<\/p>\n

Nos \u00faltimos tempos as fotos de crian\u00e7as na Guerra da S\u00edria tem aparecido por todo canto. Eu aposto que voc\u00eas tamb\u00e9m tem vontade de morrer quando veem aquelas fotos, n\u00e3o \u00e9? Aquilo \u00e9 simplesmente insuport\u00e1vel. S\u00e9rio, \u00e9 fisicamente e emocionalmente insuport\u00e1vel. Abro o Instagram e vejo as fotos na minha timeline\u2026 Minha vida de repente n\u00e3o faz sentido nenhum. Eu passo a me odiar por desejar qualquer coisa al\u00e9m de comida e teto. Meu primeiro impulso \u00e9 querer fechar aquela p\u00e1gina imediatamente. E a\u00ed eu sinto uma culpa absurda. Culpa por querer me livrar daquele peso, por n\u00e3o querer partilhar daquela dor. E, no fim das contas (depois de eleger quantos minutos \u2013 segundos- vou ficar velando aquele desastre) o que fa\u00e7o \u00e9 fechar o Instagram e tentar n\u00e3o pensar naquilo ali.<\/p>\n

N\u00e3o quero ver, n\u00e3o quero saber daquilo…<\/strong><\/p>\n

Pois bem, esse desconforto me fez pensar em outro. O desconforto da descoberta do machismo<\/strong>. E de, lado a lado com isso, o de me tornar feminista. Vou falar da perspectiva de uma mulher branca, cis, classe m\u00e9dia, magra e com todos os outros privil\u00e9gios que eu sou incapaz de perceber pela simples condi\u00e7\u00e3o de eu sempre t\u00ea-los tido. Posso dizer que na pir\u00e2mide dos privil\u00e9gios s\u00f3 n\u00e3o sou um [homem-branco -europeu] (como a minha amiga Nicole sempre diz).<\/p>\n

Vejam bem, o feminismo incomoda<\/strong> porque ningu\u00e9m quer sair da zona de conforto. Da mesma forma como que voc\u00ea n\u00e3o quer ver as fotos da guerra na S\u00edria, voc\u00ea n\u00e3o quer saber que \u00e9 oprimida e, pior, que voc\u00ea \u00e9 uma opressora. Quando voc\u00ea come\u00e7a a entrar no feminismo \u00e9 obrigada a pensar em como sua empregada vive com um sal\u00e1rio m\u00ednimo, como sua cabelereira faz pra trabalhar no Jardins sendo que mora em Parelheiros, com quem os filhos da sua bab\u00e1 ficam enquanto ela cuida do seu. Voc\u00ea descobre que sofreu viol\u00eancia obst\u00e9trica, que seu marido \u00e9 opressor, que a chance da sua filha ser estuprada na universidade \u00e9 de 1 pra 5, que voc\u00ea conhece uma meia d\u00fazia de mulheres que j\u00e1 apanharam (mas n\u00e3o sabe quais s\u00e3o), que provavelmente algum parente seu j\u00e1 aliciou a filha da vizinha, que a chance de algum amigo do seu pai ter espiado por debaixo da saia da sua irm\u00e3 \u00e9 muito alta, que voc\u00ea n\u00e3o conseguiu amamentar porque o pai do seu filho n\u00e3o foi seu companheiro o suficiente, que voc\u00ea foi mera coadjuvante nas rela\u00e7\u00f5es sexuais que teve todos esses anos da sua vida.<\/p>\n

Em certo sentido, vai ficando mais dif\u00edcil de viver. A Poliana que ainda havia em voc\u00ea morre de uma vez por todas. Mas \u00e9 a\u00ed que acontece o \u201cpulo do gato\u201d. O insuport\u00e1vel vai dando lugar pra uma for\u00e7a interna arrebatadora. E n\u00e3o tem como voltar atr\u00e1s…<\/p>\n

O feminismo lhe mostra que as rela\u00e7\u00f5es mais honestas, felizes e realizadoras podem ser as rela\u00e7\u00f5es que voc\u00ea tem com outras mulheres. <\/strong><\/p>\n

Que as mulheres foram ensinadas a cuidar, a ter empatia, a refletir\/pensar criticamente o mundo e esses s\u00e3o, na verdade, os comportamentos mais importantes, mais poderosos e mais transformadores que existem. E que s\u00e3o, justamente esses, (comportamentos ensinados quase que exclusivamente para mulheres) que est\u00e3o faltando no mundo e que precisam ser ensinados aos homens. Que voc\u00ea pode fazer TODA a diferen\u00e7a na vida da sua amiga que est\u00e1 passando por uma psicose p\u00f3s- parto, da sua amiga que rec\u00e9m se separou (e o simples fato de voc\u00ea n\u00e3o vir com um discurso acusador j\u00e1 \u00e9 uma grande coisa), da mulher que faz algum servi\u00e7o na sua casa e est\u00e1 com o filho doente, da sua colega no escrit\u00f3rio que est\u00e1 sendo assediada… A lista \u00e9 INFINITA.<\/p>\n

O feminismo lhe ensina que o maior valor da sua vida, e a maior gra\u00e7a em viver, est\u00e1 justamente a\u00ed, na luta por um mundo melhor!<\/strong><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

  Nos \u00faltimos tempos as fotos de crian\u00e7as na Guerra da S\u00edria tem aparecido por todo canto. Eu aposto que voc\u00eas tamb\u00e9m tem vontade de morrer quando veem aquelas fotos, n\u00e3o \u00e9? Aquilo \u00e9 simplesmente insuport\u00e1vel. S\u00e9rio, \u00e9 fisicamente e emocionalmente insuport\u00e1vel. Abro o Instagram e vejo as fotos na minha timeline\u2026 Minha vida de […]<\/p>\n","protected":false},"author":4,"featured_media":2856,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":[],"categories":[206,125],"tags":[37,62,131,130],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2855"}],"collection":[{"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/4"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=2855"}],"version-history":[{"count":5,"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2855\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":8108,"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2855\/revisions\/8108"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media\/2856"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=2855"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=2855"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=2855"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}