Esta \u00e9 a semana do famoso<\/p>\n
Dia Internacional da Mulher.<\/p>\n
Mas por que existe essa data? A partir de quando passou a ser lembrada? Tem sentido celebrar esse dia atualmente? Ao longo do tempo, foram v\u00e1rias idas e vindas at\u00e9 que o 8 de mar\u00e7o se consolidasse no calend\u00e1rio mundial. Ent\u00e3o hoje vamos falar de hist\u00f3ria.<\/p>\n
Luta por direitos<\/strong> N\u00e3o h\u00e1 muito consenso sobre a origem da data, mas come\u00e7ou-se a falar em um dia para as mulheres durante o que hoje se conhece como a “primeira onda do movimento feminista”. \u00c9 sempre complicado dividir a hist\u00f3ria em “compartimentos” como esse, pois corremos o risco de n\u00e3o englobar acontecimentos importantes ou de sermos simplistas demais. De qualquer modo, \u00e9 uma forma mais ou menos did\u00e1tica de se olhar para o passado. Pois bem. A primeira onda do feminismo corresponde a uma s\u00e9rie de a\u00e7\u00f5es empreendidas por movimentos de mulheres que, combinados com correntes revolucion\u00e1rias de esquerda, tiveram in\u00edcio em fins do s\u00e9culo XIX e culminaram em manifesta\u00e7\u00f5es em massa nos primeiros anos do s\u00e9culo XX. O movimento reivindicava mais direitos para as mulheres.\u00a0Estamos falando, principalmente, de poder votar, estudar, divorciar-se e ter acesso ao mercado de trabalho – coisas que parecem t\u00e3o banais hoje em dia, mas que foram motivo de muita briga no passado. As hist\u00f3rias que estamos acostumadas a ouvir destacam o protagonismo de mulheres americanas e europeias. Por\u00e9m, em diversas outras partes do mundo, mulheres passaram a se organizar para lutar pois mais dignidade e inclus\u00e3o social.\u00a0N\u00edsia Floresta, por exemplo, importante ativista pela emancipa\u00e7\u00e3o feminina, fundou a primeira escola para meninas<\/a> no Brasil, ainda durante o Imp\u00e9rio.<\/p>\n Greves e protestos<\/strong>\u00a0Em 1907, a chamada greve das costureiras<\/a>\u00a0chamou a aten\u00e7\u00e3o para as p\u00e9ssimas condi\u00e7\u00f5es de trabalho nas f\u00e1bricas t\u00eaxteis brasileiras. Em maio do ano seguinte,\u00a01500 mulheres marcharam nos Estados Unidos por igualdade pol\u00edtica e econ\u00f4mica. \u00a0Em 1909, o Partido Socialista Americano reuniu o dobro de p\u00fablico em outro protesto. Um ano depois, no Primeiro Congresso Internacional de Mulheres, em Copenhagem, a socialista alem\u00e3 Clara Zetkin apresentou uma proposta<\/a> para a institui\u00e7\u00e3o de um Dia internacional da Mulher, embora sem uma data espec\u00edfica. No mesmo ano, Leolinda Figueiredo Daltro<\/a> fundou no Brasil o Partido Republicano Feminino. Em 1911, mais de um milh\u00e3o de pessoas marcharam na \u00c1ustria, Dinamarca, Alemanha e Su\u00ed\u00e7a para marcar o Dia da Mulher em 8 de mar\u00e7o.\u00a0Dois anos mais tarde, a sufragista inglesa\u00a0Emily Davison<\/a>\u00a0se jogou em frente a um cavalo, em um tradicional evento da realeza brit\u00e2nica, para chamar a aten\u00e7\u00e3o do p\u00fablico para a causa do voto feminino.\u00a0Em 1917 – enquanto\u00a0protestos no Brasil exigiam uma jornada de trabalho de 8 horas e o fim do trabalho noturno para mulheres – 90 mil oper\u00e1rias marcharam na R\u00fassia contra o Czar Nicolau II, evidenciando suas p\u00e9ssimas condi\u00e7\u00f5es de trabalho, a fome e criticando a participa\u00e7\u00e3o do pa\u00eds na Primeira Guerra Mundial. Esse grande protesto, conhecido como \u201cP\u00e3o e Paz\u201d, foi brutalmente reprimido e precipitou a Revolu\u00e7\u00e3o Russa. O 8 de mar\u00e7o foi ent\u00e3o institu\u00eddo como o Dia Internacional da Mulher pelo movimento socialista<\/a>.\u00a0<\/b><\/p>\n O inc\u00eandio<\/strong> Uma das hist\u00f3rias mais contadas, quando se fala do Dia da Mulher, \u00e9 que em 1857, mais de 100 oper\u00e1rias, ao demandarem melhores condi\u00e7\u00f5es de trabalho, teriam morrido em um inc\u00eandio em uma f\u00e1brica t\u00eaxtil de Nova York. H\u00e1 muita controv\u00e9rsia envolvendo o evento e acredita-se que a\u00a0hist\u00f3ria possa ser falsa<\/a>. H\u00e1 mais evid\u00eancias, entretanto, de que um inc\u00eandio tenha de fato ocorrido em 1911, na Triangle Shirtwaist Company, tamb\u00e9m na capital americana. Entre as causas da trag\u00e9dia, que vitimou\u00a0146 pessoas – 125 mulheres e 21 homens – estavam as p\u00e9ssimas instala\u00e7\u00f5es el\u00e9tricas do local, a grande quantidade de tecido (altamente inflam\u00e1vel), bem como o fato de as portas da f\u00e1brica estarem trancadas no momento do acidente. Conta-se que esta era uma estrat\u00e9gia que alguns propriet\u00e1rios de f\u00e1bricas utilizavam para conter motins e greves durante o expediente. Este foi o pior inc\u00eandio<\/a> da hist\u00f3ria de Nova York at\u00e9 o 11 de setembro e passou a ser considerado simb\u00f3lico para o movimento das mulheres.