Pesquisas recentes mostram que, mais ou menos, 70% (setenta por cento) das pessoas est\u00e3o insatisfeitas com o trabalho. Pra mim \u00e9 um n\u00famero assustador de gente gastando mais da metade do seu dia com \u00a0algo de que n\u00e3o gosta. Conhe\u00e7o um monte de gente que ama o que faz, mas talvez esteja dentro desse percentual, porque o problema n\u00e3o \u00e9 o que faz, mas como faz, ou aonde faz.<\/p>\n

J\u00e1 estive convencida de que n\u00e3o precisamos amar o trabalho.<\/p>\n

Ningu\u00e9m trabalha por hobby! O babado \u00e9 pra pagar as contas, vamos deixar de frescura!<\/p>\n

Tamb\u00e9m j\u00e1 questionei esses \u201cdogmas\u201d.<\/p>\n

Como assim ficar mais de trinta anos fazendo algo em que n\u00e3o acredita, em que n\u00e3o se reconhece por causa do dinheiro?<\/p>\n

Lembro de ter feito um curso de costura h\u00e1 uns doze anos e ter ficado maravilhada com o tempo entre os tecidos, minhas colegas eram todas mais velhas e ficaram horrorizadas de me ver entre elas. Aposentadas, estavam numa fase da vida em que se davam o luxo de fazer o que lhes dava prazer, ou talvez estivessem ocupando o tempo que, \u00e0quela altura, lhes sobrava, me olhavam torto. Quando confessei que, talvez, quisesse uma vida diferente, prontamente me desestimularam.<\/p>\n

T\u00e1 maluca!\u00a0 Essa \u00e9 a fase de construir a vida, de fazer sacrif\u00edcios, fazer o que se gosta \u00e9 pra aposentados.<\/p>\n

L\u00f3gico! Sou eu que penso demais.<\/p>\n

Lembro, tamb\u00e9m, de quando, j\u00e1 com uns dez anos de advocacia, comecei a trabalhar com colegas muito mais novos. Era um pessoal que \u201cn\u00e3o parava no emprego\u201d. Trabalhavam um tempo e iam embora. <\/i>Queriam mais dinheiro, mais desafios, mais perspectivas de crescimento e eu comecei a achar essa gera\u00e7\u00e3o muito diferente.<\/p>\n

Que gente inst\u00e1vel! Precisam de est\u00edmulo o tempo inteiro, qualquer coisa j\u00e1 querem mudar! N\u00e3o \u00e9 assim que as coisas funcionam.<\/p>\n

Acho que a minha gera\u00e7\u00e3o ficou espremida entre essas duas, nem t\u00e3o dispostos a esperar pela aposentadoria e nem t\u00e3o r\u00e1pidos pra partir pra pr\u00f3xima, com raras e honrosas exce\u00e7\u00f5es.<\/p>\n

Por isso mudar e procurar um trabalho que me fa\u00e7a feliz j\u00e1 \u00e9 uma decis\u00e3o dif\u00edcil.<\/p>\n

\u00c9 negar tudo que me ensinaram sobre ter uma vida est\u00e1vel, ser respons\u00e1vel e trabalhar duro porque a vida n\u00e3o \u00e9 feita s\u00f3 de coisas boas. \u00c9 aderir a um comportamento que parece imaturo e superficial.<\/p>\n

Por outro lado \u00e9 um voto de confian\u00e7a na vida, que vai al\u00e9m de um desejo de felicidade moment\u00e2nea, porque \u00e9 uma cren\u00e7a no futuro, uma confian\u00e7a na pr\u00f3pria capacidade de seguir em frente, de encontrar uma maneira de ganhar dinheiro, obter reconhecimento e encontrar satisfa\u00e7\u00e3o que \u00e9, exatamente, o que d\u00e1 sentido ao trabalho.<\/p>\n

Mesmo com essa perspectiva, n\u00e3o \u00e9 f\u00e1cil deixar de ser quem sempre se foi. Assim, embora quisesse mudar, nunca estive absolutamente certa da minha escolha. Fui advogada por quinze anos. Tive um per\u00edodo sab\u00e1tico. Fiz mestrado, achei que queria a vida acad\u00eamica, mas voltei pra advocacia. Fui e voltei! N\u00e3o conclui a viagem e, agora, estou de malas prontas mais uma vezes. Tenho medo de que aconte\u00e7a de novo.<\/p>\n

Apesar disso, tenho uma situa\u00e7\u00e3o pessoal que me obriga a refletir sobre os atalhos\u00a0que a vida d\u00e1. Meu pai era um aventureiro, uma homem cheio de planos pro futuro, que morreu aos 53 anos. Minha m\u00e3e era uma mulher com uma disposi\u00e7\u00e3o invej\u00e1vel, adorava passear e viajar, mas sofre de dem\u00eancia precoce e aos sessenta anos j\u00e1 n\u00e3o era capaz de fazer, quase nada, sem ajuda.<\/p>\n

Meus pais n\u00e3o conseguiram chegar naquele lugar onde ficam os planos pro futuro, as viagens com o dinheiro que vai sobrar quando os filhos crescerem e onde a gente vai ter tempo pra fazer o que gosta.<\/p>\n

Sem dramas! Mas \u00e9 imposs\u00edvel ignorar o fato de que a gente n\u00e3o controla nada, a vida vai pra onde tem que ir e, \u00e0s vezes, n\u00e3o d\u00e1 tempo de ser t\u00e3o feliz e fazer tudo o que planejou um dia.<\/p>\n

Ent\u00e3o \u00e9 isso! Eu acredito que, quando d\u00e1, a gente tem a obriga\u00e7\u00e3o de partir pra outra, de deixar as estat\u00edsticas, de correr atr\u00e1s. N\u00e3o \u00e9 escolha, \u00e9 obriga\u00e7\u00e3o! E, mesmo quando n\u00e3o d\u00e1, precisa pensar num jeito de viver a vida que sonhou, planejar essa partida, trabalhar duro por ela, ou transformar o que tem pra chegar mais perto do que quer. N\u00e3o para!<\/p>\n

Por favor, n\u00e3o para! Segue em frente! Parte pra outra!<\/p>\n

N\u00e3o \u00e9 pelos seus filhos – eles v\u00e3o crescer – pelo padr\u00e3o de vida, pelas viagens, pela poupan\u00e7a, \u00e9 por voc\u00ea! Pelo tempo precioso que voc\u00ea tem aqui, agora, entre n\u00f3s!<\/p>\n

Se, nesse exato momento, voc\u00ea t\u00e1 fazendo o que gosta, o que acredita, o que te desafia, o que te completa, o que te alegra, exatamente como eu, aqui, escrevendo esse texto, agradece a\u00ed! Manda essa energia poderosa pra humanidade!! A gente t\u00e1 precisando muito!! Desejo que essa energia se espalhe por a\u00ed e encha o seu dia de uma luz poderosa!<\/p>\n

Beijo pra voc\u00ea<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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