a 15 anos que chegam a custar 1200 reais.<\/p>\n

Entre os aprendizados, est\u00e3o o resgate de princ\u00edpios \u00e9ticos, biografias de princesas reais e fict\u00edcias, dicas de relacionamentos reais e virtuais, boas maneiras, etiqueta, import\u00e2ncia da apar\u00eancia, dicas de cabelo e maquiagem, limpeza e gerenciamento da casa (que eles chamam de \u201ccastelo da princesa\u201d), corte e costura, lavanderia, princ\u00edpios morais do matrim\u00f4nio e educa\u00e7\u00e3o sexual – ou como ser \u201cpassageira ou eterna\u201d. Sim, voc\u00ea leu certo. Existe um local no Brasil a que chamam de escola ensinando meninas sobre como serem passageiras ou eternas na vida de um homem. Se voc\u00ea, como eu, teve dificuldades em acreditar que isso existe, clique aqui<\/a> e veja com seus pr\u00f3prios olhos.<\/p>\n

Em seu livro, Fine tenta desfazer um pouco da antipatia que muitos sentem com a ideia de princesas e de um mundo cor-de-rosa para as garotas – tal qual o da Escola de Princesas. Para ela, apesar de serem boazinhas e educadas, as princesas da Disney n\u00e3o se conformam, n\u00e3o t\u00eam medo de falar o que pensam nem de assumir riscos. Ou seja, o sonho mais b\u00e1sico da princesa – de acordo com a autora – fala diretamente com a menina que n\u00e3o \u00e9 popular no col\u00e9gio, com a filha desgarrada da fam\u00edlia, com a mulher que est\u00e1 perdida em seu casamento, etc. A autora tenta passar a ideia de \u201cprincesas feministas\u201d e acredita que empoderamento feminino tamb\u00e9m \u00e9 a mensagem fundamental das princesas.<\/p>\n

Ser\u00e1 mesmo? Em quantos contos a felicidade das princesas n\u00e3o est\u00e1 ligada ao casamento ou \u00e0 chegada de um pr\u00edncipe encantado para \u201csalv\u00e1-la\u201d? E, considerando que tantas princesas est\u00e3o sendo \u201cformadas\u201d – seja na tal escola ou mesmo dentro de casa – onde encontrar pr\u00edncipes para elas? Voc\u00ea conhece alguma escola de pr\u00edncipes por a\u00ed? Quantos pais e m\u00e3es est\u00e3o preocupados em ensinar seus filhos a serem bons pais e bons maridos? Ser\u00e1 que a propaga\u00e7\u00e3o deste ideal de princesa n\u00e3o frustrar\u00e1 tantas meninas quando elas finalmente conclu\u00edrem que pr\u00edncipes n\u00e3o existem?<\/p>\n

Mas e os meninos – como seres humanos que s\u00e3o – n\u00e3o deveriam tamb\u00e9m aprender a cozinhar, lavar roupa e arrumar a casa? Para a dona da escola, que \u00e9 m\u00e3e de dois, parece que n\u00e3o, j\u00e1 que crian\u00e7as do sexo masculino n\u00e3o entram<\/a>. “N\u00e3o coloco meninos aqui porque acho que a linguagem \u00e9 diferente. Meninas exigem delicadeza, uma forma mais rosa\u201d. Dia desses eu estava com meu filho na rua – ele empurrando seu carrinho de beb\u00ea cor-de-rosa – e uma pessoa, ao v\u00ea-lo chorando, falou: \u201cn\u00e3o chora, princesa\u201d. Ou seja, se est\u00e1 empurrando um carrinho de beb\u00ea, s\u00f3 pode ser menina. E, sendo menina, \u00e9 princesa. Precisamos ir al\u00e9m, minha gente.<\/p>\n

A constru\u00e7\u00e3o de este\u00f3tipos de g\u00eanero come\u00e7a muito cedo, para n\u00e3o dizer no ber\u00e7o. Michele Yulo, criadora do blog Princess Free Zone<\/a> d\u00e1 o exemplo de brinquedos para beb\u00eas de tr\u00eas meses dispon\u00edveis no mercado. O chocalho \u201cpara meninos\u201d \u00e9 uma esp\u00e9cie de martelo azul com bolinhas coloridas e o \u201cpara meninas\u201d \u00e9 um anel de diamantes (!!!) nas cores rosa e lil\u00e1s. Na embalagem do primeiro consta a mensagem \u201cpara um menininho muito ocupado\u201d enquanto que na do segundo est\u00e1 escrito \u201cpara uma menininha muito doce\u201d. Ou seja, o brinquedo direcionado \u00e0 menina implica passividade e talvez o in\u00edcio da espera por um pr\u00edncipe encantado que a presenteie com um anel e o brinquedo “de menino” sugere atividade e aprendizado. Para aqueles que perguntam qual \u00e9 o problema disso, ela responde que esse \u00e9 s\u00f3 o come\u00e7o de uma estereotipa\u00e7\u00e3o de g\u00eanero que vai durar a vida toda dessa crian\u00e7a e vai determinar seu papel na sociedade.<\/p>\n

Fecho a reflex\u00e3o de hoje com esta menininha indignada<\/a> com o fato de que meninas est\u00e3o limitadas a comprar princesas e brinquedos rosas enquanto meninos est\u00e3o fadados ao mundo dos her\u00f3is e da cor azul. Por que n\u00e3o pode ser o contr\u00e1rio? Ou melhor, por que existe esta distin\u00e7\u00e3o t\u00e3o definitiva entre menino e menina? Bora mudar esta realidade!<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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