http:\/\/falafrida.com.br\/wp-content\/uploads\/2017\/09\/trecho_entrevista-2.m4a<\/a><\/audio>\n[pausa] …vou tentar n\u00e3o ser muito clich\u00ea, mas eu acho que \u00e9 um oficio… \u00e9 alguma coisa que me define<\/em>, \u00e9 alguma coisa que diz que eu sou eu e eu n\u00e3o sou mais ningu\u00e9m… ent\u00e3o \u00e9 um oficio que me coloca como uma pessoa \u00fanica… que \u00e9 uma coisa que \u00e9 s\u00f3 minha… eu sou essa, eu sou essa pinta, eu sou essa que pinta essas coisas, desse jeito… e ent\u00e3o eu n\u00e3o sou igual a mais ningu\u00e9m e isso… [pausa e l\u00e1grimas] \u00e9 a coisa mais importante… porque n\u00e3o tem nada pior do que as pessoas serem todas iguais… e eu acho que um dos problemas do mundo \u00e9 que as pessoas querem ser iguais umas \u00e0s outras e acho que voc\u00ea tem que primeiro… voc\u00ea s\u00f3 consegue respeitar o outro quando voc\u00ea respeita a si mesmo e a sua individualidade, s\u00f3 que pra voc\u00ea respeitar a sua individualidade voc\u00ea tem que se conhecer… s\u00f3 que se conhecer \u00e9 um processo muito complicado, muito dif\u00edcil no mundo de hoje porque n\u00e3o tem espa\u00e7o pra isso, isso n\u00e3o \u00e9 importante. N\u00e3o existe lugar pra isso no mundo de hoje. A \u00fanica coisa que tem valor \u00e9 voc\u00ea seguir os grandes padr\u00f5es e os grandes discursos e as grandes tend\u00eancias…n\u00e3o tem lugar pra individualidade e talvez eu tenha escondido tanto a minha individualidade que ela… e pintar foi um come\u00e7o pra isso aparecer, pra isso vir…<\/p>\n| Ser\u00e1 que ent\u00e3o a arte tem alguma fun\u00e7\u00e3o? |\u00a0<\/strong><\/p>\nSim! Ali\u00e1s eu acho que n\u00e3o tem individualidade sem arte! Eu acho que um dos grandes… uma das maiores li\u00e7\u00f5es que a gente pode ensinar para as crian\u00e7as \u00e9 ouvir o seu lado art\u00edstico… porque eu entendo arte como individualidade, ouvir essa criatividade, essa arte em si e n\u00e3o mat\u00e1-la… encontrar meios e canais de express\u00e3o e tentar fazer com que aquilo n\u00e3o morra nunca… porque eu acho que a gente come\u00e7a a matar… a gente se mata aos pouquinhos quando a gente mata a nossa curiosidade, a nossa unicidade, sabe? Porque acho que todos temos… todos somos artistas, s\u00f3 que a gente vai aos pouquinhos matando esse artista e eu acho que a arte tem sim uma fun\u00e7\u00e3o, n\u00e3o no sentido que se entende hoje por fun\u00e7\u00e3o, mas como o \u00fanico meio de ser feliz… \u00e9 por a\u00ed, n\u00e3o tem outro meio…<\/p>\n
| E o sil\u00eancio, o que \u00e9 pra voc\u00ea? |<\/strong><\/p>\n… eu me emociono muito com os sons ao meu redor e ent\u00e3o o sil\u00eancio pra mim \u00e9 muito precioso… mas n\u00e3o que eu consiga… eu n\u00e3o consigo ficar quieta na minha mente, nunca, ent\u00e3o acho que por isso o sil\u00eancio \u00e9 t\u00e3o importante. Porque os sons me confundem um pouco ent\u00e3o eu gosto muito do sil\u00eancio pra poder pensar. Ao mesmo tempo meditar \u00e9 uma coisa muito dif\u00edcil pra mim, muito dif\u00edcil, porque eu estou sempre pensando muito, meu trabalho \u00e9 muito mental, eu sou muito mental, eu posso ficar horas no sof\u00e1 s\u00f3 pensando, horas, e eu tenho a sensa\u00e7\u00e3o de que eu fico o dia inteiro fazendo isso. Ent\u00e3o os sons me incomodam \u00e0s vezes, me atrapalham, e por isso eu gosto de mergulhar ou de nadar porque eu escuto muito menos do mundo. Mas o sil\u00eancio \u00e9 fundamental, o desafio \u00e9 o silencio mental [risos]… \u00e9 uma eterna busca! Eu n\u00e3o sei muito bem o que \u00e9 isso e como seria o sil\u00eancio mental…<\/p>\n