<\/p>\n Esquecimento e retomada\u00a0\u00a0<\/strong>Apesar de ter sido lembrado nas duas primeiras d\u00e9cadas do s\u00e9culo XX, o Dia da Mulher acabou caindo no esquecimento no mundo ocidental<\/a>\u00a0nas d\u00e9cadas seguintes (no bloco socialista, continuou sendo celebrado). As lutas por direitos, em contrapartida, n\u00e3o cessaram. No Brasil, o voto feminino passou a ser garantido em 1932 e, no ano seguinte, foi eleita Carlota Pereira de Queir\u00f3z, a primeira deputada federal<\/a> brasileira. O Dia da Mulher foi retomado pela “segunda onda do feminismo”, na d\u00e9cada de 1960. Foi somente em 1975 que o 8 de mar\u00e7o foi adotado oficialmente pelas Na\u00e7\u00f5es Unidas como o Dia Internacional da Mulher. \u00a0O objetivo<\/a>\u00a0da data, segundo a institui\u00e7\u00e3o, \u00e9 \u201clembrar as conquistas sociais, pol\u00edticas e econ\u00f4micas das mulheres, independente de divis\u00f5es nacionais, \u00e9tnicas, lingu\u00edsticas, culturais, econ\u00f4micas ou pol\u00edticas\u201d.<\/p>\n E hoje?\u00a0<\/strong>Apesar de alguns avan\u00e7os do movimento ao longo do s\u00e9culo XX, as mulheres ainda t\u00eam muito a conquistar. \u00c9 importante perceber, por exemplo, que as lutas feministas que descrevi aqui refletem, majoritariamente, um movimento de mulheres brancas. As lutas pelo sufr\u00e1gio universal, no come\u00e7o do s\u00e9culo XX, se juntaram, em alguns momentos, com movimentos negros, mas n\u00e3o foram poucas as vezes em que a concess\u00e3o do voto ou de outros direitos a pessoas negras foi questionada dentro do pr\u00f3prio movimento feminista. O problema \u00e9 que as coisas n\u00e3o mudaram muito daquela \u00e9poca at\u00e9 os dias de hoje. Esse feminismo que temos presenciado principalmente na internet e nas m\u00eddias sociais – a chamada “quarta onda do feminismo” ainda \u00e9 primordialmente branco e de classe m\u00e9dia – n\u00e3o \u00e0 toa, o meu perfil.\u00a0Exemplo disso \u00e9 que quando falamos de igualdade salarial entre homens e mulheres no Brasil, de que mulheres exatamente estamos falando? Segundo dados do IPEA<\/a>, as mulheres, em m\u00e9dia<\/em>,\u00a0ganham somente 70% do sal\u00e1rio de homens nas mesmas fun\u00e7\u00f5es. Por\u00e9m, se desmembrarmos esses dados, veremos que as mulheres negras ganham apenas 40% do sal\u00e1rio de homens brancos na mesma fun\u00e7\u00e3o, ou seja, menos da metade!\u00a0A viol\u00eancia dom\u00e9stica tamb\u00e9m afeta as mulheres brancas e negras de formas diferentes. As mortes de mulheres brancas, entre 2007 e 2017, tiveram um decr\u00e9scimo de 5,6% (segundo o Atlas da Viol\u00eancia 2017<\/a>). J\u00e1 o n\u00famero de homic\u00eddios de mulheres negras aumentou 47% no mesmo per\u00edodo. Se ser mulher branca e rica j\u00e1 \u00e9 dif\u00edcil no Brasil, imagina ser negra e pobre… Ent\u00e3o quando falamos em feminismo hoje em dia, n\u00e3o podemos deixar de fora as demandas das mulheres negras, que correspondem a 25% da popula\u00e7\u00e3o brasileira. Apesar do objetivo da ONU em rela\u00e7\u00e3o ao Dia da Mulher ser excelente em teoria, o fato \u00e9 que os direitos das mulheres ainda\u00a0dependem<\/em> – e muito – de sua classe, ra\u00e7a e localiza\u00e7\u00e3o geogr\u00e1fica (o que a fil\u00f3sofa americana Angela Davis chamou de interseccionalidade).\u00a0E nem come\u00e7amos a falar de outros recortes, como idade, peso, orienta\u00e7\u00e3o sexual ou defici\u00eancia f\u00edsica.<\/p>\n Por conta de tudo isso, quando percebemos o qu\u00e3o \u201cfestivo” e comercial o Dia da Mulher se tornou, \u00e9 poss\u00edvel falar em uma esp\u00e9cie de esvaziamento – ou esquecimento – do sentido original da data. N\u00e3o adianta nos violentarem o ano inteiro e nos darem rosas no dia 8 de mar\u00e7o (vide a tirinha que ilustra esse texto). Quando nos presenteiam por “sermos mulheres\u201d – como se fosse poss\u00edvel escolher outra coisa – fica clara a import\u00e2ncia da data.<\/p>\n * Esse texto foi publicado originalmente no dia 6 de mar\u00e7o de 2018. Veja outras reflex\u00f5es sobre o Dia da Mulher aqui<\/a>, aqui,<\/a> e aqui.<\/a><\/p>\n\n\n <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Esta \u00e9 a semana do famoso Dia Internacional da Mulher. Mas por que existe essa data? A partir de quando passou a ser lembrada? Tem sentido celebrar esse dia atualmente? Ao longo do tempo, foram v\u00e1rias idas e vindas at\u00e9 que o 8 de mar\u00e7o se consolidasse no calend\u00e1rio mundial. 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