Quando eu esperava meu primeiro filho, o dia em que agendaram a chegada dele foi esperado com muita ansiedade. Theo estava p\u00e9lvico e isso acabou me levando a uma ces\u00e1rea. Era sexta-feira e eu marquei para que tudo acontecesse \u00e0 tarde, estava fugindo de visitas porque ouvia falar do desconforto que vinha depois \u2013 achei que poderiam atrapalhar.<\/p>\n

Na v\u00e9spera eu queria ter ficado quieta, sossegada, numa esp\u00e9cie de concentra\u00e7\u00e3o para o grande momento. Mas n\u00e3o deu, os compromissos eram muitos, eu n\u00e3o soube fugir deles nem imaginava o que estava por vir. Na data certa, acordei cedinho e tomei um caf\u00e9 da manh\u00e3 caprichado com meu marido, na nossa padaria favorita. Jejum nunca foi meu forte e eu n\u00e3o poderia comer mais nada at\u00e9 depois da cirurgia. Ainda fui ao banco, fiz supermercado, resolvi um monte de coisas do trabalho. Estava me sentindo muito bem. Ap\u00f3s um banho, rumamos para o hospital. Entre mensagens de whatsapp que me desejavam uma boa hora, eu imaginava como seria o rostinho dele. Chegando l\u00e1, tudo era novidade. Eu n\u00e3o conseguia pensar direito em muita coisa, s\u00f3 imaginava se ia dar tudo certo. Rezei, e deu.<\/p>\n

Bati papo com os m\u00e9dicos na sala de parto e fiquei de olho no pai do Theo. Adriano e hospital s\u00e3o coisas que n\u00e3o combinam, eu tinha medo que ele passasse mal. Pedi \u00e0 equipe que prestasse aten\u00e7\u00e3o nele, que se saiu muito bem. Limpa daqui, soro dali… Uma for\u00e7a na barriga e senti que ele n\u00e3o estava mais dentro de mim. Tinha ouvido dizer que o beb\u00ea n\u00e3o chora logo que nasce, \u00a0ent\u00e3o eu n\u00e3o estranhei, fiquei apenas esperando pra ouvir a vozinha dele pela primeira vez. E era uma lindeza s\u00f3! A voz, porque o Theo parecia um velhinho de t\u00e3o enrugado… Um boc\u00e3o enorme e um olho esperto procurando entender o que se passava ao seu redor. Era tamb\u00e9m a cara do pai!<\/p>\n

A enfermeira o colocou no meu colo, eu consegui fazer um chameguinho nele e agradecer a Deus: \u00e9 meu filho, passa bem, que felicidade! Curti alguns minutos \u2013 r\u00e1pidos, mas curti \u2013 com ele bem do meu ladinho, aconchegado no meu peito. Depois foi me dando um enj\u00f4o, achei que minha press\u00e3o ia cair e nos separamos. As enfermeiras foram cuidar dele, que agora era acompanhado pelos olhos atentos e carinhosos do Adriano. E os m\u00e9dicos foram cuidar de mim, costurando tudo o que tinha sido cortado para ele vir ao mundo.<\/p>\n

Foram tr\u00eas longas horas \u2013 acho que as mais longas da minha vida. N\u00e3o havia quarto dispon\u00edvel. Theo ficou naquela incubadora, longe de mim mas sempre debaixo do olhar do pai, e minha fam\u00edlia me aguardando chegar. Enquanto isso, eu descansava na sala de recupera\u00e7\u00e3o esperando passar o efeito da anestesia. Conversei com uma mo\u00e7a que havia perdido o beb\u00ea e feito curetagem. Pensei: que insensibilidade colocarem a gente junto. \u00c9 triste saber que a sua alegria remete algu\u00e9m a momentos de tanta dor, como esse deve ter sido. Depois de um tempo, me chamaram e eu podia ir, enfim, encontrar meu bebezinho.<\/p>\n

Chegando no quarto, muitos olhares… Minha m\u00e3e me esperava junto a outros parentes e amigos queridos. O Theo veio com o Adriano, e ali ficamos juntinhos para eu amamentar pela primeira vez. Ele pegou o peito sem maiores problemas, e isso foi um al\u00edvio. Eu tinha medo de dar tudo errado. As visitas chegaram mesmo assim, n\u00e3o adiantou marcar \u00e0 tarde. A anestesia foi passando e tudo do\u00eda muito, nunca pensei que pessoas t\u00e3o queridas podiam incomodar desse jeito. E me deu uma coceira enorme, rea\u00e7\u00e3o \u00e0 anestesia \u2013 co\u00e7ava da ponta do dedo do p\u00e9 at\u00e9 a l\u00edngua. Quando todos foram embora, o Theo ficou s\u00f3 mais um pouquinho e foi dormir no ber\u00e7\u00e1rio. Naquela \u00e9poca, podia. Eu era t\u00e3o inexperiente com crian\u00e7a e me achava t\u00e3o incompetente pra isso que pensei serem as enfermeiras as melhores companhias pra ele, naquela hora. Tinha medo dele fazer coc\u00f4, tinha medo dele ter c\u00f3lica, tinha medo dele chorar e eu tamb\u00e9m. Aproveitei pra descansar, o quanto a dor dos pontos e a coceira permitiram.<\/p>\n

No dia seguinte, o m\u00e9dico apareceu para me ver. Me autorizou a tomar um banho e tirar a sonda. Eu n\u00e3o queria banho nenhum, queria \u00e9 ficar quieta. Do\u00eda para respirar. Mas ok, tomei o banho e de fato me senti melhor. Theozinho passou o dia com a gente, recebi mais visitas. Ele era um milagre e estava ali, do meu lado. Lembrancinha, amamentar, trocar fralda, servir cafezinho. Mais uma noite no hospital e tive alta. Quando sa\u00ed, me preocupei com as fotos. Queria uma lembran\u00e7a daquele momento. Bobagem, ele nunca sairia da minha cabe\u00e7a, com ou sem registro. E fui pra casa para cuidar dele, ainda meio anestesiada com tanta emo\u00e7\u00e3o ao mesmo tempo, sem ter a menor no\u00e7\u00e3o do que isso significaria.<\/p>\n

Como pode uma pessoinha que chega t\u00e3o pequena conquistar tanto espa\u00e7o, tomar conta da vida da gente, mudar tudo pelo avesso? Em poucos anos de Theo, aprendi mais do que em muitos sem ele. Hoje sei que, naquele 22 de junho de 2012, nascia ele e nascia outra Cris. Muito, mas muito melhor que a de antes. Gra\u00e7as ao Theo.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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