| O que te d\u00e1 medo? |<\/strong><\/p>\n… tudo! Muita coisa. Acho que o medo me acompanha desde sempre. Eu acho que toda vez que eu tentei escrever alguma coisa sobre mim, medo \u00e9 uma palavra que eu uso. Hoje eu consigo ver que n\u00e3o sou s\u00f3 eu. Eu achava que era s\u00f3 eu. Mas eu acho que s\u00e3o todas as mulheres, todas as mulheres t\u00eam medo porque a gente vive numa sociedade machista e a gente foi educada de uma certa maneira e a gente tem medo, medo de falar, medo de se expor, medo da viol\u00eancia, medo… medo do sofrimento dos outros. Eu acho que a mulher ela \u00e9 muito solid\u00e1ria e eu acho que essa solidariedade traz medo tamb\u00e9m porque a gente sente responsabilidade e culpa pelo mundo e pelos outros. Ent\u00e3o medo \u00e9 uma coisa que vem sempre, que est\u00e1 sempre junto, n\u00e3o s\u00f3 nesta quest\u00e3o da solidariedade mas tamb\u00e9m na coisa da coragem, de n\u00e3o ter coragem. Eu acho que muito por ser mulher…engra\u00e7ado que a minha falta de coragem eu sempre li, e hoje eu sei que n\u00e3o era eu, mas a sociedade que coloca de certa maneira… que a minha falta de coragem \u00e9 medo e \u00e0s vezes ela era at\u00e9 um pouco entendida como pregui\u00e7a… n\u00e3o, eu n\u00e3o fa\u00e7o porque eu tenho pregui\u00e7a!… e n\u00e3o era pregui\u00e7a, era medo. Ah, voc\u00ea \u00e9 medrosa! N\u00e3o! Me tornaram medrosa, n\u00e3o tem muito espa\u00e7o pra n\u00e3o ser medrosa, n\u00e3o me deram coragem, sabe? Ent\u00e3o d\u00e1 medo… d\u00e1 medo de muita coisa, infelizmente… mas eu tenho lutado muito contra o medo e tenho lutado muito pra ter coragem.<\/p>\n
| E a saudade, faz algum sentido? |<\/strong><\/p>\nEu acho que a saudade [l\u00e1grimas]… ela n\u00e3o \u00e9 muito permitida tamb\u00e9m… eu acho que as pessoas n\u00e3o d\u00e3o muito espa\u00e7o para a saudade tamb\u00e9m, eu acho que voc\u00ea tem que estar sempre pronto para o pr\u00f3ximo dia, para as pr\u00f3ximas coisas ou para os pr\u00f3ximos passos e a saudade n\u00e3o tem muito espa\u00e7o, mas a saudade tamb\u00e9m \u00e9 uma das coisas que mais te define… porque o que \u00e9 a saudade n\u00e9? S\u00e3o as coisas que te fazem falta do que voc\u00ea j\u00e1 viveu, ou seja, daquilo que voc\u00ea \u00e9, da tua hist\u00f3ria, ent\u00e3o ela \u00e9 extremamente importante e ao mesmo tempo extremamente escanteada… porque a saudade nada mais \u00e9 do que aquilo que voc\u00ea \u00e9! Ent\u00e3o a gente precisa cultivar a saudade, a gente precisa abrir um espa\u00e7o pra ela… eu acho que ela tem tanta import\u00e2ncia quanto a tua hist\u00f3ria, a tua individualidade, a tua unicidade e a tua arte, sabe? Eu acho que ela \u00e9 um dos fios condutores para a felicidade… eu acho…<\/p>\n
\u00a0|\u00a0E como \u00e9 que \u00e9 estar no teu corpo? |<\/strong><\/p>\nEnt\u00e3o, a quest\u00e3o do corpo foi mais um resgate que eu consegui fazer. Eu tenho 35 anos e eu acho que esses 35 anos… esse \u00faltimo ano talvez tenha sido o ano mais importante da minha vida e foi o ano que pela primeira vez eu fiz as pazes com o meu corpo. Sempre houve, sempre senti uma press\u00e3o por um corpo magro e firme… mas sempre foi f\u00e1cil estar no meu corpo, eu sempre fui magra, eu sempre fui bonita e branca, ent\u00e3o sempre foi f\u00e1cil, nunca foi dif\u00edcil. Ser mulher tamb\u00e9m… s\u00f3 que ser mulher traz um monte de coisas… eu sempre exigi, eu sempre quis ter um corpo melhor… nessa sociedade toda mulher tem que querer um corpo melhor n\u00e9? Mais magro, mais firme, mais… n\u00e9? Mas esse ano eu virei vegana ent\u00e3o eu entendo que o mais importante do meu corpo \u00e9 ele ter sa\u00fade… porque esse ano o corpo tamb\u00e9m adquiriu um lugar na minha vida, ent\u00e3o eu estou me sentindo muito mais saud\u00e1vel e com muita energia e eu acho que tem a ver com a coisa de eu ter virado vegana… ent\u00e3o eu aceitei meu corpo, sabe? Eu estou aceitando… melhor do que sempre e tamb\u00e9m porque eu entendi que isso n\u00e3o \u00e9 uma coisa t\u00e3o importante, mesmo envelhecendo… acho que o meu corpo de 35 anos fala sobre quem eu sou e isso \u00e9 mais importante do que qualquer outra coisa, quem eu sou \u00e9 mais importante do que quem eu pare\u00e7o que eu sou… eu finalmente entendi isso, ent\u00e3o eu aceitei o meu corpo, n\u00e3o \u00e9 dif\u00edcil aceitar o meu corpo como eu falei, porque eu sou magra, branca e bonita… ent\u00e3o n\u00e3o \u00e9 dif\u00edcil aceitar o meu corpo, mas mesmo assim as quest\u00f5es que eu tinha e que eram muitas eu consegui… estou conseguindo lidar muito melhor com elas…<\/p>\n
| E o que \u00e9 ser mulher? |<\/strong><\/p>\n[Suspiro e pausa]… \u00e9 dif\u00edcil essa pergunta porque eu acho que todo mundo devia ser igual, n\u00e3o devia ter mulher e homem, ent\u00e3o a minha resposta do que \u00e9 ser mulher vai ser uma resposta do que \u00e9 ser mulher hoje nesse mundo… \u00e9 uma oportunidade… eu acho que \u00e9 uma oportunidade porque a gente tem a chave para mudar as coisas. Eu acho que as coisas t\u00eam que mudar muito e eu acho que o fato da gente crescer tendo uma solidariedade feminina, um olhar pelo outro mais afinado pelo outro do que o que se d\u00e1 para os homens, uma amizade mesmo entre mulheres… e a coisa tamb\u00e9m de ser m\u00e3e e voc\u00ea ser obrigada a se colocar no lugar do outro… \u00e9 esse o lugar que a gente cresce e que educam a gente… mas eu acho que esse lugar deveria ser dado para todas as pessoas igualmente, se \u00e9 homem ou se \u00e9 mulher. Mas n\u00f3s fomos criadas e educadas nesse lugar, de prestar aten\u00e7\u00e3o no outro, de prestar mais aten\u00e7\u00e3o no outro, de se solidarizar mais, de cuidar do outro… e j\u00e1 que a gente tem isso e a gente foi educada assim, isso \u00e9 uma coisa incr\u00edvel e a gente precisa ensinar isso pra todo mundo… ent\u00e3o \u00e9 uma oportunidade nesse sentido, de mostrar para o mundo que a gente pode fazer as coisas de outro jeito e que n\u00e3o \u00e9 ok exercer poder sobre o outro e querer ser melhor do que o outro e explorar o outro e… n\u00e3o \u00e9 ok! Eu acho que a gente tem muito mais condi\u00e7\u00f5es, eu acho que a mulher, por conta de toda essa educa\u00e7\u00e3o e do mundo como ele \u00e9… a gente tem mais chances… a gente tem o dever de mostrar isso para o mundo, de ensinar isso para o mundo, de que outras maneiras s\u00e3o poss\u00edveis. Ent\u00e3o eu acho que a gente tem uma chave na m\u00e3o que a gente precisa usar, a gente precisa colocar… acho que \u00e9 isso…<\/p>\n
| Ontem Carolina sonhava em sil\u00eancio.\u00a0Hoje pinta por amor a si mesma.<\/p>\n
Porque aprendeu que salvar o mundo tem a ver com se amar antes de tudo |<\/p>\n
| Carolina Paul Leit\u00e3o entrevistada por Bianca Spohr |<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
Ontem Carolina sonhava em sil\u00eancio.\u00a0Hoje pinta por amor a si mesma. Porque aprendeu que salvar o mundo tem a ver com se amar antes de tudo | Por que voc\u00ea pinta? | …eu sempre quis pintar… sempre foi um desejo escondido, sabe? Ao mesmo tempo eu nunca tinha entendido como uma coisa poss\u00edvel, eu sempre […]<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":6475,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"elementor_canvas","format":"standard","meta":[],"categories":[204],"tags":[63,87,83,88,85],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2223"}],"collection":[{"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=2223"}],"version-history":[{"count":26,"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2223\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":6476,"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2223\/revisions\/6476"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media\/6475"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=2223"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=2223"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/falafrida.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=2223"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}